Dezenove

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Zayn Rocco.

Eu e Camila sentamos no chão com um caderno na mão, caneta e calculadora. Estendo o dinheiro que meu pai nos deu para financiar a viagem. Espero ela terminar os cálculos e já sei o que ela vai dizer, talvez ela esteja fazendo as contas só para não dizer diretamente para mim que o dinheiro é pouco.

-Esse dinheiro não é o bastante, Zayn. Alugar um barco é caro, não sabemos se vamos ter que consertar o carro no caminho ou outra coisa. -Ela vai me informando. -Precisamos de uma quantidade maior de dinheiro.

-Posso conversar com meu pai e ver o que podemos fazer. -Digo.

-Você vai ter que contar a verdade para ele. A distância que vamos percorrer é muito maior do que ele pensa.

-Também acho. Ele vai entender.

É quando eu saio do quarto, passo na cozinha e percebo que minha mãe ainda está ocupada. Faço minha caminhada até o quarto do meu pai e bato na porta. Ele grita que posso entrar.

-Fez as contas e viu que o dinheiro não é suficiente? Senta aqui filho e me conte toda a verdade sobre essa viagem. -Ele  fala. -Sua mãe ainda está muito ocupada?

Faço um sinal com a cabeça para indicar que minha mãe está ocupada. Isso nos dá privacidade para uma conversa de homem para homem. Meu pai está sério, sua testa está enrugada, como se estivesse tentando entender tudo. Ele sabia de toda mentira já no início? Ele deve ter percebido e ajudou bastante para enganar minha mãe. Deve ter percebido nossa vontade de rir e até fez uma piada para descontrair. E eu achando que ele era inocente...

-Pai, eu estou precisando ir para Panama City, não é muito longe. Só que também não é muito perto. Além de ter bastante despesas fazer uma viagem para longe, tem problemas que podem acontecer na viagem... -Eu digo.

-Posso saber o por quê de você querer tanto ir para Panama City? Fica na Flórida, certo? -Ele pergunta e percebo que não tenho mais saída.

-Certo. Eu estou indo porque preciso ajudar uma amiga...

-Aquela tal de Lauren que sua mãe mencionou? -Ele indagou.

Como ele faz esse tipo de coisa? Como ele pode adivinhar tão bem? Eu olho em volta do quarto para procurar uma bola de cristal.

-Sim, ela mesmo. -Assenti.

-Quando eu tinha sua idade, também fiz loucuras por amor. Parti muitos corações e me arrependo. Tente não magoar  Camila, mas também não faça uma escolha errada.

-Tudo bem...

Eu digo sem talvez entender muito bem o que ele quis dizer. Mas se ele estiver dizendo sobre eu estar divido entre as duas ele está adivinhando certo de novo... Isso me assusta, ele é tão sábio quanto posso imaginar.

-Eu tinha aberto uma conta no banco e estava colocando aos poucos um dinheiro mensalmente. Isso faz uns dois anos, nem me lembrava mais dessa conta. As coisas estão indo tão bem na minha loja que nem preciso desse dinheiro. -Meu pai diz. -Tem dez mil depositado nessa conta, eu lhe darei um cartão e você pode usar do jeito que preferir. Só te peço uma coisa meu filho, não use drogas.

Quando entro no quarto, Camila logo me pergunta o que tinha acontecido. Eu faço uma cara de desânimo para pregar uma peça nela.

-Conseguiu mais uma coisa? Por que essa cara triste?

-Não sei se consegui. Será que dez mil reais dá para alguma coisa? -Digo. 

-Dez mil reias? -O rosto dela se ilumina e logo fica de boca aberta. -Vai ser a melhor viagem que vou fazer em toda minha vida.

Até o Nosso Tempo AcabarOnde histórias criam vida. Descubra agora