Penúltimo Capítulo

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VEGAS


Casa.

Sorri ao finalmente adentrar o elevador do prédio de Pete. Por mais que ainda não o tivesse convencido a morar comigo, ou me mudado para sua casa. Sabia que onde ele estivesse, poderia chamar de lar. Era estranho, porque nunca imaginei que em tão pouco tempo tudo estaria assim. Porém, se transformara.

Todos os dias era o que tentava transparecer, e sentia que ele fazia o mesmo. Não era pelo filho que esperávamos, existia o nós em toda equação. Estar com Pete, quase todas as noites e manhãs, mostrava-me o quanto sempre quis algo e nunca percebi. E o quanto, era valioso o que tinha em mãos. Um amor verdadeiro não era algo que se encontrava esporadicamente.

Nunca pensei que encontraria. Porém, lá estava ele, justamente nele. O homem que sempre me pareceu proibido. Suspirei, quando finalmente, o elevador parou. Duas semanas longe apenas reafirmaram o que já tinha plena certeza: não era pelo sexo. Não teria como ser. Era sua presença. Seu abraço e seu laço sem querer me soltar. O que tínhamos era cultivado e realmente, gostava de lhe dizer aquilo.

Porque mesmo sem procurar amor, encontrei-o no momento em que meus olhos bateram nos seus há seis anos. Talvez o amor realmente estivesse relacionado ao momento certo. E ali estávamos. Sorri ao encontrar Nina saindo do apartamento de Pete, e parei para cumprimentá-la.

— E aí, Tony? — indagou, dando-me um leve beijo no rosto. Apenas sorri, pois sabia que aquele era seu jeito de me chamar, nada mudaria. — Como foi de viagem?

— Olá, Nina. Bom, muito trabalho... e saudade. — Ela revirou os olhos e acabei sorrindo. Nina era completamente avessa a tais demonstrações. — Veio fazer companhia a Pete? — perguntei, já que Pete sequer mencionou o fato de a irmã estar em São Paulo.

— Na verdade, estou mais para fada madrinha hoje. Ou titia madrinha. — Olhei-a sem entender. — É bem simples, vai me dar sua mala, e vou te vendar. Aí, vou abrir a porta e depois, Pete vai te guiar pelo apartamento.

— Uma surpresa? — perguntei, já desacreditado. Raramente alguém o fazia para mim.

— Exatamente, Sherlock! — provocou e levantou a venda preta em suas mãos. — Então, posso?

Assenti, e lhe entreguei a mala. Não entendia ao certo o que acontecia, mas se poderia esperar algo de Pete, sabia que era bom. Qualquer coisa, por simplesmente tê-lo por perto, seria o suficiente.

Nina me vendou e de repente, apenas continuei parado.

— Um segundo. — pediu, e ouvi a porta sendo aberta. - Um cheiro característico me atingiu segundos depois e sabia que Pete estava por perto. Ou melhor, a poucos passos.

— Ei, baby.

Sua voz baixa chegou a meus ouvidos e ele tocou meu rosto com carinho, dando-me um leve beijo. Não pude resistir, e o aprofundei. A saudade que sentia, apenas contribuía para que minhas mãos a puxassem para mais perto. Assim como, toquei sua barriga, sentindo-me próximo de nosso filho mais uma vez.

— Vem! — pediu, quebrando o beijo e o segui, sendo levado com cuidado pelo apartamento. — Não é como se você não conseguisse se virar aqui, já que sabe o trajeto de cor, mas... Vai entender depois. — Suspirou fundo e me guiou até o que senti ser o balcão da cozinha.

De repente, me indicou a banqueta colocando minha mão sobre a mesma para reconhecê-lo e pediu para que me sentasse.

— Bom, temos duas coisas a sua frente e... Ok, não sou boa nisso, mas saiba que está sendo gravado. Então... Sinta-se pressionado a descobrir o que significa! — comentou e gargalhei, sabendo que sutileza não era o seu forte.

— Senti saudades, carinho. — falei, ainda com sua mão na minha. Ele me deu um leve tapa no braço e beijou minha bochecha em seguida.

— Palavras fofas não vão te ajudar aqui. — Transformou-se em um ditador e apenas sorri. — Aqui, é uma colher.

Peguei o utensílio e engoli em seco. Poderia esperar de tudo, menos o que acontecia naquele exato momento. O que Pete estava aprontando?

— Vou pegar algo com a colher e daí, você tem que experimentar e me dizer o que é. — explicou e assenti.

— Nada de pimenta, certo? — indaguei e ouvi seu riso baixinho.

— Apenas coma. — pediu, como se ansioso para que o fizesse.

Então, ele colocou a colher novamente em minha mão, e senti-a mais pesada. Mesmo desconfiado, levei-a a boca, e o suave sabor de banana me atingiu. Parecia exatamente o que comia quando pequeno.

— Parece a papinha que minha mãe fazia. — falei, e tentei raciocinar sobre. — Carinho, já sei que estamos grávidos. - Ele gargalhou alto, e retirou a colher de minha mão.

— Bom, já que sabe tudo... Talvez queira experimentar a próxima. — falou e logo senti outra colher em mãos.

— O que eu ganho se acertar a segunda? — indaguei, e parei com a colher a poucos centímetros da boca.

— Acredite, você vai gostar de saber.

— Ok, confio em você. - Ouvi seu suspiro e levei a colher a boca, e o mesmo gosto me atingiu. Por alguns segundos apenas fiquei indagando o que poderia significar. Mas nada me veio em mente.

— É papinha de banana. — comentei. — A mesma que minha mãe sempre deu a Macau e eu...

Parei de falar, e no segundo seguinte, a venda foi retirada de meus olhos. Minha mente girou, quando comecei a juntar os pontos, e principalmente, quando meus olhos recaíram para barriga exposta de Pete, que levava o escrito: aqui batem dois corações. Em seu colo, ele pegou Omen, que como sempre, fazia parte do momento. Com a plaquinha da vez, apenas senti meu coração falhar uma batida.

Duas irmãs humanas, como vou fazer?

Saí da banqueta e parei a sua frente, caindo de joelhos em seguida. As lágrimas me cegavam, assim como, a ele. Em meio aos sorrisos que eram gigantes entre nós. Nunca me imaginei naquele exato momento, mas sabia, que não existia outra pessoa no mundo, com a qual, queria e poderia compartilhá-lo.

Era ele, sempre fora. E para sempre seria... amada por mim.


"Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se...

Independentemente do tempo, lugar ou circunstância...

O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir."



Continua...

REJEITADOOnde histórias criam vida. Descubra agora