Capítulo 31

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PETE


Semanas depois...

— Pegou todo o necessário? — indaguei, e por um segundo, senti que agia feito uma maluca.

Meu coração estava angustiado, ainda mais, por saber que seria além de um final de semana. Na realidade, mais de duas semanas longe de Vegas. Era algo novo em nossa rotina e sabia que teríamos muito mais. Assim como, eu partiria dias depois que ele chegasse em São Paulo novamente. Era o nosso trabalho e a nossa vida.

— Infelizmente, não tudo. — falou e tocou meu rosto, assim como, minha barriga que já estava grande. — Me acostumei tanto com a gente que estou sofrendo antes mesmo de ir.

Ora essa! Temos um homem apaixonado no recinto. — brinquei, tentando aliviar a tensão, e enlacei seu pescoço.

— ​ Também vou sentir saudades. Aliás, nós vamos. — comentei, e no mesmo instante, Omen passou por suas pernas. — Mas a nossa vida era assim antes, e não temos como mudar.

— Vamos nos adaptar, eu sei. — falou e puxou-me para si, unindo nossos lábios. — Apenas não me acostumei a não te ter por perto, em todos os sentidos.

— Sem usar seu charme barato para tentar me seduzir e ser seu assistente de novo. — Pisquei e toquei seus lábios com os dedos. — Lucas tem feito um ótimo trabalho e sei disso pelo que me fala, aliás, já tenho um emprego.

— Sei que não vai ceder a isso, mas não pode me culpar por tentar.

— Posso sim. — Ralhei e toquei sua barba por fazer. — Aliás, mantenha-se atento a todos os olhares.

— Como assim? — indagou e bufei, revirando os olhos.

— Eu sei muito bem o que rola após o último dia de reuniões. — comentei e ele balançou a cabeça.

— Vou estar no primeiro voo de Salvador para São Paulo, tenha essa certeza. — Beijou-me novamente, e ouvi o toque de seu celular. — Gouvêa deve ter chegado.

— Vai lá, CEO! — sorri e por um segundo, quis memorizar cada pequeno detalhe de seu rosto. — Que eu ainda tenho que trabalhar hoje.

— Eu te amo, carinho. — Beijou minha testa, e logo, se ajoelhou, dando um leve beijo em minha barriga exposta. — O papai te ama, bebê.

— Precisamos de um apelido. — comentei, fazendo uma careta, ao mesmo tempo que me derretia por suas palavras e toques. — Vou ver se pego de algum livro.

— Sei que fará o melhor. — Levantou-se e me deu um último beijo. Sorri, e disse contra sua boca: — Também te amo, baby.

Ele piscou, e o segui até a porta, ficando escorada contra a mesma, enquanto ele afagou a cabeça de Omen, que assim como eu, assisti-o entrar no elevador. Aquela cena clichê em que o casal brigava e um analisava o outro no último instante. Ao menos, não era o nosso. Era apenas um até logo, e mesmo assim, meu coração estava pequenininho.

— Pois é, Omen! — comentei, assim que as portas do elevador se fecharam. — Eu, você e seu irmão de novo. — falei, e fechei a porta, sentando-me no chão. — O que isso te lembra? — ele veio até mim, passando as patinhas em minha barriga. — ​ Com certeza sua mãe pirada e cantando muito sertanejo.

Sorri, passando a mão pela barriga e me lembrando que sequer desconfiava, naquela época, que ali dentro já começou uma vida. Naquela mesma noite em que Vegas e eu colocamos um ponto final, dentro de mim, um elo eterno se iniciou.

— Vamos para nossa playlist de bad agora. — falei, e me levantei, andando até o sofá.

Ainda me restavam uma hora até ter que começar a me arrumar para o trabalho. Selecionei o clipe de Take Your Time, e pela primeira vez, tive a certeza, que mesmo com a distância entre nós, existia sentimento. Que nós não éramos contados pelos passos ou quilômetros. Éramos contados por cada segundo que dividíamos longe ou perto. Juntos ou separados. Vegas e eu éramos partes de histórias de vida diferentes, cada qual, orgulhoso e quem sabe, frustrado em algum momento. Nos encontrávamos em uma fase que o laço vermelho que nunca imaginei me pertencer, nos puxou para perto de forma a não querer soltar. Não era pelo bebê. Nunca o fora.

Sabia daquilo pelo dia a dia. Pelas horas perdidas e ganhadas juntos. Pelas escolhas feitas antes mesmo de sabermos que seríamos pais. Pelas ideias mirabolantes e o carinho descomunal que ele criou pelo meu gato, como se fosse dele. Pelos jogos de carta na madrugada após fazermos amor ou fodermos loucamente por horas. Pela falta de vontade de sair para jantares chiques e o tanto que os aplicativos de comida lucravam conosco. Pela sinceridade em cada momento. Pelo amor compartilhado sem medo, mesmo contra todas as suposições que poderiam existir.

Vegas se tornava a cada dia, além de um amor, o único. A insegurança que existia em mim, permanecia ali, entretanto, trabalhada a cada instante, assim como a sua.

Não existia espaço entre nós para sofrer por algo imaginado ou pelo que nos fora causado. Ele não era como o homem que abandonou minha mãe, e por mais que minha mente gritasse cuidado para meu coração, minha alma tinha certeza.

Perdi-me tanto em pensamentos, que de repente, já estava em outra música. Sorri, ao ver Alicia em frente a um piano. Ainda mais, cantando a minha favorita sua. Levantei-me e peguei o controle como meu microfone, acompanhando-a no mesmo instante.

"Algumas pessoas vivem para a fortuna Algumas pessoas vivem apenas para a fama Algumas pessoas vivem para o poder, yeah

Algumas pessoas vivem apenas para jogar o jogo Algumas pessoas pensam que as coisas materiais Definem o que elas são por dentro

Eu já me senti assim antes, Mas a vida era sem graça..."

— Agora, Omen! — gritei e seus olhos azuis me acompanhavam atentos e soltei a voz.

"Algumas pessoas querem tudo

Mas eu não quero absolutamente nada Se não for você, querido

Se eu não tiver você, querido

Algumas pessoas querem anéis de diamante Algumas apenas querem tudo

Mas tudo não significa nada

Se eu não tiver você, yeah"

Gargalhei alto e dei um giro, apontando para Omen, ao mesmo tempo que a imagem de Vegas deitado naquele sofá, e conosco perdidos um no outro ali mesmo, tomavam conta de minha mente. Pela primeira vez em minha vida, conseguia entender de fato porque apaixonados pareciam tão exagerados pela saudade. Pela primeira vez, sentia o quanto não me aterrorizava o fato de que Vegas entrou em minha vida apenas para somar. Para ser parte de minha paz.



Continua...

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