CAROL POVO silêncio na sala era quase reconfortante. Eu estava deitada no sofá com Anne, sentindo o calor do corpo dela ao meu lado, o peso da sua cabeça apoiada no meu ombro. Depois de tudo que havíamos vivido no retiro, e especialmente nas últimas horas, estar ali com ela parecia a coisa mais natural do mundo.
Gabi estava fora com as amigas, então tínhamos a casa toda para nós. Eu sabia que, eventualmente, teria que encarar a realidade — meu celular, as mensagens, o que viria depois. Mas, por ora, queria aproveitar o momento com Anne.
Anne deslizou a mão suavemente pela minha, entrelaçando nossos dedos. Eu olhei para ela, e havia um brilho caloroso nos seus olhos, uma espécie de ternura que me fez esquecer, por um breve momento, de tudo ao nosso redor.
— Sabia que você tem o melhor sorriso do mundo? — ela disse, com um sorriso suave, fazendo meu coração bater mais rápido.
Eu sorri de volta, sentindo um calor se espalhar pelo meu peito. A Anne conseguia fazer eu me sentir especial de um jeito que ninguém mais fazia. Deitei minha cabeça contra a dela, aproveitando a proximidade.
— Acho que você só diz isso porque não se olha no espelho — respondi, tentando manter o tom leve, mas sentindo uma onda de carinho por ela.
Ela deu uma risadinha, um som tão genuíno que me fez sorrir ainda mais. Ficamos assim por alguns minutos, apenas aproveitando a presença uma da outra, sentindo a tranquilidade do momento.
— Acho que vou pegar meu celular — falei, com um suspiro, sentindo a Anne mexer-se levemente ao meu lado.
Ela ergueu a cabeça, me olhando com aqueles olhos que pareciam sempre saber mais do que eu estava disposta a admitir.
— Não estava com saudade do celular? — ela brincou, mas havia algo na sua voz, um traço de preocupação que não passou despercebido.
— Um pouco. Preciso ver se perdi alguma coisa importante. — Eu me levantei do sofá, sentindo uma leve pontada de ansiedade. Anne permaneceu onde estava, os olhos seguindo meus movimentos enquanto eu me dirigia até a cozinha, onde tinha deixado meu celular antes de sair para o retiro.
Assim que o liguei, o aparelho vibrou com várias notificações. Mensagens, chamadas perdidas... Mas o que mais chamou minha atenção foi o nome de Marcela repetidamente aparecendo na tela. Uma enxurrada de mensagens não lidas. A cada nova notificação que surgia, sentia um peso crescente no peito.
ANNE POV
Eu observava Carol de longe, tentando não pensar demais no que ela poderia encontrar no celular. Desde que a gente se beijou, a sensação de conexão era inegável. Mas, por baixo disso, uma parte de mim ainda estava insegura, tentando processar tudo.
Quando vi o rosto dela mudar ao olhar para a tela do celular, meu coração começou a bater mais rápido. Algo estava errado. Carol ficou parada ali, lendo as mensagens, e uma expressão de preocupação se formou em seu rosto.
— Carol? — Eu a chamei, tentando esconder a apreensão na minha voz. Ela demorou a responder, o que só aumentou minha ansiedade. — O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Ela olhou para mim com um olhar confuso, como se estivesse tentando entender o que fazer.
— São só algumas mensagens da Marcela... Ela... — Carol hesitou, e eu senti meu coração afundar.
— Da Marcela? — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, e eu já sabia que aquilo ia escalar. — Por que ela tá te mandando mensagens?
Carol mordeu o lábio, claramente desconfortável com a situação. Eu estava pronta para ouvir a verdade, mas ao mesmo tempo, sentia um medo crescente de que essa verdade fosse mais complicada do que eu queria acreditar.
— Anne, eu... Eu não sei como dizer isso. A gente... — ela começou, mas eu já sabia o que vinha a seguir.
— Vocês estão juntas? — Minha voz tremia de frustração, e a expressão de Carol confirmou minhas suspeitas. — Vocês estão juntas, e mesmo assim você me beijou?
Eu podia sentir minha raiva crescendo, e me levantei do sofá, sentindo o impulso de me afastar dela. Como ela podia ter me beijado enquanto ainda estava com Marcela? A dor e a traição estavam claras nos meus olhos, e eu não conseguia esconder isso.
— Anne, por favor, me escuta! Não é assim... — Carol tentou se aproximar, mas eu levantei a mão, pedindo para que ela parasse.
— Como não é assim, Carol? Eu pensei que... Eu pensei que isso entre a gente fosse real, mas parece que você só estava brincando comigo! — Eu gritei, e minha voz ecoou na sala vazia. As palavras saíam antes que eu pudesse filtrá-las, carregadas de raiva e dor.
Carol parecia perdida, como se não soubesse o que dizer para consertar as coisas. Ela tentou se aproximar novamente, mas eu me afastei mais uma vez, sentindo que precisava colocar distância entre nós.
— Anne, eu... Eu não queria que fosse assim. Eu não queria que você se magoasse. Eu só... Eu só não sabia o que fazer com tudo isso. — As palavras dela foram ditas com sinceridade, mas não foram suficientes para amenizar a dor que eu sentia.
— Você não sabia o que fazer? E eu? O que eu deveria fazer agora? Fingir que nada aconteceu? — Eu balancei a cabeça, sentindo as lágrimas começarem a se formar, mas eu as contive. — Não dá, Carol. Não dá pra continuar assim.
O silêncio que se seguiu foi pesado e sufocante. Eu sabia que, se continuasse ali, ia acabar dizendo ou fazendo algo de que me arrependeria. Então, antes que Carol pudesse tentar me convencer do contrário, eu me virei e saí, deixando-a sozinha na sala.
CAROL POV
Fiquei ali, paralisada, enquanto Anne saía pela porta. Queria correr atrás dela, explicar tudo, tentar consertar o que eu havia estragado. Mas, no fundo, sabia que talvez fosse tarde demais.
A dor no peito era esmagadora, e as mensagens de Marcela ainda piscando na tela do meu celular pareciam um lembrete cruel do quão complicada minha vida havia se tornado. Eu sabia que precisava fazer alguma coisa, mas não conseguia pensar em nada além da expressão de dor nos olhos de Anne quando ela percebeu que eu estava com outra pessoa.
Deixei-me cair de volta no sofá, sentindo o peso das escolhas que fiz. Queria ligar para Anne, mas sabia que precisava dar a ela algum espaço. E quanto a Marcela... As mensagens ainda estavam ali, esperando por uma resposta, mas eu não sabia como responder. Como poderia explicar tudo o que havia acontecido sem machucar ainda mais as pessoas que eu amava?
Por enquanto, a única coisa que eu podia fazer era esperar. Esperar que a Anne encontrasse uma forma de me perdoar. Esperar que eu encontrasse uma forma de consertar tudo. E, enquanto eu esperava, me sentia mais sozinha do que jamais havia me sentido.
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Court Lights | Buijrol
Roman d'amourSinopse: Quando a promissora jogadora de vôlei Anne Buijs é transferida para o Sesc Rio, ela imediatamente desafia Carolana, a estrela da equipe, tanto em quadra quanto fora dela. A tensão entre as duas é palpável, e o que começa como uma rivalidad...