Dezesseis

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Zayn Rocco

Falta pouco para que eu chegue em casa. Meus pés doem de tanto sustentar meu corpo ao longo do dia, meu corpo é tomado pela fadiga, tenho que resistir a vontade de me jogar no chão e dormir pela rua. Eu olho para o relógio em meu pulso e vejo que falta pouco para meia-noite. Droga! Meia-noite e eu não avisei minha mãe que sairia, ela deve estar preocupada. Como será que ela vai lidar com essa situação? Talvez atirar coisas em mim, gritar, ficar louca... a lista pode ser muito extensa porque uma vez que conheço pouco minha mãe, não é possível definir seu temperamento.

Eu não conheço o temperamento da minha mãe, mas reconheço bem o temperamento da mãe de Lauren. Neste momento ela iria gritar com Lauren e depois de um minuto pediria perdão e jogaria a culpa em suas costas. Por um momento eu paro no meio da rua e percebo que eu conheço mais a vida de Lauren do que a minha. A vida que eu pensei ser minha é uma completa mentira, por um lado isso é realmente maravilhoso. Porque pensar que eu não sou assassino e que não estou sendo perseguido pela polícia é ótimo, mas as vezes eu fico me perguntando quem eu sou de fato. Quem eu sou? Eu ainda me culpo pelas mortes que eu causei no coma. Diva, a professora que pode nem ter existido e ainda me culpo pela morte dela. E me culpo também pelo policial que matei na balada. O moço do barco que atingi com um martelo. Isso tudo não aconteceu na realidade, mas para mim foi como se tivesse e me sinto culpado. Me sentir culpado por um lado é bom, visto que quando eu me conhecia como Ethan não sentia remorso ou culpa alguma. Não me conheço. Só que agora sei que sou humano e posso ter emoções como um, não é a melhor coisa do mundo saber disso. Mas de todas as situações que me encontro esses pensamentos são os melhores.

Quando coloco meus pés para dentro de casa meu corpo congela, porque me assusto ao olhar para minha mãe sentada no sofá. Ela estaria me esperando? Ela costuma dormir mais cedo... Não consigo saber o que ela pensa, suas feições são indescritíveis. Estou realmente com medo. Não que eu seja covarde, porém o que irei dizer?

-Mãe... -Começo a tentar me desculpar.

-Suba! -Ela responde sem rodeios.
-Oi? -Pergunto sem realmente entender o que ela quer de fato.

-Vá para seu quarto. Pensei que tinha mudado mas não, você fez como sempre fazia. Eu não estou com cabeça para conversas, amanhã eu resolvo o que tiver que resolver com você. -Ela desabafa.

O que ela quis dizer? Talvez já esteja acostumada comigo sumindo no meio da noite. Será que quando eu tinha dezesseis anos já fazia esse tipo de coisa? Eu não sei, mas minha mãe sabe de muita coisa e se preocupa. Eu deveria ter avisado. Eu não pensei nela... eu só estava com Lauren na minha cabeça! Eu sei que já sou adulto, tenho dezoito anos, só que eu devo satisfações a minha mãe. Eu moro na casa dela, dependo dela e não sei fazer nada. Eu tenho que focar mais na minha escola e em arranjar um emprego, depois que eu resgatar Lauren eu vou para onde com ela? Tenho que planejar isso bem, com certeza ela vai ficar na casa de seus pais por um bom tempo. Mas e depois? Ela vai ver que eu sou inútil e vai me largar. Estou sendo pessimista novamente. Eu não posso deixar esse sentimento me abalar, apesar de ter marcado menos um ponto com minha mãe, ela continua sendo minha mãe. Sei que ela e meu pai não vão me abandonar, meu pai tem dinheiro bastante para me ajudar a abrir um negócio ou pagar uma faculdade. Acho que ele está disposto a me ajudar. Ou não está? Eu devo dedicar um pouco do meu tempo a eles, não por interesses e sim para descobrir quem eu sou. Mas é que tenho tanta coisa na cabeça! Lauren é minha prioridade, ela é a única pessoa em que confio e a única que conheço.

Penduro o quadro que ganhei de Sarah na parede do meu quarto e depois sigo para o banheiro onde faço minha tradição que faço sempre antes de dormir, vou para o banheiro me despido e me enfio de baixo da água quente do chuveiro. Eu deixo a água bater no meu corpo, então eu faço algo que não estava na minha tradição. Eu começo a chorar. Não começo a chorar normalmente, eu pareço um louco chorando e soluçando sem parar. É tão horrível quanto uma criança fazendo birra, mas por outro lado é ótimo. É isso de que minha alma precisa, preciso colocar toda angústia e confusão dos meus sentimentos para fora. Não preciso conversar com ninguém, eu me conheço mais que todos e me compreendo melhor do que qualquer um. Posso simplesmente deixar que as lágrimas façam seu trabalho de amenizar todo conflito emocional que estou passando ultimamente. É bem tarde quando fecho o chuveiro e seco o meu corpo com uma toalha do Ben 10. Eu fiquei tanto tempo de baixo do chuveiro que devo ter desperdiçado muita água, os ambientalistas devem estar com ódio de mim nesse exato momento. Eu não tive a intenção do desperdício, só não vi o tempo passar. Tantas coisas acontecendo comigo que me importar com o meio ambiente. Deslizo para dentro do roupão de banho, jogo meu corpo contra minha cama sem a maior animação de colocar um pijama.

Até o Nosso Tempo AcabarOnde histórias criam vida. Descubra agora