22- Vida

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Lauren

Olhei ao redor, buscando consolo nos rostos dos outros, mas todos estavam perdidos em seus próprios pensamentos, suas próprias culpas. Dinah mantinha os olhos fixos no chão, enquanto Camila, geralmente cheia de vida, parecia um vulto silencioso, apertando nervosamente o punho ao redor de uma pequena pedra.

A tensão no grupo era evidente, e o crepitar da fogueira parecia amplificar a sensação de desespero que pairava no ar. O calor das chamas era uma das poucas coisas que ainda transmitiam algum conforto. Normani manteve o olhar fixo no fogo, como se ali encontrasse alguma resposta ou consolo que o resto de nós ainda não havia percebido.

– Vamos seguir em frente, Ally iria querer isso – disse ela, sua voz firme, mas os olhos brilhando de uma tristeza profunda.

Olhei para o bebê em meus braços, tão pequeno e frágil. Ele estava envolto em uma manta que encontramos durante uma das buscas pela base militar. Seus pequenos olhos piscavam de forma intermitente, sem entender o horror ao redor. Ele não chorava, apenas resmungava, como se também soubesse que o silêncio era vital para a nossa sobrevivência. Mas eu sentia o pânico crescendo em mim, tanto por ele quanto por nós. Estávamos cercados por mortos-vivos famintos, e agora tínhamos a responsabilidade de cuidar de uma vida tão nova e indefesa.

Denis continuava a afiar sua faca com movimentos metódicos.

– Vamos ter que ficar aqui por alguns dias – comentou, sem desviar os olhos de sua tarefa.

Aquela notícia fez meu estômago revirar. Ficar aqui? Na base infestada? Era um pesadelo. Lembrei-me da última vez que tentei fugir de uma horda de zumbis, os gritos, o sangue... O cheiro horrível.

– Por quê? – perguntei em um sussurro, com o medo transparecendo na minha voz.

Denis parou de afiar a faca por um momento e me olhou com seriedade, seus olhos refletindo o brilho da fogueira.

– Não podemos pegar um avião com um bebê recém-nascido – ele disse, pesando cada palavra. – Os tímpanos dele podem não aguentar a mudança de pressão atmosférica.

Assenti, compreendendo a gravidade da situação. A ideia de voar até parecia ser uma solução rápida, mas estávamos lidando com uma vida delicada, e qualquer erro poderia custar caro.

Camila, que sempre parecia manter uma fachada de confiança, deixou escapar uma risada nervosa.

– Jesus Cristo – exclamou, balançando a cabeça. – Não fazemos a menor ideia de como cuidar de um bebê recém-nascido.

Sua preocupação era compartilhada por todos. Eu podia sentir o pânico começando a se espalhar, como uma doença invisível. O bebê precisava de comida, e Ally, que tinha sido nossa única esperança de amamentar, não estava mais conosco.

– Primeiro precisamos alimentá-lo, porém a Ally morreu, então não tem como ele mamar – Normani comentou, sua voz quebrando ao falar de Ally. A perda ainda era fresca, uma ferida que todos sentíamos.

O silêncio que seguiu foi cortante. O bebê resmungou de novo, e Dinah, sempre a mais otimista de nós, tentou acalmar os ânimos.

– Nós vamos dar um jeito, nós sempre damos – disse ela, colocando a mão no ombro de Normani.

Denis se levantou, sua expressão dura e decidida.

– Concordo com Dinah – ele declarou. – Não vamos deixar o bebê passar fome. Aqui tem bastante comida para nós, mas acho difícil ter fórmula para bebês. Vamos nos dividir e ir em busca de leite.

Enquanto Denis falava, meus pensamentos vagavam. Estávamos à beira do colapso. Cada decisão parecia um tiro no escuro. Não sabíamos o que o futuro reservava, mas uma coisa era certa: aquele bebê dependia de nós para sobreviver. E enquanto as hordas de mortos-vivos continuavam a se aglomerar do lado de fora da base, restava-nos apenas a esperança de que, de alguma forma, encontraríamos um caminho.

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