Capítulo 20

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✯ANDREW WALDORF✯

Se Elizabeth acha mesmo que Agnes vai estudar em um colégio interno, ela está bem enganada. E também ela não vai ficar aqui para cuidar da vovó Elly. Não vou deixar minha irmã morar em um lugar infeliz só por capricho da nossa mãe. Nossa vó não é tão velha, e mesmo se fosse, ela ainda tem o marido e o filho de consideração. Não precisa de Agnes pra exatamente nada.

— O que? Eu não posso ficar aqui! Mãe eu tenho uma vida! —Agnes levantou-se irritada. 

— Eu sei, querida. Entretanto, um pouco de disciplina lhe cairiam bem — falou, levando a taça de vinho até os lábios. Ela pode não ser o Blake, mas consegue ser tão indiferente quanto ele. 

— Eu. Não. Quero. Morar. Aqui! — falou, pausadamente. Com os punhos cerrados, seu peito subindo e descendo de raiva.

— Certo, então o colégio interno. Ou é um, ou é outro, Agnes. — Minha mãe encarou ela, como se estivesse se divertindo com a situação. 

Não há nada que eu possa fazer para mudar os pensamentos dela. Quando Elizabeth decide alguma coisa, ela faz isso acontecer. E dessa vez não será diferente. Por algum motivo, Agnes parece ferir seu ego. Por isso não faz questão de deixá-la em paz um minuto se quer.

Isso seria inveja? Ela ainda não aceitou que já não é uma adolescente? Não aceita que Agnes é infinitivamente melhor do que ela mesmo tendo apenas dezoito anos? Ou ela sabe? Sabe das coisas que fizemos e do que sentimos um pelo outro? 

— Tem exatamente um mês para ser uma pessoa diferente da Agnês que conhecemos. Se não mudar até lá, vai vir morar com sua avó, e sem negociação — disse Blake em tom grave, sem levantar os olhos para Agnes.

— Ótimo! Só se eu trocar de lugar com a Aylla. Vocês não saberiam diferenciar mesmo — resmungou com ironia, se afastando da mesa e logo batendo a porta que da acesso ao jardim.

— Com licença — pedi, levantando do meu lugar e jogando o guardanapo na mesa. Saindo a passos rápidos, sem ouvir o que minha mãe tem pra dizer. 

Podemos estar em um momento delicado, mas sempre vou colocá-la no pedestal. Sempre foi assim, desde que éramos crianças. Quando qualquer coisa ruim acontecia, quando Elizabeth brigava com ela e jogava em sua cara que não seria nada na vida; eu estava lá. Nem que fosse para olhar filmes idiotas que terminam com finais felizes. 

Meu mundo girava em torno dela no momento em que Agnês ficava triste ou se machucava. Prometi sempre a proteger, e mesmo agora que sei parcialmente dos meus desejos por ela; só sinto mais vontade ainda de protegê-la. De deixar ela deitar em meu peito e desabar a chorar, como fazia antes. Logo dormia, e no dia seguinte nem lembrava o motivo por estar chorando.

Me aproximei dos pequenos balanços perto do lago. Agnes está sentada em um deles, com o olhar perdido na noite. 

— Esse aí é o meu — resmunguei, sentando no balanço ao seu lado. 

Ela deu um sobressalto e me olhou com o canto dos olhos. Voltando seu olhar para o lago mais a frente. 

— Por que deixou Aylla se afogar aquela vez? — Sua voz soou baixa e falhada, sei que estava chorando. 

— Eu tinha 13 anos, e não conseguiria salvar vocês duas.

Isso não justificava. Mas era a verdade. Quando pensei que poderia perder Agnes, simplesmente não pensei em nada. Apenas pulei no lago e a tirei de lá o mais rápido possível. Depois mamãe chegou e resgatou Aylla; vendo que se tivesse demorado mais alguns segundos ela estaria morta.

— Ficamos dois anos de castigo — disse, com um meio sorriso. — Acha que é por isso que nunca mais viemos aqui? 

— Provavelmente. — Olhei para os três balanços e depois para o lago. Brincávamos aqui quando éramos crianças. Esse era o nosso lugarzinho. Os balanços foram colocados aqui a nosso pedido. E de uma hora para outra paramos de visitar nossa avó. 

— Costumávamos ter tudo, e então crescemos e só tivemos um ao outro. — Sua voz um tanto melancólica fez meu coração se apertar. Odeio vê-la assim, tão vulnerável; triste.

— Não é qualquer uma que tem um irmão perfeito desses — brinquei, vendo que seus lábios se curvaram em um sorriso.

— Eu não sou qualquer uma. — Limpou as lágrimas, levantando seu rosto para me olhar. 

— Eu sei que não é qualquer uma, gracinha — falei, vendo Agnes revirar os olhos e voltar seu olhar para o lago. 

Ela é linda de todos os jeitos, mas quando seu olhar está perdido e seu rosto sendo iluminado pela lua; fica de tirar o fôlego.

— E se ela me obrigar a ficar...

— Eu não vou deixar — avisei, interrompendo sua fala. — Eu sou o preferido, lembra? — continuei com meu olhar firme em Agnes.

Já deixei mais do que claro minhas intenções, mas Agnes tem o dom de me ignorar e me tirar do sério. Faria qualquer coisa para que ela percebesse que precisa de mim tanto quanto eu preciso dela. Perceber que não importa o que sentimos um pelo outro, nosso amor fraternal vai prevalecer. Não é? Afinal, fomos criados para amar e proteger um ao outro mais do que a nós mesmos. Criados para ser uma família... Mas algumas coisas acabaram saindo do controle.

— Para de me olhar, eu fico envergonhada — resmungou, fazendo um sorriso ser estampado em meu rosto. É tão natural que nem percebo quando estou olhando fixamente para ela. 

— Não posso fazer nada se você consegue ser linda até chorando. — Deixei as palavras escapar, logo percebendo que eu estava dando em cima da minha irmã sem o mínimo de bom senso. 

— Consegue ser ainda mais bizarro que eu, Waldorf — arqueou a sobrancelha, lançando um meio sorriso para mim.

Nossos olhares se cruzaram e, por algum motivo estúpido não consegui quebrar o contato visual. Ela está bem aqui, na minha frente agora. A pessoa por quem eu tentei durante anos me enganar e dizer a mim mesmo que não sentia nada por ela; que era tudo loucura da minha cabeça. Mas ao sentir meu coração acelerar e meus pensamentos confusos, sei que era tudo verdade.

Os olhares, as provocações, os carinhos... Sempre teve algo a mais sem que nós mesmos percebesse-mos.

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