Apenas Irmãos

Capítulo 19

✯AGNES WALDORF✯

Suspiro, sentindo seu corpo junto ao meu; sem deixar espaços. Não posso, não podemos, mas é mais forte do que qualquer coisa que eu já tenha sentido. Andrew é a minha metade, amém ele estou perdida; sem rumo. Por isso não posso deixar que nós mesmos coloquemos um fim no único fio de amor fraternal que nos restou.

Seus fios castanhos estão entre meus dedos, posso sentir seu hálito quente roçar sobre meus lábios. Sei que Andrew está esperando eu dar o segundo passo, e beijá-lo de uma vez por todas. Mas simplesmente não podemos; isso é errado! 

— Por favor, de novo não — implorei em um sussurro. 

—Por quê? — Me encostou na bancada, sem se afastar um centímetro.

— Sabe que ela é sua prima, não sabe? — troquei de assunto, usando suas antigas palavras.

Seus olhos se abriram lentamente, à medida em que ele foi se afastando e recobrando o controle de sua respiração.

— O que Alex tem a ver com nós dois? — perguntou impaciente, se apoiando na mesa de mármore logo a minha frente.

— Existe um nós? — Arqueei as sobrancelhas, deixando à vista toda a confusão que suas palavras me causou.

Andrew apenas revirou os olhos e jogou o pano de prato em mim.

— Termina de secar essa louça. — Deu as costas e se preparou para sair da cozinha.

— Não manda em mim, Waldorf — falei, passando a língua nos lábios para umedecê-los. Provocar Andrew é mais forte do que eu, é espontâneo. — Aliás, Matheus não tem o nosso sangue. Mas Alex sim — lembrei, tratando de tirar o grande sorriso do rosto quando ele se virou para mim novamente. 

Não sei dizer o que existe na imensidão de seu olhar. Mas amo isso, o jeito dele, como se fosse um quebra-cabeça que eu não poderia resolver nem se tentasse. Não sei se está bravo ou indiferente, certamente a primeira opção. Mesmo o conhecendo mais do que qualquer pessoa, sei que Andrew é totalmente imprevisível.

Seus passos lentos na minha direção me fizeram dar passos para trás, até encostar novamente no balcão da pia. Seu corpo está inclinado na minha direção, e seu olhar sério cravado em mim. 

Engolo em seco, sentindo sua respiração perto demais para que eu pense em alguma coisa. Continuo de cabeça erguida, olhando diretamente em seus olhos.

— Você mais do que ninguém deveria saber que ter o mesmo sangue não impede duas pessoas de fazer o que tanto almejam. — Passou com delicadeza o polegar sobre meus lábios, olhando descaradamente para eles.

— Agnes? — A voz de Aylla fez meu corpo gelar na mesma hora. 

— Já saiu, era só um cílio mesmo — resmungou Andrew indiferente, passando por Aylla e saindo da cozinha. 

Enquanto ainda estou com a respiração trancada, desejando que ela não tenha visto nada e nem escutado o que ele falou antes dela entrar. E se eu tivesse me entregado a ele naquele mesmo segundo, bem aqui na cozinha? Ela veria alguma coisa? É claro que sim! Normalmente sempre me arrependo de manter distância de Andrew, mas dessa vez, acabei salvando nós dois com o último resquício de sanidade que me restou.

— Ela parece irritado, o que aconteceu? — perguntou abrindo a geladeira e colocando uma torta em minhas mãos, enquanto pegava outro doce para a sobremesa.

— Você sabe — desviei os olhos. Não consigo mentir pra ela. — A mesma coisa de sempre.

— Elizabeth e Blake de novo? — questionou, suspirando pesadamente.

— É bom saber que não sou a única que está farta deles. — Abriu um sorriso falso e logo se retirou, me puxando junto a ela. 

Me sinto uma idiota mentirosa. Não gosto de esconder nada dela, até porque Aylla sempre descobre sem que eu ao menos perceba. Ela parece ler meus pensamentos, sempre sabe quando há algo errado; e dessa vez tem algo muito mais do que errado. Ela escondeu de mim que era lésbica, então tenho o direito de esconder que tenho vontade de transar com o nosso irmão desde que tinha dezesseis anos. Só que isso é bem mais incomum do que gostar de uma pessoa do mesmo sexo.

Sentei-me à mesa e mal toquei na sobremesa. Não quero de jeito nenhum olhar para Andrew, sei que seus olhos estão em mim. Também não quero olhar para Matheus, já deixaria bem claro que eu ainda acho ele um pedaço de mau caminho. Afinal, ele não tem meu sangue; ficar com Matheus seria melhor do que admitir que desejo Andrew e isso é recíproco.

—... Agnes está pensando em estudar em um colégio interno — foram as palavras que ouvi da conversa. Logo levantei o rosto e encarei Elizabeth, ela não pode estar mesmo falando sério. 

— Não, ela não está pensando em estudar em um colégio interno, mamãe — interveio Aylla, antes que eu pudesse abrir a boca.

A conversa parecia ser apenas entre minha mãe, tia Elena e vovó Elly. Mas acabou que Elizabeth falou alto o suficiente para que pudéssemos ouvir.  Qual é o problema dela? Afinal, a culpa de ter engravidado cedo deveria ser apenas dela e de Blake! Não de nós que somos seus filhos e não pedimos.pra ela abrir as pernas na primeira oportunidade.

Esses serão os pensamentos que nunca vou falar a ela. Mas que estão entalados na minha garganta, pedindo para que eu perca o bom senso e jogue todas essas palavras em sua cara. 

— Aylla, sei que gosta de proteger sua irmã — Olhou para mim, seu olhar é intimidador, mas não tenho medo dela. —... mas Agnes precisa voltar aos eixos. Essa garota está levando você e seu irmão para o mal caminho — concluiu seu teatrinho, ainda com o olhar em mim.

Se eu falasse todas as merdas que o filhinho preferido já fez, ela não acharia que eu sou a pior de nós três. Ou talvez apenas ignorasse e continuasse fingindo que Andrew é um anjo; como sempre fez.

— Mamãe, vamos falar disso em casa. Pode ser? — questionou meu irmão, largando o talher no pequeno prato.

— Andrew, acho que vocês ainda não entenderam o porquê de entrarmos nesse assunto. — Ela olhou para Blake, que mantinha-se indiferente. Nem parecia estar ali conosco. — Seu pai e eu queremos que Agnes passe um tempo aqui, cuidando da sua avó Elly e se adaptando ao lugar. 

Engasguei com suas palavras. 

Ela só pode ter enlouquecido de vez!