11- Karla

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Camila

Estava sentada na poltrona, o relógio parecia se arrastar enquanto esperava Ally me chamar. Ela havia acordado e estava há três dias em repouso absoluto. Hoje, após muito insistir, pediu, ou melhor, ordenou que alguém a ajudasse a tomar banho, e eu havia sido a escolhida para a tarefa.

Nos últimos três dias, Ally parecia diferente. Embora ela ainda fosse ela, havia algo em sua expressão que a fazia parecer perdida, quase sombria, como se estivesse lutando contra uma sombra interna. Seus olhos, normalmente vibrantes, estavam opacos e distantes, e sua presença parecia carregar um peso que não estava lá antes.

— Camila, pode me ajudar? — ouvi sua voz chamar do banheiro,  seu tom de vulnerabilidade não passava despercebido. Levantei-me rapidamente da poltrona.

— Claro! — respondi, estendendo uma toalha para ela assim que entrei no banheiro.

Ally sorriu em agradecimento, e eu a ajudei a se vestir com cuidado. Cada movimento dela parecia lento e hesitante, e eu a guiava com a suavidade necessária, tentando aliviar a carga de sua situação.

Depois de ajudá-la a se vestir, chamei Manu para trocar o curativo de Ally. Ela começou a avaliar o local do curativo, desinfectando a área com álcool e aplicando uma pomada para ajudar na cicatrização.

Eu observava de perto, não por desconfiança, mas por uma necessidade de garantir que tudo estava indo bem. Não me levem a mal, mas ainda não me sentia confiante em deixar Ally sozinha com qualquer um, especialmente com Manu, que estava grávida.

A cada movimento de Manu, eu avaliava atentamente, sentindo uma mistura de alívio e inquietação.

— Me parece que está cicatrizando direitinho, mas vamos continuar com os antibióticos por mais alguns dias. Você tem sentido muitas dores? — Manu pergunta, terminando de enfaixar o antebraço de Ally com um olhar atento.

— Às vezes, mas consigo aguentar. Só à noite que me sinto mais incomodada — Ally responde com um tom monótono, sem demonstrar qualquer emoção.

— Podemos te dar um calmante junto com o analgésico à noite — Manu sugere, levantando-se com um pouco de esforço. Ela vai até a prateleira e pega uma escova para pentear os cabelos de Ally.

— Como quiser — Ally responde de maneira simples, seus olhos ainda fixos em um ponto distante. Eu não posso deixar de sentir uma pontada de preocupação. O comportamento dela estava estranho, como se estivesse distante de nós, ou talvez de si mesma.

Após alguns minutos, Manu e eu saímos do quarto e eu tranquei a porta.

— Tem certeza de que isso ainda é necessário? — Manu pergunta, apontando para a chave em minha mão com uma expressão um pouco cansada.

— Sim, ela está estranha. Vamos esperar mais alguns dias de quarentena. Preciso garantir que estamos seguras — eu digo com firmeza. Manu assente, fazendo uma careta enquanto passa a mão sobre a barriga, visivelmente incomodada.

— Esse bebê tem chutado forte — Manu diz, e eu me aproximo para colocar a mão em sua barriga, sentindo alguns chutes suaves.

— Tira a mão da minha afilhada, Camila — Lauren diz, aproximando-se com uma carranca brincalhona.

— Você nem sabe se é uma menina — eu retruco, e Lauren me dá a língua, uma expressão de desafio.

— Eu sinto que é — ela responde com uma certeza inabalável, e eu nego com a cabeça, achando graça na sua convicção.

— Bom, eu e a "afilhada" da Lauren vamos comer — Manu diz, rindo enquanto se afasta, e eu me sinto um pouco mais leve.

— Sentiu minha falta? — eu pergunto, sorrindo ao me aproximar de Lauren.

Renascer - camren Onde histórias criam vida. Descubra agora