9. Normalidade

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NARRADOR POV

O sol ainda mal começava a iluminar o céu quando Carol foi acordada por um som leve, quase hesitante, na porta de seu quarto. Ela piscou algumas vezes, tentando clarear a mente, antes de ouvir o som novamente. Alguém estava batendo à porta, e pelo ritmo suave, ela quase podia adivinhar quem era.

Deslizou para fora da cama, ainda sonolenta, e foi até a porta, puxando a camiseta para baixo para cobrir-se um pouco mais. Quando abriu a porta, encontrou Anne parada ali, com uma expressão que misturava incerteza e algo que Carol não conseguiu decifrar de imediato.

— Anne? — A voz de Carol saiu rouca, ainda carregada pelo sono.

Anne parecia hesitar por um momento, seus olhos buscando os de Carol, como se tentasse encontrar as palavras certas. Mas, em vez de falar, ela deu um passo à frente, entrando no quarto de Carol sem ser convidada, mas também sem ser repelida.

Carol deu um passo para o lado, deixando que Anne entrasse, e fechou a porta atrás delas. O quarto era simples, mas confortável, com uma cama de solteiro, uma pequena mesa, e uma janela que deixava a luz da manhã invadir suavemente o ambiente. Anne parecia deslocada ali dentro, como se não soubesse exatamente o que fazer com as mãos ou para onde olhar.

— O que foi? — Carol perguntou, cruzando os braços instintivamente, tanto para se proteger quanto para tentar esconder a vulnerabilidade que sentia. — Alguma coisa errada?

Anne balançou a cabeça, finalmente encontrando sua voz.

— Não... quer dizer, sim. Eu só... eu só precisava falar com você. Sobre... tudo isso — Anne gesticulou, apontando para o espaço entre elas, como se fosse uma entidade física que as mantinha distantes.

Carol sentiu um nó se formar em seu estômago. Aquela manhã não era o momento que ela esperava para uma conversa tão séria, mas algo na expressão de Anne a fez perceber que isso não podia esperar.

— Tudo bem — Carol respondeu, tentando manter o tom de voz o mais neutro possível. — Vamos conversar. O que você quer dizer?

Anne suspirou, passando a mão pelos cabelos dourados, um gesto que Carol tinha começado a reconhecer como um sinal de nervosismo. A garota holandesa parecia sempre tão confiante, tão segura de si, mas naquele momento, Carol viu algo diferente — uma Anne mais humana, mais vulnerável.

— Eu sei que não fomos as melhores parceiras de time até agora — Anne começou, seus olhos finalmente pousando nos de Carol, com uma intensidade que a fez estremecer. — Sei que tenho sido difícil. Mas... não é porque eu quero, sabe? É só que... — Ela pausou, lutando para encontrar as palavras certas. — Eu não sou boa em confiar nas pessoas, Carol. Sempre fui ensinada a me virar sozinha, a ser independente. E, de repente, estou aqui, com uma capitã que me pede para confiar nela, para depender dela... Isso é novo para mim. Assustador, até.

Carol sentiu seu coração acelerar. Aquela era a primeira vez que Anne estava realmente se abrindo com ela, mostrando um lado que ninguém mais no time parecia conhecer. Ela desfez os braços cruzados, sentindo a tensão no ar se dissipar, mesmo que ligeiramente.

— Eu entendo, Anne — Carol respondeu, sua voz suave. — Mas a verdade é que eu também estou me esforçando para fazer isso funcionar. Eu sou a capitã, sim, mas não significa que eu não tenha minhas próprias inseguranças. Não significa que eu não esteja com medo de falhar, de não conseguir liderar esse time da forma que eles precisam. E, talvez, a gente precise parar de se esconder atrás dessas barreiras e, sei lá, dar uma chance uma para a outra.

Anne pareceu absorver aquelas palavras, seus olhos azuis profundos analisando cada nuance no rosto de Carol. O silêncio entre elas não era desconfortável, mas carregado de algo que ambas sentiam, mas não sabiam como nomear.

Court Lights | BuijrolOnde histórias criam vida. Descubra agora