Capítulo 6

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PETE

A raiva me fez rumar diretamente para casa. Apenas consegui trocar meia dúzia de palavras com o porteiro, que consistiram em proibir a entrada de Vegas Theerapanyakul. Deixei uma lágrima descer, e limpei-a rapidamente. Como se ele fosse tentar aparecer por ali e se desculpar por ser desumano.

Tive que rir sem vontade de me minha ilusão. Escorei-me contra a porta e me lembrei que não era do tipo que chorava sóbrio. Uma bebida e poderia me debulhar em lágrimas a noite toda se quisesse.

Entretanto, não seria o bastante. Precisava dar um ponto final. Como diria minha mãe: arrancar o mal pela raiz. Doía saber que aquele mal era Vegas, e mais, custava o emprego que tanto amava. O emprego que tanto batalhei para conseguir.

Desde o momento em que realizei meu sonho de estudar na cidade que sempre idealizei como lar, até o momento, em que São Paulo se tornou tal lugar. Fui em direção a sacada, e encarei os belos prédios, a movimentação da rua, o trânsito, as pessoas...

Suspirei fundo e levei as mãos a cabeça. Vegas nunca conseguiria tirar aquilo de mim. Não me mudaria e deixaria aquele sonho de vida morrer por aquele emprego.

Tinha um ótimo currículo e com toda certeza, Macau me daria uma boa recomendação. Era o suficiente para recomeçar em outra empresa e ainda mais, manter minha vida ali. Senti algo macio passar por minha perna e me permiti sorrir. Sentei-me no chão no mesmo instante, e encarei minha pequena bola de pelos.

— Como foi seu dia, Omen? — indaguei, e ele ronronou, acomodando-se em meu colo. — Pelo jeito, não tão animado quanto o meu. — Suspirei e apenas foquei no único homem que realmente valera a pena em minha vida, Omen Saengtham. Só poderia ser ele, pois era meu filho, ainda por cima, felino. — Bom, lembra do cara no qual se esfregou ontem? Então, ele queria nos mandar para outra cidade, longe da nossa casinha... — olhei em direção ao céu, e senti a dor daquilo. — Se ele ao menos tivesse me perguntado, tivesse me chamado para conversar... Por que ele não pode agir como um profissional, Omen? Ou quem sabe, como um velho amigo, mesmo sabendo que não somos? Sei lá, acho que esperava muito de Vegas, mesmo que soubesse que seu amor era improvável. O mínimo de consideração, talvez?

Levantei-me com Omen em meu colo e adentrei a sala de estar. Joguei-me contra o sofá e repassei o dia de hoje, na realidade, queria esquecê-lo. Sabia quais eram os próximos passos, mas não queria pensar. Teria que apresentar minha carta de demissão e ainda, cumprir o período de aviso prévio. Pensei em como seria ainda trabalhar lado a lado com Vegas depois daquilo. Suspirei, deixando minha bolinha de pelos, sobre o estofado, e me levantei, indo até a bolsa jogada ao lado da porta.

Apenas uma pessoa poderia me ajudar, e com certeza, me xingaria de todos os nomes possíveis. Entretanto, era minha melhor saída. Assim que ela atendeu, nem lhe dei tempo de dar oi.

— Que tal ter sua irmã por um bom tempo ao seu lado? Tocando o negócio da família? — perguntei de imediato, e tentei parecer animado. No fundo sabia, precisava de férias.

O que diabos aquele filho da puta fez para você?

Gargalhei alto, pois sabia que aquele era o jeito Nina Saengtham de deixar claro que iria até o inferno por mim.

Infelizmente, sentia-me nele naquele momento.

— Sabe aquele seu amigo advogado? —indaguei, e prendi o lábio inferior. — Disse uma vez que ele era o melhor. Preciso de um bom advogado agora, para me orientar no que fazer caso Vegas não aceite meu pedido de isenção de aviso prévio.

Ok. — Limpou a garganta rapidamente. — Vamos começar pelo começo... O que aconteceu?

Suspirei profundamente, e voltei para o lado de Omen. O gato manhoso apenas dormia, claramente, feliz em seus sonhos.

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