Narradora Harley
ACORDEI NO MEIO DA MADRUGADA, SEM SABER QUE HORAS ERAM, JÁ QUE NÃO TINHA-MOS UM RELÓGIO. Olhei para o lado sonolenta e vi Lilyan dormindo encolhida. A coitada parecia estar com medo. Ethan ainda não estava na cabana; provavelmente estava do lado de fora.
O silêncio era ensurdecedor e o lugar estava extremamente escuro, por conta da hora. Cada segundo parecia uma eternidade. A única coisa que me restava era pensar: como será que meus pais estão? Será que estão preocupados? Não, não estavam. Eles nunca se importaram realmente comigo. Falavam na minha cara que eu fui um acidente. Sinto que é melhor assim, longe deles, sem brigas, sem intrigas, sem discussões.
Suspiro pensativa, pego meu canivete, coloco-o no bolso e saio da cabana. Encontro Ethan sentado no chão de madeira, observando o céu coberto por uma espessa fumaça branca.
— Oi. — Me sento ao lado dele.
— Oi. — Ele se move um pouco para me dar mais espaço.
— Triste, né? — Diz ele, tentando puxar assunto.
— O quê? — Pergunto.
— Ver a cidade na qual sempre moramos decaindo desse jeito. — Suspira.
— Tem razão. — Respondo, apoiando minha cabeça no corrimão de madeira e observando a paisagem também.
Não havia muito o que dizer, então ficamos apenas um ao lado do outro, encarando o céu. O silêncio entre nós não era desconfortável; pelo contrário, era reconfortante. Após um tempo, ele quebra o momento de quietude com uma pergunta.
— Você não sente falta da sua família?
— Para ser bem sincera, não. Eles sempre me trataram tão mal, acho que é melhor eu longe deles do que com eles. — Falo, cabisbaixa. — Mas e você? Não sente falta da sua família?
— Sinto muito. — Ele coloca uma de suas mãos em minhas costas, me fazendo arrepiar e levar um leve susto com o toque inesperado. — E também não sinto falta da minha. — Ele fala de maneira sincera.
— Entendi... — Ficamos quietos novamente. O tempo passou rapidamente ao seu lado, e logo estava amanhecendo.
— Vamos lá para dentro, precisamos chamar a Lily. Eu tenho um plano.
— Okay. — Ele concorda e me segue para dentro da casa. Surpreendentemente, a garota já estava acordada.
— Bom dia, amiga. — Falo, sorridente.
— Bom dia, pequena. — Ethan fala.
— Bom dia, pessoas. — Ela diz, com um pequeno sorriso no rosto.
— Lily, o que acha de investigarmos a floresta e, após isso, visitarmos as nossas antigas casas? — Pergunto, olhando para Ethan e depois para ela.
— Boa ideia. Eu não tinha pensado nisso. — Ela responde.
— Então, pega alguma coisa ali para a gente comer e depois vamos. — Digo.
— Pera, a gente vai daqui a pouco? — Ethan pergunta, meio distraído, sem prestar muita atenção ao que está acontecendo ao seu redor.
— Sim. — Lilyan responde, voltando com três enlatados de legumes e entregando um para cada um. Abrimos as latas e comemos rapidamente, por conta da fome.
Pegamos nossas mochilas, as armas improvisadas e saímos da cabana. Começamos a caminhar pela floresta, que estava quieta e, mesmo de dia, era envolta por uma penumbra devido às sombras das árvores.
Não havia nada de mais na floresta; era extremamente normal. Mas Lilyan parecia estar pensando em algo, como se tivesse uma ideia.
— Está bem, Lily? — Pergunto.
— Ah, sim, claro, só pensando em uma coisa.
— E seria o quê? — Ethan pergunta diretamente, e eu o repreendo com um olhar.
— Existem outras pessoas como a gente, tipo, pessoas que estão sem lugar para morar, sem suprimentos. E se a gente criasse um lugar onde todos poderiam ficar? — Lilyan comenta.
— Tipo uma comunidade? — Pergunto.
— Tipo isso. — Ela sorri. — Eu sei que não podemos confiar em todos, mas seria tão legal poder abrigar pessoas com a gente.
— Você tem razão, é uma ideia perfeita, mas não seria muito difícil? — Ethan pergunta, curioso.
— Com certeza seria, mas imagina ver pessoas seguras por nossa conta. — Lily comenta, sorrindo mais.
— Verdade, tem uma ideia de como começar? — Falo.
— Sim, mas precisaríamos adiar o plano de voltar para as nossas casas.
— Entendi. Vamos começar então, qual é o primeiro passo? — Ethan continua com as perguntas.
— Seguinte: eu e Harley vamos para a cidade buscar mais silver-tape, arame farpado e algumas barracas. Já você, busque por lenha e encontre um local que tenha um lago por perto. Nós nos encontraremos na nossa cabana. Ah, e falando nela, vamos deixar nossas coisas lá.
Voltamos correndo para a nossa residência e deixamos nossas coisas escondidas lá dentro. Logo, Lily abraça Ethan.
— Se cuide, a gente já volta! — Ela fala, preocupada com ele.
— Vocês também, tomem cuidado! A cidade está perigosa! — Ele fala, sério.
— A gente vai. — Falo, sorrindo e dando um leve tapinha nas costas dele.
Eu e Lilyan demos as costas e seguimos em frente. Dou uma última olhada para trás, vendo-o parado e acenando para nós. Agora realmente tínhamos um longo caminho pela frente. Quando a ideia está na cabeça de minha amiga, é mais fácil tirar a cabeça dela do que a ideia.
— Ei!! Esperem aí! — Ethan grita, vindo em nossa direção.
— Oi?! — Lilyan vira em direção a ele.
— Onde vocês vão? Especificamente?
— Por quê? — Pergunto.
— Caso vocês sumam, eu vou procurar.
— Entendi. Vamos naquela loja de armas perto do shopping, sabe? — Lily fala.
— Armas??? — Arregalo os olhos.
— Isso mesmo. Precisamos aprender a nos defender. Tchau, Ethan. Se a gente não voltar até anoitecer, vá até lá, okay? — Lily continua.
— Tá, boa sorte. — Ele fala, preocupado.
— Digo o mesmo. — Falo, saindo junto com Lily em direção à cidade, de novo.
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Infectar Das Almas.
HorrorQuando um apocalipse zumbi irrompe de forma devastadora, Lilyan, e seu irmão mais velho, Arthur, são surpreendidos na escola. Separada de Arthur no caos inicial, Lilyan se refugia na floresta próxima com sua amiga Harley, tentando escapar da destrui...