Capítulo 3: O Rio

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No capítulo anterior: O grupo toma o pequeno-almoço junto e quando se preparam para partir, Ezra sugere que bebam poções de proteção. Para não ficar para trás, Jinny tenta dar aos outros das suas poções também. O grupo parte e nas florestas tem de enfrentar todo o tipo de monstros.

Já mais ao final da tarde, deparam-se com um lobo, que está a tentar atacar uma mulher presa numa árvore. Conseguem afugentá-lo e a mulher revela chamar-se Niah, da raça featheren, que tem asas geralmente brancas, mas no caso de Niah, são negras. O lobo regressa, com outros e atacam, mas são vencidos. Niah acaba por se juntar ao grupo, ainda que o facto de não se abrir sobre os motivos de querer chegar às ruínas, deixe alguns dos outros apreensivos, principalmente Thormund e Jinny.

Capítulo 3: O Rio

Niah caminhava quase ao fim do grupo, atenta a tudo. Os outros tinham-se apresentado formalmente e Mathias não tivera grande problema em explicar a sua motivação para visitar as ruínas e como contratara aqueles aventureiros para o ajudarem a cumprir esse objetivo. Ele era expansivo, mas também curioso. Já contara duas histórias sobre as suas descobertas, ainda que Niah não estivesse realmente interessada. Mas ouvira, com acenos de cabeça, para não parecer mal-educada. Em relação a Lenobia, era difícil perceber muito sobre ela, pois ela ia à frente do grupo, por vezes aparecendo e reaparecendo. Ainda assim, Niah sentiu um grande respeito por ela e pela sua coragem.

Enquanto a própria Niah se movia sozinha pela floresta, sentira medo, muito medo. Havia monstros e todos os perigos pelo caminho, mas isso não a desmotivara. Seguira em frente. Claro que o lobo a apanhara de surpresa. Ainda que pudesse atingi-lo com magia de luz, o que fizera, isso apenas não era suficiente para o matar. Mas o grupo aparecera e a sorte de Niah mudara. Ainda que não os conhecesse, verdade fosse dita, era melhor fazer o caminho acompanhada do que sozinha. Tinha de confiar neles, mas talvez não em todos.

Via como Thormund e Jinny a olhavam. Era clara desconfiança, talvez antipatia. Mas não era algo que surpreendesse a featheren. Ela estava habituada a que as pessoas a tratassem assim. Bastava verem as suas asas, para ficarem surpreendias e depois apreensivas. A pergunta era sempre a mesma. Porque tinha asas negras? Porque não eram as suas penas brancas, como a dos outros featheren? Mathias, não cumprindo a sua palavra de lhe dar tempo, fizera logo essa pergunta, depois de contar as suas histórias. Niah percebeu que todos no grupo queriam saber aquilo. Pensou para si mesma que podia adiar a situação, mas no final de contas, não serviria de muito. Continuaram a mover-se pelo meio das árvores.

- Não tenho uma explicação que possa dar para este facto – respondeu ela, perante um olhar atento do arqueólogo, que quase tropeçou numa raiz e caiu ao chão. – Podem pensar que estou a mentir, a ocultar alguma história rocambolesca, mas não é verdade. A minha mãe é humana, o meu pai é featheren, com asas brancas. Tenho um irmão e uma irmã. O meu irmão tem asas brancas, a minha irmã é humana. E eu tenho asas negras, ninguém sabe porquê.

- Isso é realmente estranho – indicou Raymond. – Não há nenhum antepassado teu que tenha asas de uma cor diferente?

- Não, não há.

- Decerto que, sendo verdade essa história, deve ter causado problemas na tua família – indicou Jinny, de forma direta, como parecia ser o seu costume. – Quer dizer, se eu fosse featheren, com asas brancas e de repente me saísse uma filha com asas negras, enfim, não gostaria nada. Até poderia pensar se seria realmente minha filha...

- Estás a insinuar o quê? – perguntou Niah, subitamente muito séria. – Que a minha mãe foi infiel ao meu pai e por causa disso as minhas asas são negras?

- É uma possibilidade, não é? – questionou a jovem feiticeira, com um olhar penetrante.

- Eu nunca ouvi falar de um featheren com qualquer outra cor de asas que não branca – disse Ezra, resolvendo intervir, antes que as coisas piorassem. – E decerto que seria mais que óbvio se algum assim aparecesse e houvessem dúvidas sobre a linhagem da Niah. Não me parece que a tua ideia tenha fundamento.

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