Capítulo 26

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 PETE


— Claro, sem problemas. — Respondi pela milésima vez a representante da empresa que teria uma reunião apenas dali duas semanas. — Está marcada e não teremos mudanças. Ao menos, nada previsto.

Obrigada por me atender pela quinta vez. — Revirei os olhos, já contabilizando em minha mente que se passou da décima. — Tenha um bom dia, senhor Saengtham.

— Um bom dia para você também, senhorita Pinheiro.

Coloquei o telefone no gancho e encarei minha nova mesa, completamente incrédulo. Não conseguia entender como esses assistentes suportavam seus chefes que mandavam confirmar o mesmo compromisso dezenas de vezes. Qual era a real necessidade daquilo?

— Deixe-me adivinhar. — A voz de meu mais novo chefe chegou a meus ouvidos. Levantei o olhar, encarando-o. — Mais uma vez a assistente dos Garcia? — indagou, e assenti, sem conseguir disfarçar meu claro desagrado por ter que lidar com aquilo. Infelizmente, era uma das partes odiosas de meu trabalho. Nem tudo era perfeito.

— Minha cara entrega, não é? — indaguei, e ele assentiu. Heitor Almeida se mostrava um bom chefe.

— Pode se dizer que sim. — Sorriu, e caminhou até minha mesa, deixando uma pasta sobre a mesma. — Preciso que leve isso até Glenda, tudo bem? — indagou e assenti no mesmo instante. — Fiquei preso o dia todo em reuniões e sequer conseguimos falar sobre o que queria. Pode ser agora?

Ele era o típico chefe preocupado. De alguma forma, via em seu olhar que por mais que já tenhamos nos envolvido, Heitor parecia completamente alheio aquilo. O que era perfeito em minha posição. Não buscava mais nenhum caos na vida.

Ainda mais nesse momento, em que sentia que tudo se encaminhava.

— Claro. — Engoli em seco, e ele apenas continuou a me encarar. — Pode ser aqui mesmo? — indaguei, e ele assentiu, sentando-se na cadeira a minha frente, sem parecer incomodado.

Nos anos trabalhando na Theerapanyakul, encontrei diversas vezes, pessoas que usavam seus cargos como desculpas para não poderem se sentar em uma simples cadeira. Se fossem esperar, que fosse em um local especial. Se fossem se sentar, apenas a frente de outra pessoa com o mesmo patamar, em suas mentes.

— Bom, é que descobri que estou grávido. — falei sem conseguir enrolar e ele piscou algumas vezes, como se absorvendo a informação. — Sei que isso não constava nos documentos que assinei, e no que afirmei, mas... Realmente, não tinha ideia. Descobri ontem e...

— Ei ei! — levantou as mãos, abrindo um leve sorriso. — Inesperado, certo?

— Completamente. — Respondi de imediato. — Sei que pode parecer estranho, e até mesmo, atrapalhar em algo no trabalho, mas...

— Muitos meses até o bebê vir ao mundo? — indagou de repente, deixando-me sem entender. — Não tenho por que duvidar da sua palavra. Te conheço há anos e sei o quanto já te admirava como profissional antes de vir para cá. Então, não pense que teremos algum problema por isso.

— Não sei nem o que dizer. — Soltei o ar que mal sabia que segurava. — Mas muito obrigado, senhor Almeida. Ele riu, balançando a cabeça em negativo.

— Heitor. — Corrigiu-me mais uma vez. — Todos me chamam assim, sabe bem disso.

— É o costume. — Dei de ombros, e ele pareceu entender.

— Vou levar os papéis até a senhora Cortês. — Apressei-me a dizer, e peguei a pasta em mãos.

— Certo. A reunião exterior serás as seis horas? — perguntou, encarando seu relógio no pulso.

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