Entre o Fogo e a Maré

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Duas semanas depois

Buck manteve suas idas ao psicólogo em segredo. Ele não se sentia preparado para conversar sobre seus traumas com os outros, mas tinha plena consciência de que um dia precisaria. Ele só esperava se sentir preparado o suficiente para não desabar na frente da sua família.

Na sala de Frank, depois de alguns momentos de silêncio:

— Buck, parece que há muita coisa acumulada dentro de você. Podemos começar por qualquer um desses eventos que estão pesando mais na sua mente. O que você sente que precisa ser dito?

— É difícil escolher por onde começar... A explosão do caminhão foi o início de tudo. Quando aconteceu, eu senti que minha vida estava escapando de mim, e tudo ficou escuro. Depois veio a cirurgia... Eu sabia que era necessário, mas me senti tão vulnerável. Eu, o cara que sempre corre em direção ao perigo, de repente preso a uma cama de hospital, sem saber se conseguiria voltar a ser quem eu era.

— Essa sensação de vulnerabilidade deve ter sido assustadora. Você já havia passado por tantas coisas antes disso. O que foi mais difícil para você durante essa recuperação?

— Acho que foi perceber que eu não era invencível. Sempre me vi como alguém que podia superar qualquer coisa, mas ali, deitado naquela cama, eu me sentia impotente. E mesmo depois de voltar ao trabalho, nunca foi a mesma coisa. A sombra daquele acidente ainda está comigo, cada vez que coloco o uniforme.

— E como isso te afetou, especialmente quando o tsunami aconteceu?

Buck suspirou, olhando para o chão.

— O tsunami... Eu estava tentando ser forte para os outros, mas por dentro, eu estava um caos. Eu vi a destruição, as vidas que não consegui salvar... E não parava de pensar na minha família, no que poderia acontecer com eles. Depois que tudo terminou, a culpa e o medo me atingiram de uma forma para a qual eu não estava preparado. — Buck enxugou as poucas lágrimas que caíam de seus olhos. — E a pior parte foi ter perdido o Chris em meio àquele caos. Eu me culpei muito por colocá-lo em perigo, especialmente quando eu deveria ter protegido ele. — Disse com convicção. — Eddie nunca me perdoaria, e eu definitivamente não saberia lidar com isso.

— E como sua família se encaixa nisso? Você mencionou um trauma relacionado a eles. — Frank, percebendo que aquele assunto era um gatilho, mudou o rumo da sessão.

— Acho que sempre fui o cara que queria proteger todo mundo, mas nunca senti que minha família estava lá para me proteger. Eu sei que eles se importam, mas parece que eu sempre fui o segundo plano, sabe? Então, quando enfrentei esses momentos, me senti sozinho, como se ninguém realmente entendesse o que eu estava passando. — Buck suspirou, sentindo um pouco do peso que carrega nos ombros diminuir.

— Você está carregando um peso enorme, Buck. A sensação de estar sozinho em meio a tanto sofrimento é difícil de suportar. Você já compartilhou isso com alguém, como o Eddie?

— Eddie... Ele é o único que chega perto de entender. Mas mesmo com ele, às vezes, é difícil. Não quero ser um fardo para ele também. Ele já tem tanto para lidar... — O sorriso de Evan fez com que Frank observasse sua repentina mudança de expressão.

Ele sabia o que isso poderia justificar, mas não iria dizer nada.

— Você não é um fardo, Buck. Mas esses sentimentos, essa dor, precisam ser compartilhados. As conexões que você construiu, especialmente com o Eddie, podem ser uma fonte de força para ambos. Você merece esse apoio. — Ele fez questão de deixar isso claro.

— Eu sei. Acho que preciso parar de tentar ser o herói o tempo todo e aprender a aceitar ajuda. Talvez isso seja a coisa mais difícil de todas. — Evan suspirou, abaixando a cabeça.

A sessão chegou ao fim, e Buck sabia que precisava conversar com alguém sobre seus medos.

Mas o que dizer quando você também tem medo do que pode acontecer depois?

Buck chegou silenciosamente ao quartel. Sua conversa com Frank na noite anterior estava martelando em sua mente de uma forma que ele nem esperava.

— Buck. — Bobby o chamou, caminhando rapidamente até o mais novo. — Está tudo bem, filho? — Bobby levou uma das mãos até o ombro de Evan e apertou levemente.

— Sim, só pensando em algumas coisas. — Buck sorriu, tentando tranquilizar a expressão preocupada do outro. — Tenho feito terapia desde o processo, têm sido algumas sessões difíceis. — A surpresa no rosto de Bobby não passou despercebida por Buck, que compreendeu, já que fazia alguns meses desde que ele iniciou o tratamento para o TEPT.

— Buck, por que não falou nada sobre isso? — Bobby tinha esse sentido protetor com Buck, sabia que, por conta das escolhas erradas que o rapaz fez, ele agiu no calor do momento, não querendo de fato culpar alguém por ter errado.

— Não é algo tão impactante e preocupante. — Buck deu de ombros, sentindo o aperto em seu ombro aumentar. — Bobby, eu errei muito com todos vocês, principalmente com você. Depois eu compreendi o motivo que você teve, e eu entendo, de verdade. Eu sou impulsivo e não penso duas vezes antes de me meter em problemas. — Disse enquanto suspirava cansado. — Meu terapeuta tem me feito pensar muito sobre como minhas decisões no passado têm impacto no meu presente, e eu vivo nesse constante medo de abandono. — Evan fechou os olhos ao sentir os mesmos arderem por conta do choro preso. — Meus pais, Abby, Ali... Todos se foram e me deixaram à deriva. E esse trabalho, essa família que você criou... Sentir que eu estava perdendo isso me deixou maluco.

— Você nunca perderia seu lugar aqui, Buck. — Bobby tentou deixar claro em suas palavras, mas percebendo o estado em que Buck se encontrava, sabia que seria difícil fazê-lo compreender isso. — Mesmo que todos os indícios que você viu possam ter confundido sua cabeça, você nunca estaria fora dessa família.

— Eu sei, agora eu entendo isso. — Ele suspirou. — Enfim, Frank tem me feito pensar sobre o peso que eu tenho carregado há muito tempo, antes mesmo de ter conhecido vocês. — Buck disse. — Ele falou que seria bom compartilhar isso, mas... eu não sei, não sinto que estou cem por cento preparado para lidar com algumas coisas.

— Você pode ter o tempo que precisar, Evan. — Bobby puxou o mesmo para um abraço. — Só me avise quando estiver caindo, eu estarei lá para te segurar. Independente do momento, certo?

— Vou me lembrar disso. — Buck apertou os braços ao redor do tórax de Bobby, suspirando aliviado ao sentir o cheiro familiar.

As coisas estavam finalmente se encaminhando para a felicidade.

Invisible String | BuddieOnde histórias criam vida. Descubra agora