Capítulo 18

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✯ANDREW WALDORF✯

— Eu quero esses rostos sorridentes! — alertou dona Elizabeth, segundos antes da porta ser aberta. 

É sempre a mesma coisa, desde que éramos crianças. Ordens atrás de ordens, já deveria estar acostumado com seu jeito rígido. E lá estávamos nós, impecáveis. Como Elizabeth mandou. Cansados depois de horas de viajem, mas com sorrisos falsos estampados no rosto. 

— Feliz aniversário, vovó — desejei, logo tentando me desfazer do seu abraço apertado. 

— Como vocês cresceram. A quanto tempo não os vejo? — perguntou, olhando para nós três enfileirados. — Deu fermento para essas crianças, Elizabeth? — tentou fazer uma piada, mas apenas mamãe e papai riram por consideração. — Entrem. Elena, Matheus e Noora já estão na sala de jantar — avisou. 

Elena e Elizabeth são irmãs. Quando mamãe estava prestes a se casar, pegou tia Elena e o noivo no flagra. Faltava menos de uma semana para o casamento, mas daí descobriu essa traição em dobro. Logo Elena pediu desculpas e disse que fez aquilo só porque Elizabeth sempre foi melhor do que ela; foi uma vingança doentia. 

Depois que meus pais começaram a namorar, Noora — a irmã mais nova de meu pai — e Elena se tornaram melhores amigas. Dividiam a mesma casa, cuidavam uma da outra, se casaram no mesmo dia e tiveram filhos na mesma época, sem contar que hoje o nome dos filhos delas combinam, como se fossem irmãos gêmeos. É bizarro..

Nossa família sempre foi muito unida, até quando Matheus — filho do padrasto da minha mãe — e papai brigaram pra ver quem iria se casar com mamãe. Ele sempre foi um idiota, e sempre tivemos que considerá-lo um tio, só por nossa avó tratá-lo como filho. 

Minha família já era estranha o suficiente, e depois que comecei a me sentir atraído pela minha irmã; tudo ficou ainda pior. Ser louco já está no sangue, com certeza.

— Crianças, que saudades! — Elena abraçou Aylla e Agnes, logo depois me abraçou. As duas com dezoito e eu com dezenove, mesmo assim todos insistem em nós chamar de criança. Um dos motivos pelo qual eu passei a odiar confraternização em família.

Alec e Alex nós cumprimentaram com sorrisos amarelos e logo voltaram a conversar. Ambos tem 17 anos e provavelmente são vizinhos. Faz tempo que não os vejo, não vejo ninguém da minha família. 

Alec é reservado, não fala muito, apenas responde o que os outros perguntam. Tem os cabelos ruivos, um pouco compridos e encaracolados, mas não chegam a ser grandes. Ele é extremamente quieto, enquanto Alexandra fala por horas, sem ficar quieta por um mísero segundo. Ela é linda. Tem pele escura, cabelos escorridos e lábios preenchidos. Parece ser uma mulher, não uma adolescente. 

Desviei os olhos para minha mãe, que  conversava animadamente com Elena, vovó e tia Noora. Já nosso pai conversava com o irmão postiço da minha mãe e o marido da minha avó, podemos dizer que ele é nosso avô. Mas não seria verdade, pois é só alguém que entrou de penetra na família — trazendo o Matheus junto — e passou a fazer parte como se realmente sempre fosse nosso importante para nós. 

Nossos primos conversavam entre si, como sempre. Já eu, Agnes e Aylla ficamos jantando em silêncio. 

Por baixo da mesa, dei um chute leve em Agnes — que estava vidrada no loiro ao meu lado. Ela só pode estar de brincadeira! Esse cara tem literalmente idade pra ser nosso pai, e ela ainda consegue achar ele bonito. 

— Aí! Por que me chutou? — perguntou Aylla, quando dei um chute mais forte para chamar a atenção de Agnes, o que parece não ter dado certo.

Agnes parece ter caído na realidade ao ouvir o resmungar de Aylla que está sentada ao seu lado. Desviou seu olhar para mim, como se estivesse perguntando o motivo de eu ter curado Aylla. Tão burra! Ela quem está na minha frente, óbvio que o alvo era ela.

Fiquei observando os dois até terminar de comer. De vez em quando Matheus olhava para ela, e então era só eu dar uma encarada nele que seu foco voltava a ser o assunto desinteressante que falava com meu pai. Se ele encostar um dedo nela, eu juro que vou arrancar seus dentes. Já quebrei o nariz do Gonzalez por ter tentado beijar Agnes, sou capaz de fazer qualquer coisa com Matheus caso ponha em prática os pensamentos sujos que deve estar tendo com ela. 

— Aylla e Agnes, podem mostrar a educação que lhes dei e começar a lavar a louça — ordenou minha mãe, com um sorriso de orelha a orelha; sabendo que elas não vão reclamar.

— Deixa que eu ajudo a Agnes — falei, levantando e já juntando os pratos. 

— Viu como ele é um cavalheiro — sorriu minha mãe enquanto se gabava da minha educação para vovó e tia Elena. — Sempre ajudando em casa e cuidando das irmãs. 

Não entendo essa necessidade dela mostrar que é uma mãe perfeita. Que somos a família perfeita. É tudo uma farsa, mas apenas nós cinco sabemos disso. Se ela prestasse uma pouco de atenção nos filhos, saberia que Aylla tem depressão e é bissexual, saberia que desde que eu tinha 16 pra 17 comecei a dobrar minha proteção por Agnes; então ligaria os pontos e descobriria o real motivo. Saberia também que Agnes é quem faz com que eu ande nos trilhos, que ela já está exausta dessa família, casa e vida. Mas infelizmente nem Blake e nem Elizabeth se importam o suficiente para perceber o quanto nossa família é cheia de defeitos e falhas.

— O que foi? — perguntou Agnes em tom baixo. Largando os pratos na pia para que eu lavasse. — Sem é eu e Aylla que fazemos tudo. Não acredito que agora você quer bancar o bom moço.

— Só quis sair um pouco de lá. Eles são... Sufocantes — comentei, lavando os pratos e alcançando para que ela fosse secando. 

Não era bem verdade o que falei. Mas também não é uma mentira, estava quase enlouquecendo perto daquelas pessoas. Entretanto, eu só queria tirar Agnes de perto de Matheus. Aquele cara consegue me irritar pelo simples fato de existir. Odeio o jeito que ele olha pra ela, é notável a malícia. 

— Sabe que o Matheus é como se fosse nosso tio, não sabe? — Não consegui controlar minha língua e deixei que saísse as palavras.

— Esse é o problema? O Matheus? Quanta infantilidade, Waldorf — resmungou, jogando o pano de prato em minhas mãos.

Antes que ela saísse da cozinha, puxei seu pulso e colei nossos corpos. Não posso... Não deveria estar tão próximo assim de Agnês novamente. Perco o controle quando estou com ela, e detesto isso em mim. 

— Adoro quando me chama de Waldorf — sussurrei, aproximando meus lábios do seu ouvido. — Como se não tivéssemos o mesmo sobrenome. — Mordi com leveza o lóbulo de sua orelha. 

— Estão todos na sala ao lado, Andrew — lembrou, enfiando suas mãos em meus cabelos; puxando com delicadeza.

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