Renascer - camren

18- Renascer

Lauren 

Acordo com o som dos pássaros e da mata, a sinfonia natural de galhos balançando e folhas sussurrando ao vento. Isso sim é música para os meus ouvidos. A luz suave do amanhecer infiltra-se pelas frestas da cabana, projetando sombras dançantes nas paredes. Devo confessar que essa quarentena foi deveras interessante; nunca fui tão respeitada e tão bem cuidada na minha vida. Aqui, entre esses nativos, encontrei uma paz que jamais imaginei existir.

Todos os dias, logo pela manhã, algumas mulheres da tribo vêm nos visitar. Elas trazem uma bebida espessa e de gosto amargo para Manu, dizendo que é para "o leite ficar forte para o bebê". Manu, com seu jeito sereno, odeia o sabor, mas sempre toma sem reclamar. Ela sabe que é para o bem da filha, para que a pequena cresça forte e saudável.

A comida que nos oferecem é bem diferente do que estamos acostumadas, uma mistura de frutas exóticas, raízes e carnes que nunca vimos antes. No início, estranhamos os sabores fortes e texturas incomuns, mas, com o tempo, nossos paladares se adaptaram. Agora, essa culinária, tão rica e variada, tornou-se uma aventura diária, um pequeno conforto em meio à nossa situação de isolamento.

No entanto, a parte ruim dessa experiência é não poder sair para explorar essa maravilha de floresta que nos cerca. De onde estamos, podemos apenas vislumbrar o verde exuberante e ouvir os sons de animais distantes.

A única que parece desfrutar de total liberdade é a nossa bebê. Em tão pouco tempo, ela já conquistou o coração de todos. É adorada por todos os membros da tribo, que a consideram uma espécie de bênção. Ela está sempre sendo carregada de um lado para o outro em uma cesta tecida com habilidade, enfeitada com flores e folhas, e carregada com um cuidado. Os nativos sussurram palavras suaves para ela em sua língua melodiosa, e a bebê responde com leves sorrisos, encantada por essa atenção constante. É como se ela fosse a chave para um elo especial entre nós e eles, um elo que ainda estamos aprendendo a entender.

Enquanto observo tudo isso, sinto uma mistura de gratidão e inquietação. Estamos seguras, somos bem cuidadas, mas uma parte de mim anseia por algo mais – por liberdade, por respostas, por um vislumbre do mundo além dessa quarentena forçada.

— Vocês podem sair — disse um rapaz, interrompendo meus pensamentos. Sua voz era calma, mas tinha uma urgência que me fez levantar rapidamente.

Saímos da cabana e ao atravessar a entrada, fomos imediatamente atingidas pela luz intensa do sol. Pisquei várias vezes, tentando ajustar meus olhos ao brilho. O ambiente ao nosso redor era ainda mais incrível do que eu me lembrava. A floresta vibrava em cores vivas — verdes profundos das folhas, flores de todas as tonalidades imagináveis, e pássaros com plumagens exuberantes cruzando o céu. Nas árvores e pedras ao redor, símbolos misteriosos estavam gravados, entalhados com uma precisão que eu nunca tinha visto. Eram figuras geométricas e formas que pareciam contar histórias antigas, mas eram incompreensíveis para mim.

— Muito obrigada por nos salvar. Se vocês não tivessem chegado naquele exato momento, a bebê teria morrido — disse Camila, dirigindo-se ao líder que nos ajudou. Sua voz estava cheia de gratidão, mas também carregava um leve tremor de emoção.

O líder, um homem de olhos profundos e pele marcada pelo sol, assentiu lentamente. Seu rosto era uma máscara de serenidade, mas seus olhos refletiam uma sabedoria que parecia pesar anos.

— Nós já estávamos observando vocês há algum tempo, mas nós não intervimos no destino — ele respondeu, sua voz carregada de um sotaque desconhecido e melódico, que parecia ecoar com a sabedoria das árvores ao redor. Eu olhei para ele, intrigada.

— Mas vocês salvaram a bebê — murmurei, tentando entender a lógica por trás de suas palavras.

— Ela nasceu viva; o destino dela é sobreviver — ele respondeu, e eu assenti, ainda tentando compreender todo esse mistério que nos envolvia. Havia algo nos olhos dele, uma certeza inabalável que era, ao mesmo tempo, reconfortante e desconcertante.