13. Festa

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NARRADOR POV

Carol estava no sofá, olhando para o teto de seu quarto, perdida em seus próprios pensamentos. Desde que Anne saiu batendo a porta, ela não conseguia se concentrar em nada. A sensação de culpa era esmagadora, e a lembrança das palavras de Anne ecoava em sua mente sem parar. Como ela poderia ter sido tão tola? Como pôde deixar Marcela se interpor entre o que estava começando a sentir por Anne?

Os treinos que seguiram após a briga foram exaustivos, mas não pelo esforço físico. O mais difícil era manter as aparências, fingir que tudo estava bem, quando na verdade, Carol se sentia um completo caos por dentro. Anne, por outro lado, continuava como se nada tivesse acontecido, mantendo a frieza e a distância que agora a machucava ainda mais.

Gabi notou a mudança em Carol imediatamente. Não eram apenas as olheiras mais fundas ou a falta de entusiasmo que costumava ter. Havia algo mais, uma tristeza que Carol tentava disfarçar, mas que Gabi, como melhor amiga, enxergava claramente.

— Carol, o que está pegando? — Gabi perguntou num fim de tarde, enquanto as duas estavam no apartamento que dividiam. Carol estava jogada no sofá, os olhos vidrados no nada. — Você tá estranha, mais do que o normal. O que aconteceu?

Carol suspirou, sentindo o peso do mundo em seus ombros.

— Nada, gay. Só estou cansada, acho que os treinos estão puxados, só isso. O jogo de ontem me cansou bastante também, mesmo que o vencemos.

Gabi revirou os olhos, impaciente.

— Você acha que eu nasci ontem? Eu sei que não é só isso. Sabe que pode me contar qualquer coisa, né?

Carol hesitou, mas, por fim, cedeu.

— A Anne... A gente brigou. E foi feio.

— Sabia que tinha algo a ver com ela! — Gabi exclamou, cruzando os braços. — O que aconteceu?

Carol contou tudo, desde o beijo até a briga na noite anterior. Cada detalhe. O alívio de desabafar com Gabi foi imenso, mas a dor não diminuiu.

— Eu não sei o que fazer, Gabi. Eu realmente acho que estraguei tudo. E o pior é que... — Carol parou, sentindo um nó na garganta. — Eu acho que estou apaixonada por ela.

Gabi ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Carol.

— E a Marcela? — Gabi perguntou, com cautela.

— Não sei. Eu estava tão confusa... Mas acho que preciso esclarecer as coisas com ela também. Não é justo o que fiz.

Gabi assentiu, compreendendo a complexidade da situação.

— Olha, eu tenho uma ideia — disse Gabi, de repente. — Acho que você precisa distrair um pouco sua cabeça, sair dessa nuvem negra. Vou falar com as meninas e a gente vai fazer uma festa lá na casa da Roberta. Só nós, sem a Anne. Só pra relaxar, descontrair, sabe?

— Não sei se estou com cabeça pra festa, Gabi...

— É exatamente por isso que você precisa! Vamos, Carol. Vai ser bom pra você, te garanto.

Carol relutou, mas Gabi era insistente. Sabia que Gabi estava tentando ajudar, e talvez uma noite com as amigas fosse exatamente o que ela precisava para clarear as ideias.

A noite chegou, e Carol se arrumou sem muita vontade, mas Gabi estava tão empolgada que era impossível dizer não. Chegaram à casa da Roberta, onde já estavam Monique, Drussyla, Fabi e a própria anfitriã.

— Olha só quem chegou! — exclamou Roberta, puxando Carol para um abraço. — Estava com saudades, menina!

As outras garotas se aproximaram, abraçando Carol uma a uma, e de repente ela se sentiu mais acolhida do que havia se sentido nos últimos dias.

— Vamos, Carol! — disse Fabi, entregando um copo para ela. — Hoje você vai esquecer dos problemas, pelo menos por algumas horas.

O ambiente era leve, descontraído, e aos poucos, Carol começou a relaxar. As meninas colocaram música, dançaram, riram juntas. A dor que Carol sentia ainda estava lá, mas era como se a companhia das amigas fizesse com que ela pesasse menos.

— E aí, Carol, como estão as coisas? — perguntou Drussyla em um momento mais calmo, enquanto as duas estavam na varanda.

Carol deu de ombros.

— Difícil. Estou tentando lidar, mas não é fácil.

— Estamos aqui pra você, sempre — disse Drussyla, dando um tapinha no ombro dela. — E olha, se precisar conversar, estamos todas aqui. Não precisa carregar o peso do mundo sozinha.

— Obrigada, Dru. Vocês não têm ideia de como isso significa muito pra mim.

Monique, que estava ao lado, acrescentou:

— E se precisar que a gente dê um toque na Anne... — Ela brincou, fazendo as outras rirem.

— Não precisa, meninas — disse Carol, sorrindo. — Eu vou resolver isso com ela, de algum jeito.

A festa continuou, e Carol começou a se sentir um pouco melhor. Mas a lembrança de Anne ainda a atormentava, e ela sabia que essa situação não se resolveria tão facilmente.

Quando a noite estava chegando ao fim, e as meninas estavam se despedindo, Carol se afastou um pouco, pegou seu celular e foi para um canto mais silencioso da casa.

Respirou fundo e decidiu que era hora de lidar com a outra parte do problema.

Abriu o chat com Marcela e começou a digitar.

— Oi Marcela, precisamos conversar. Você pode me encontrar amanhã? Acho que temos algumas coisas para resolver

Ela hesitou por um momento, mas sabia que era o certo a fazer. Clicou em "Enviar" e guardou o celular no bolso. Ao se juntar novamente às amigas, Carol sentiu um leve alívio. Era só o começo, mas estava decidida a encarar de frente as complicações que tinha criado.

Enquanto caminhavam de volta para casa, Gabi percebeu a expressão séria de Carol e a abraçou de lado.

— Vai ficar tudo bem, Carol. Só leva um pouco de tempo.

— Eu sei — respondeu Carol, se forçando a acreditar nisso.

Mas, no fundo, ela sabia que a conversa com Marcela seria apenas o primeiro passo em uma longa e complicada jornada para consertar tudo o que tinha quebrado.

Court Lights | BuijrolOnde histórias criam vida. Descubra agora