Capítulo 16: Memórias do Rapaz

0 0 0
                                    

No capítulo anterior: Penn pede ao casal para ir viver com eles, pois a sua mãe morreu e ele foi para uma casa de acolhimento, de onde fugiu e para onde não quer voltar. Ezra confronta Hunar sobre as pessoas da aldeia estarem demasiado dependentes deles, em vez de ajudarem a lidar com os monstros. Em casa, Lukas e Ezra conversam sobre Penn.

Lukas é da opinião que deviam deixar Penn viver com eles, mas Ezra não está tão certo disso. Noutro dia, Hattie revela como estava infeliz depois de ter a sua filha, mas as coisas mudaram, apesar de mais tarde a filha ter morrido ao dar à luz Lenna.

Lukas mostra a Penn como têm acesso à lista de missões, através do espelho mágico. Penn quer acompanhá-los numa missão, mas o casal acha que ele não está preparado. Ezra indica ao namorado que devem mandar Penn de volta ao lar de acolhimento. O espírito familiar em forma de gato entra na casa deles e uma névoa levanta-se, cobrindo tudo.

Capítulo 16: Memórias do Rapaz

A névoa era tão espessa que não se via nada. Ezra hesitou sobre lançar um feitiço de vento, pois tinha receio de causar danos ou de atacar Lukas, pois nem conseguia perceber onde ele estava. Começou a falar, mas a sua voz parecia não ecoar. Pensou no gato, a entrar de rompante na casa, sem mais nem menos e a névoa levantando-se de imediato. Ao que parecia, ele não sabia tanto sobre espíritos familiares como pensava e ficou ainda mais convencido que só podia ser um espírito malvado e vingativo, a tentar criar confusão. Na névoa, sentiu uma mão a agarrar uma das suas. Reconheceria as mãos de Lukas em qualquer lugar. Apertou a mão com força e decidiu tentar usar um feitiço de vento com pouco poder. Mas mais uma vez não parecia conseguir fazer as palavras funcionar e nada aconteceu.

Aquilo não era bom sinal. Ezra não se lembrava da última vez em que se sentira tão inútil. Não conseguir lançar feitiços era algo complicado, continuava a não conseguir falar e não via nada. Lukas estava mais calmo, pois ainda que a situação fosse estranha, não era como se estivessem a ser atacados. Haveria alguma razão para aquilo estar a acontecer, ainda que ele não conseguisse determinar qual era. E então, a névoa pareceu começar a dissipar-se um pouco. Era suposto verem novamente o interior da sua casa, no entanto, não foi isso que aconteceu. À sua frente, o casal viu uma divisão pequena, com uma janela minúscula. Havia uma cama, onde estava deitado um rapazinho e sentada junto à cama estava uma mulher de cabelo castanho entrançado. Uma lanterna encontrava-se pousada no chão, proporcionando alguma luz.

- E então, o cavaleiro passou pela ponte suspensa, que balançava. Era uma ponte instável, com alguma madeira podre, mas o cavaleiro não teve medo. Seguiu em frente, com cuidado e por uma vez quase caiu, mas continuou, porque tinha de chegar ao castelo e salvar a princesa – disse a mulher, contando a história.

- E o cavaleiro teve de lutar contra monstros? – perguntou o rapazinho deitado na cama.

- Sim, depois da ponte havia uma floresta com monstros em forma de inseto. Mesmo sendo muitos, o cavaleiro conseguiu vencê-los com facilidade, porque era muito corajoso e forte.

- Um dia poderei ser um cavaleiro?

- Não sei, querido. Talvez possas, se assim quiseres – respondeu a mulher, sem saber muito bem o que responder. – Mas eu ficaria mais descansada se não te fosses colocar em perigo. Seres um agricultor, por exemplo, seria melhor.

- Mas os agricultores não lutam contra monstros – queixou-se o rapazinho.

- E isso é bom, querido – indicou a mulher, passando-lhe uma mão pelo cabelo. – Mas continuando a história, o cavaleiro atravessou a floresta, que era muito escura e finalmente avistou o castelo, ainda que bastante ao longe.

A mulher continuou a contar a história, mas então viu que o rapazinho começava a fechar as pálpebras, quase a adormecer. Ainda assim, continuou a falar, até que ele se deixou vencer pelo cansaço. A imagem dissipou-se, a névoa voltando a cobrir tudo. Ezra não percebia o que estava a passar. Porque tinham visto aquilo? Quem eram aquele rapazinho e a mulher? Ao seu lado, Lukas percebera. Reconhecera a mulher, ainda que só a tivesse visto uma vez na vida, dois anos antes. E então, a névoa voltou a dissipar-se. Daquela vez, era mais difícil ver-se. Havia barulho, guinchos que não eram humanos. Havia dois rapazinhos a um canto, tremendo de medo. Não muito longe, um monstro grande e preto movia-se pela divisão acanhada.

Crónicas de Magia e MonstrosOnde histórias criam vida. Descubra agora