23- William

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Lauren

Os dias se passaram arrastando, o luto pairava no ar como uma nuvem espessa que não dispersava. A dor de saber que Ally estava morta era como um peso constante no peito, e cada um de nós sentia a ausência dela de uma forma diferente. O choro suave do bebê, um pequeno eco da vida que ela deixou para trás, era um lembrete doloroso, mas também um motivo para seguirmos em frente. Esse pedacinho dela que restava no mundo era frágil, mas sua presença trazia um fio de esperança.

Cuidar do bebê tornou-se nossa prioridade. Cada movimento era cauteloso, desde a preparação de um berço improvisado até a maneira como o alimentávamos com as poucas provisões que tínhamos. Não havia espaço para erros. O som suave de sua respiração, o jeito como seus pequenos dedos se fechavam ao nosso toque, nos lembrava que havia uma vida que dependia de nós.

Finalmente, após longas noites em claro e dias que pareciam intermináveis, conseguimos contato com o pessoal do Novo Mundo. A comunicação foi difícil, entre estática e palavras interrompidas, mas a mensagem foi clara: eles estavam prontos para nos receber. A decisão de viajar foi tomada rapidamente, e hoje, com o bebê de apenas uma semana e alguns dias, partimos.

O Novo Mundo era mais do que um destino, era uma promessa de segurança. Sabíamos que lá haveria médicos capazes de examinar o bebê, verificar sua saúde e talvez nos dar respostas sobre como seguir.

Pegamos tudo que achamos útil na base militar, varrendo cada sala, cada corredor com olhos atentos. Entre equipamentos de comunicação, armas, e kits médicos, também encontramos os pequenos saquinhos de comida dos soldados – ração militar compacta, mas capaz de sustentar por dias. Sabíamos que cada item seria essencial para nossa sobrevivência até que conseguíssemos nos estabilizar. Cada pacote representava mais um dia de segurança contra a fome, mais uma oportunidade de nos mantermos fortes enquanto enfrentávamos o desconhecido.

Durante esses dias de preparação, Denis dedicou-se intensamente ao estudo do avião. Não era um modelo grande, mas parecia robusto o suficiente para nos levar até a ilha. Ele passava horas verificando manuais antigos, simulando decolagens e aterrissagens enquanto lia as instruções rabiscadas nas laterais dos painéis. Ele não só aprendeu a pilotar, mas também estudou como inserir as coordenadas corretas para nosso destino, revisando mapas e cálculos de navegação. A responsabilidade pesava sobre ele, mas Denis era metódico e determinado.

Enquanto ele aprendia, nós organizávamos tudo meticulosamente. Cada arma foi cuidadosamente embalada, cada caixa de mantimentos foi contada e separada. Amontoamos tudo no pequeno compartimento de carga do avião, empilhando os suprimentos e verificando cada detalhe para garantir que nada fosse deixado para trás. O som de caixas sendo arrastadas ecoava no hangar, misturado ao zumbido distante dos geradores da base.

Quando tudo estava pronto, nos sentamos nos assentos apertados da cabine, observando Denis, que respirava fundo antes de girar a chave de ignição. O motor do avião rugiu para a vida, vibrando sob nossos pés enquanto as hélices começavam a girar. A adrenalina correu em nossos corpos. As janelas mostravam o céu nublado lá fora, e a pista vazia se estendia à nossa frente como uma promessa de algo novo, algo incerto.

Denis, com as mãos firmes no controle, olhou rapidamente para nós antes de iniciar a decolagem. O avião começou a ganhar velocidade, tremendo levemente enquanto corria pela pista. O som dos pneus se soltando do solo foi quase inaudível sobre o rugido do motor. Estávamos no ar, deixando para trás o que restava da base militar e, com ela, uma parte do mundo que conhecíamos. O horizonte à nossa frente apontava para a ilha, um lugar misterioso que prometia refúgio – ou novos perigos.

A viagem foi tranquila, ou pelo menos, tão tranquila quanto se pode esperar em tempos como esses. O leve zumbido dos motores do avião preenchia o silêncio entre nós, uma constante que, de certa forma, acalmava nossos nervos. Pelas janelas, a paisagem que se desenrolava era um lembrete sombrio do que o mundo havia se tornado. As cidades da luz, que um dia pulsavam com vida, agora não passavam de ruínas cobertas por vegetação. A natureza, em seu ciclo inevitável, reclamava o que os homens haviam construído, tomando as ruas, prédios e pontes com raízes, galhos e musgo. Árvores cresciam entre os escombros, cobrindo o concreto rachado, e o céu, antes limpo, agora estava pintado por uma névoa opaca, dando ao mundo uma aparência quase fantasmagórica.

Renascer - camren Onde histórias criam vida. Descubra agora