5. Decisão

624 59 20
                                    

CAROL POV

O silêncio na sala de Bernardo era sufocante. Eu e Anne estávamos sentadas lado a lado, mas a distância emocional entre nós parecia um abismo. Bernardo se recostou na cadeira, observando-nos com a expressão impassível de quem já tinha visto de tudo no esporte. Eu sabia que a conversa seria séria, mas o olhar dele me fez sentir um frio na espinha.

— Bom, meninas — começou ele, depois de um longo suspiro. — Temos um problema, e todos nós sabemos disso.

Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas para explicar o inexplicável, mas antes que eu pudesse falar, Anne tomou a dianteira.

— Bernardo, estamos tentando. Mas é difícil... — Ela hesitou, buscando as palavras. — Parece que... não estamos na mesma sintonia.

Eu me encolhi um pouco na cadeira. Não era como se ela estivesse errada, mas ouvir isso em voz alta, diante de Bernardo, fazia tudo parecer ainda pior.

— E vocês acham que isso é aceitável? — Ele perguntou, com a voz baixa e controlada, mas carregada de desapontamento. — Vocês acham que o que está acontecendo entre vocês justifica os resultados que estamos tendo?

Eu abaixei a cabeça, sem coragem de olhar para ele. Sabia que a resposta era não.

— Carol, você é a capitã. Deveria estar liderando pelo exemplo, unindo o time, não contribuindo para as divisões. E Anne, você é uma das melhores jogadoras que já treinei, mas seu individualismo está custando caro ao time. Precisamos resolver isso agora, antes que seja tarde demais.

— E como você sugere que a gente resolva isso? — Perguntei, a voz mais fraca do que eu gostaria.

Bernardo ficou em silêncio por um momento, como se estivesse pesando suas palavras. Então, ele se inclinou para frente, cruzando as mãos sobre a mesa.

— Vocês duas vão para um retiro juntas.

Minha cabeça deu um nó. Retiro? Como assim? Eu pensei em todos os compromissos, em todos os jogos que tínhamos pela frente, e simplesmente não fazia sentido.

— Bernardo, temos o jogo contra o Praia Clube em poucos dias! — Exclamei, quase sem acreditar no que ele dizia.

— Eu sei disso — ele respondeu calmamente. — Mas eu também sei que, se vocês continuarem assim, não vamos ganhar. Um time dividido não vence. Vocês precisam resolver essa tensão, essa falta de confiança. E não vão conseguir fazer isso em quadra.

Olhei para Anne, que permanecia em silêncio. Ela estava visivelmente desconfortável, mas não estava protestando. O que ela achava disso? Será que ela entendia o que esse retiro significava?

— Vocês vão passar alguns dias fora, em um lugar onde possam se concentrar apenas em resolver suas diferenças. Sem distrações, sem outras responsabilidades. Apenas vocês duas. Isso não é uma sugestão, é uma decisão. E é para o bem do time.

Eu não sabia o que dizer. Não sabia como convencer Bernardo de que estávamos bem, de que podíamos superar isso sozinhas. Mas a verdade era que ele tinha razão. Se não conseguíssemos resolver isso agora, todo o time pagaria o preço.

— Quando partimos? — Anne finalmente falou, sua voz baixa e resignada.

Bernardo sorriu, mas era um sorriso tenso, preocupado. Ele sabia que isso era necessário, mas também sabia que estava arriscando ao tomar essa decisão.

— Amanhã de manhã. Vocês terão três dias antes do próximo jogo. Façam esses dias valerem a pena.

Depois da conversa com Bernardo, minha cabeça estava um caos. Como eu explicaria isso para as meninas? Como eu poderia justificar o fato de estar saindo no meio da preparação para um dos jogos mais importantes da temporada?

Cheguei ao vestiário com um peso no peito, e as meninas já estavam lá, conversando sobre o treino. Gabriela foi a primeira a notar minha expressão.

— O que aconteceu, Carol? — Ela perguntou, preocupada.

Eu tentei sorrir, mas falhei miseravelmente.

— O Bernardo decidiu que eu e a Anne vamos... para um retiro.

— Um retiro? — Dru perguntou, claramente confusa. — Tipo... agora?

— Amanhã de manhã — confirmei, suspirando. — Ele acha que precisamos resolver nossas diferenças antes do próximo jogo, e que isso é mais importante do que treinar com o time.

As meninas ficaram em silêncio, absorvendo a notícia. Eu sabia que elas entendiam, mas isso não tornava a situação menos estranha.

— E você concorda com isso? — Roberta perguntou, depois de um tempo.

— Eu não sei — respondi honestamente. — Mas o Bernardo acha que é o melhor para o time. E, se ele acredita nisso, eu tenho que confiar no julgamento dele.

Elas assentiram, e a conversa logo mudou para outro assunto, mas eu não consegui me desligar do que estava por vir. Um retiro com Anne... Seriam três dias longos, e eu não fazia ideia de como aquilo poderia acabar.

ANNE POV

Eu sabia que as coisas estavam ruins, mas não esperava que Bernardo fosse tomar uma decisão tão drástica. Um retiro... Só eu e Carol, forçadas a resolver nossas diferenças? A ideia era sufocante, mas também não havia como escapar dela.

Quando saí da sala de Bernardo, não voltei ao vestiário. Precisava de um tempo para pensar, para processar o que acabara de acontecer. Passei pelo ginásio vazio e fui até a quadra, onde me sentei no banco de reservas, olhando para o piso brilhante.

A verdade era que eu não sabia como resolver as coisas com Carol. Desde que cheguei ao time, senti que havia uma barreira entre nós, algo que nos impedia de realmente nos conectar. E, para ser sincera, eu não sabia se queria quebrar essa barreira. Carol era uma líder, uma excelente jogadora, mas havia algo nela que me deixava inquieta. Talvez fosse o fato de ela parecer tão... perfeita. Como se nada pudesse abalar sua confiança.

Mas agora, estava claro que as coisas não eram tão simples. E se eu não quisesse deixar o time na mão, precisava encontrar uma maneira de lidar com isso.

Enquanto eu estava sentada lá, sozinha, pensei na conversa com Bernardo. Pensei nas suas palavras, na seriedade com que ele nos falou sobre a importância de resolvermos nossas diferenças. E, pela primeira vez, eu me senti... conformada.

Talvez ele estivesse certo. Talvez esse retiro fosse exatamente o que precisávamos. Não era apenas sobre Carol, era sobre o time inteiro. Eu não podia continuar agindo como se estivesse sozinha em tudo isso. Havia outras jogadoras, outras pessoas que dependiam de mim, que confiavam em mim.

Suspirei, levantando-me do banco e dirigindo-me de volta ao vestiário. Sabia que Carol já estava lá, contando às outras meninas sobre o retiro. Eu não precisava ouvir a conversa para saber o que estava sendo dito. Mas, pela primeira vez, senti que estava pronta para enfrentar o que viesse pela frente.

Três dias com Carol. Três dias para tentar entender o que estava errado e, talvez, consertar. Não seria fácil, mas, de alguma forma, eu sabia que era necessário.

— Vamos ver no que isso vai dar — murmurei para mim mesma, antes de entrar no vestiário, onde as meninas me aguardavam.

Court Lights | BuijrolOnde histórias criam vida. Descubra agora