Capítulo 7

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PETE

A noite passou em um estalar de dedos. Para curar minha falta de sono apenas uma boa maquiagem, que me fazia parecer pronto para pedir demissão, e não a ponto de querer mandar tudo aquilo a merda. Já dentro do elevador privativo, encarei meu reflexo, e notei que estava, aparentemente impecável. Por que não conseguia me sentir daquela forma, então?

Suspirei, e segurei com força a pasta em minhas mãos. Nela, estava o papel completamente detalhado sobre que queria, e ainda mais, a solicitação de dispensa do aviso prévio. Não queria abrir minha boca e discutir sobre o assunto, e aquela, era a maneira mais fácil de agir. Colocar aquele papel a frente de Vegas e torcer para que não se negasse a me dar o que pedia. No fundo, sentia que ele não o faria. Já que me queria o mais longe dali, com toda certeza, não me ter durante o aviso prévio seria um alívio.

O elevador parou e adentrei o andar que tanto se tornou conhecido. Seis anos sendo meu dia a dia. Desde o momento em que fui aceito por Macau em minha entrevista de emprego, até o momento em que passei a trabalhar com Vegas.

Amava o trabalho e a forma como construíra minha carreira. Formado em economia, com foco no ramo empresarial, ser assistente executivo de pessoas tão poderosas era como ter uma ampla e aguçada visão do mundo dos negócios. Até mesmo as reuniões maçantes eram algo que me interessava.

Esperava poder me reencontrar em outro lugar além dali. Obviamente, nunca mais me envolveria com alguém do trabalho – muito menos meu chefe. Caminhei a passos certos e decididos, e encarei rapidamente meu relógio de pulso. Oito horas, e com toda certeza, Vegas já estaria em sua mesa. Parei a frente da grande porta de madeira escura, e sequer olhei em direção a minha mesa. Trouxera uma bolsa grande o suficiente para poder levar o que fosse necessário. Sem cena dramática de sair com uma caixa em mãos. Aquela parte, realmente, era dispensável.

O que se passava ainda, e que me impedia de simplesmente bater naquela porta e lhe entregar minha carta de demissão, consistia no fato de que era a semana para a qual me preparava a meses. Todos na empresa o fizeram, e de repente, não estaria envolta do que aconteceria, muito menos, trabalharia para aquilo. Na realidade era humilhante. E por mais que quisesse agir como alguém que conseguia controlar tudo, não existia chance de fingir que Vegas não fizera aquilo. Ia além do fato de ele não me amar, já era esperado. Porém, nunca esperei tanta falta de consideração. Ao menos, pensei que meu lado profissional fosse algo importante para ele.

Sem querer mais pensar, bati duas vezes na porta, e a abri em seguida. Ao contrário do que imaginei, Vegas não estava em sua mesa. Notei-o de costas, encarando a bela vista da parede de vidro a sua frente. Em uma mão segurava algo, e a outra, parecia estar dentro do bolso. Alguns segundos se passaram, e ele pareceu perceber minha presença. Virou-se devagar, e permaneci firme, sem demonstrar nada.

Ao menos, tentava. Seu olhar desceu para a pasta que carregava. Notei então que em uma de suas mãos estava um copo de uísque, o que era relativamente estranho, naquele horário no trabalho. Porém, não era um problema meu.

— Bom dia, senhor Theerapanyakul. — falei, e dei um passo à frente, enquanto ele apenas me analisava. — Aqui está minha carta de demissão. — Depositei a pasta sobre a mesa.

Ele levou a outra mão ao rosto e a passou pelo queixo, como se não estivesse nem um pouco surpreso com aquela atitude. Se me conhecesse, ao menos um por cento, saberia que não voltaria atrás naquela decisão. Não trabalharia mais com ele.

Sem dizer absolutamente nada, ele parou a frente de sua mesa e pegou a pasta em mãos, abrindo-a. O silêncio perdurou, enquanto ele lia atentamente cada linha, e não pude evitar de o analisar por alguns segundos. Ele era lindo, um fato incontestável. O contraste do despojado em seu íntimo, junto ao homem frio mostrado no âmbito do trabalho. Talvez aquela fosse uma das razões para ter me apaixonado. Ele ter me mostrado uma parte de si, longe do trabalho e além do sexo.

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