11. Realidade

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CAROL POV

O ônibus nos levou de volta à cidade, e logo avistamos o ginásio. A adrenalina começava a se misturar com o nervosismo, mas havia algo mais. Eu sentia uma conexão renovada com Anne, algo que havia surgido entre nós no retiro e que, de alguma forma, agora parecia inabalável.

Quando entramos no ginásio, fomos recebidas pelas nossas colegas de time com sorrisos e abraços rápidos. O clima estava carregado de expectativa, já que o jogo contra o Praia Clube era um dos mais importantes da temporada. As meninas do time, sem perceberem a complexidade da situação, comentaram o quão relaxadas e bem dispostas pareciamos, como se o retiro realmente tivesse feito milagres.

— Vocês duas parecem outra coisa! — disse Gabi, com um sorriso largo. — Acho que o retiro funcionou, hein?

Eu ri, tentando esconder o turbilhão de emoções que se formava dentro de mim. Não era só o retiro que havia mudado algo entre nós, mas Gabi não precisava saber disso.

— Acho que sim, foi um bom tempo fora. Estamos prontas para detonar hoje! — respondi, tentando transmitir confiança.

Anne, que estava ao meu lado, assentiu e deu um sorriso discreto. Era quase impossível para nós duas não trocar olhares cúmplices, mas sabíamos que precisávamos manter a fachada, pelo menos até estarmos a sós.

ANNE POV

O reencontro com o time foi uma mistura de alívio e tensão. Eu estava nervosa por causa do jogo, claro, mas havia algo mais. A presença de Carol ao meu lado fazia meu coração disparar, e a ideia de manter nosso segredo diante de todo o time parecia uma tarefa hercúlea. Mas, ao mesmo tempo, sentia-me mais forte, mais centrada, como se Carol e eu estivéssemos em sincronia de uma maneira que nunca havíamos experimentado antes.

Quando entramos na quadra para o aquecimento, percebi que essa sincronia não era apenas uma sensação. Nossos movimentos estavam perfeitamente alinhados, e isso se refletia em cada passe, cada levantamento, cada saque. Era como se tivéssemos desenvolvido uma linguagem secreta durante o retiro, uma comunicação silenciosa que ninguém mais podia entender.

— Vocês duas estão sincronizadas demais hoje — comentou Roberta, enquanto alongávamos antes do jogo. — Parece até que estão lendo a mente uma da outra.

Carol e eu trocamos um olhar rápido, e um sorriso surgia nos lábios de ambas. Havia uma verdade nisso que Roberta nunca entenderia, pelo menos não agora.

O apito soou, e o jogo começou com uma intensidade avassaladora. O Praia Clube era um adversário
difícil, mas desde o primeiro ponto, ficou claro que estávamos em uma forma diferente. Cada jogada fluía com uma precisão quase automática, como se Carol e eu tivéssemos treinado juntas por anos.

Quando eu subia para bloquear, sabia que ela estaria lá para cobrir qualquer falha. E, a cada ponto conquistado, sentia o laço entre nós se fortalecer ainda mais.

O time começou a perceber. A cada ponto, nossos colegas nos olhavam com surpresa e admiração. Carol e eu nos tornamos o centro das atenções, não apenas por nossa performance individual, mas pela maneira como trabalhávamos juntas, como se fôssemos duas partes de uma máquina perfeitamente ajustada.

No final, vencemos o Praia Clube por três sets a zero. O ginásio explodiu em comemoração, e as meninas do time nos rodearam, vibrando com a vitória.

— Isso foi incrível! — exclamou Drussyla, abraçando Carol com força. — Vocês duas foram perfeitas!

Eu sorri, tentando conter a emoção que pulsava em meu peito. Era uma vitória não apenas para o time, mas para nós duas. Sabíamos o quanto aquela sincronia significava, e o que havia acontecido entre nós estava diretamente ligado a isso.

CAROL POV

Enquanto comemorávamos, senti uma mistura de euforia e ansiedade. Sabia que, mais tarde, quando estivéssemos sozinhas, as coisas poderiam ficar complicadas de novo. Mas, naquele momento, não conseguia pensar em mais nada além da vitória e da sensação incrível de ter Anne ao meu lado.

Depois de mais alguns minutos de celebração, finalmente nos dirigimos para o vestiário. As meninas estavam todas animadas, falando sobre o jogo, mas eu só conseguia pensar em Anne. Precisava falar com ela, precisava mais uma vez daquela proximidade que havíamos experimentado na noite anterior.

Quando entramos no vestiário, esperei até que as outras meninas saíssem, uma por uma, deixando apenas Anne e eu sozinhas.

— Anne — chamei, minha voz saindo mais suave do que eu pretendia.

Ela se virou para mim, e vi a mesma mistura de emoções em seus olhos. Não precisávamos de palavras. Em um movimento quase automático, fechei a distância entre nós e a beijei, sentindo novamente aquela eletricidade que só ela conseguia provocar.

O beijo foi suave, mas cheio de significados. Quando nos separamos, encostei minha testa na dela, tentando recuperar o fôlego.

— Eu... Eu queria te agradecer por hoje. Foi... diferente. E queria te convidar para ir lá em casa... Se você não se importar de ficar mais um tempo sem celular — disse, sorrindo levemente. — A gente veio direto do retiro para cá, e seu celular ainda deve estar na sua casa, né?

Ela sorriu, aquele sorriso que me desmontava por dentro.

— Eu adoraria, Carol.

ANNE POV

Aceitar o convite de Carol foi a coisa mais fácil e, ao mesmo tempo, mais difícil que eu já fiz. Eu queria estar com ela, mais do que qualquer coisa, mas a ideia de enfrentar esse sentimento novo e intenso me aterrorizava. No entanto, ao olhar para aqueles olhos que me encaravam com tanto carinho e desejo, não havia como dizer não.

Depois que saímos do vestiário, pegamos nossas coisas e seguimos para a casa  de Carol. O caminho foi silencioso, mas confortável, como se ambos estivéssemos absorvendo o que havia acontecido entre nós.

Quando finalmente chegamos, a casa estava silenciosa. Ela me guiou até a sala, onde nos sentamos no sofá, ainda sem dizer uma palavra.

O silêncio era diferente agora, cheio de expectativa. Eu podia sentir a tensão no ar, e sabia que Carol sentia o mesmo. Mas, ao mesmo tempo, havia uma paz, uma certeza de que estávamos exatamente onde deveríamos estar.

— Carol... — comecei, mas ela me interrompeu, colocando um dedo nos meus lábios.

— Não precisamos falar nada agora, Anne. Só... fica aqui comigo.

E assim, nos deixamos levar por aquele momento, sem pressa, sem expectativas. As horas passaram, e a noite foi caindo lentamente sobre nós. O que viria a seguir, não sabíamos, mas estávamos prontas para descobrir juntas.

Court Lights | BuijrolOnde histórias criam vida. Descubra agora