14- Neblina

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Lauren

Acordei com um leve sacudir de Camila. Seu toque era firme, mas havia uma gentileza escondida em sua urgência. A luz cinzenta da manhã infiltrava-se pela janela quebrada, mal iluminando o espaço onde havíamos descansado por algumas horas. Dinah estava sentada perto da porta, segurando a espingarda com a precisão de quem sabia o que estava fazendo. Ela e Camila haviam se revezado na vigia durante a madrugada, permitindo que eu e os outros descansássemos, mesmo que brevemente.

O café da manhã era cachaça e barrinhas de cereal, uma combinação que talvez soasse como piada em qualquer outro mundo que não fosse o nosso. Camila já estava visivelmente alterada; seus olhos brilhavam de um jeito que não era só pela bebida. Ela me observava com uma intensidade que fazia meu estômago dar voltas. Mordia os lábios, um gesto que eu sabia que ela usava para segurar uma vontade e em seu caso, isso quase sempre envolvia me beijar.

- Vamos indo, temos que encontrar o carro para voltarmos! - eu disse, interrompendo o momento antes que ele pudesse se transformar em algo complicado. Dinah assentiu, enquanto Denis e Caleb já ajustavam suas mochilas nos ombros. Não havia tempo a perder.

Saímos para a rua, a manhã estava gélida, e uma neblina densa cobria o caminho à nossa frente, tornando difícil distinguir o que estava a poucos metros de distância. O mundo era uma tela borrada de cinzas e brancos, e o frio cortava nossa pele como pequenos cacos de vidro. Caminhamos por longos minutos, Caleb e Camila conversando animadamente sobre seus antigos trabalhos, as vozes uma distração bem-vinda da monotonia fria da caminhada. Enquanto isso, eu, Dinah e Denis mantínhamos os olhos abertos, abatendo zumbis que apareciam pela neblina, como sombras grotescas surgindo e desaparecendo em um piscar de olhos.

- Lauren é minha musa inspiradora, quase todas as minhas músicas são pra ela, não é, Lauren? - Camila soltou a frase como se jogasse uma bomba, e sua voz embriagada fez Caleb rir baixo.

- Você não tem jeito, né, Camila? - respondi, tentando conter um sorriso que teimava em surgir. Desviei o olhar dela, concentrando-me na trilha à nossa frente. Mesmo nesse mundo destroçado, ela conseguia ser uma distração perigosa.

Finalmente, consegui ver o carro ao longe, o que trouxe um alívio imediato. O vento gelado soprava através das árvores, sussurrando segredos que eu preferia não ouvir, enquanto caminhávamos apressadamente em direção ao nosso objetivo.

Entramos no carro rapidamente, o motor fazendo um barulho áspero ao ligar. Eu assumi o volante. Camila se acomodou ao meu lado, claramente emburrada. Ela cruzou os braços e me lançou um olhar irritado, aquele tipo de olhar que só ela sabia dar, misturando frustração com um toque de charme que quase me fez sorrir.

- Eu posso dirigir meu carro, Lauren - Camila resmungou, fazendo um beicinho como uma criança contrariada. Revirei os olhos, mantendo meu foco na estrada, ou pelo menos no que restava dela.

- Você bebeu, se beber não dirija - respondi, usando um tom que deixava claro que isso deveria ser óbvio. Ela riu, aquele riso cheio de desdém que era ao mesmo tempo irritante e inexplicavelmente cativante.

- Isso era antes dos zumbis - ela murmurou, virando-se para olhar pela janela, o semblante suavizando enquanto seus dedos desenhavam padrões aleatórios no vidro embaçado. O céu estava carregado de nuvens, e a neblina tornava tudo ao redor indistinto.

Eu tentava inutilmente usar o GPS, tocando na tela que teimava em não responder. A tecnologia parecia ter desistido do mundo tanto quanto o mundo tinha desistido de nós.

Suspirei, desistindo, e abri o porta-luvas, de onde tirei um mapa amarrotado. Desdobrei-o no colo, os papéis e tentei encontrar o trajeto certo enquanto o carro balançava sobre o asfalto esburacado.

Renascer - camren Onde histórias criam vida. Descubra agora