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Era dia de volta às aulas, primeiro dia de aula do meu segundo ano do ensino médio. Eu acreditava que nada tinha mudado: pouquíssimas pessoas naquele lugar gostavam de mim, eu gostava de ainda menos.
Raramente novas pessoas entravam na escola, e quando ocorria, era questão de tempo até que passasse a me desgostar assim como os outros naquele lugar.
Sem pensar muito sobre isso, coloquei meu uniforme, escovei os dentes e penteei brevemente meus cabelos compridos e pretos, mas estes continuam tão bagunçados quanto antes.Joguei minha mochila sobre os ombros, montei na minha bicicleta e pedalei até a escola na mesma monotonia de sempre.
Eu estava quase chegando quando, um assovio alto e conhecido chamou minha atenção. Vi Fernando, uma das duas únicas pessoas por quem tinha algum apego dentro daquela espelunca. Conhecia-o há cerca de 8 anos, e desde então éramos amigos bem próximos. Ninguém sabia explicar nossa amizade, visto que somos completamente distintos. Ele era forte, extrovertido, conhecia metade da cidade, era monitor dos escoteiros e era extremamente sociável e apegado às pessoas. Eu era fraco, introvertido, jogava no time de xadrez municipal e era o maior nerd que eu mesmo já vi. Dificilmente me apegava a alguém ou algo, mas quando ocorria, normalmente esse apego se tornava bem forte, por vezes, doentio.
Assim que o vi andando, fui até ele e desci da bicicleta. Ele foi o primeiro a falar:- Eae Caio, como você tá? - o garoto me cumprimentou arrumando os pequenos cachinhos castanho escuros
- Vivo, como sempre. Você? - forcei um quase sorriso
- Ah, até que tô bem, só não queria voltar pra essa merda... - ele reclamou enquanto voltava a andar em direção à escola
- Ninguém queria, eu acho. - constatei enquanto, acompanhando o ritmo do meu amigo, empurrava a bicicleta
- Você nem tem o direito de reclamar! Você dorme em todas as aulas e de algum jeito fica com as melhores notas da sala! Aposto que você já passou mais tempo dormindo na sua carteira do que na cama! - Levei um tapa na cara feito meramente por palavras, mas não me ofendi
- Pois bem, eu preferiria dormir na minha cama invés da carteira - obviamente não era esse o ponto que ele queria destacar, mas me fiz de ignorante pra encerrar o assunto
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Ao entrar na minha sala, me deparei com um empecilho. A carteira em que eu sentara durante todo o ano anterior, no canto no fundo da sala à esquerda, o único lugar onde consigo não ficar rodeado por pessoas que não gosto, já estava ocupado. Não por qualquer pessoa, mas por Marcela, a outra única pessoa de quem eu gosto dentro daquele lugar. Minha amizade com ela era um pouco mais antiga que a de Fernando, cerca de 9 anos. Esta sim fazia sentido, pois ela era a segunda maior nerd que já vi, depois de mim mesmo. Assim como eu, ela dormia em quase todas as aulas e ainda assim tirava notas altas. Assim como eu, ela dificilmente se apegava e era bem introvertida, mas sendo minha amiga ou não, ela sabia que aquele lugar era meu.
- Sai daí - manifestei meu incômodo sem muita delicadeza
- Bom dia pra você também - ela me provocou, mas não surtiu efeito
- Sério, sai
- E por que eu deveria? - Éramos amigos bem próximos, mas já chegara num nível em que era normal ser desrespeitoso um com o outro, isso não nos ofendia e jamais deixariamos de ser amigos por isso.
- Por que esse lugar é meu
- Jura? não vi seu nome escrito nele - como sempre, ela tinha uma ironia que quase chegava a ser rude
- Eu passei o ano passado inteiro aí
- E?
- Por favor, sai daí. Você sabe que é o único lugar que eu gosto.
A garota negou com a cabeça, sacudindo os cabelos compridos rosa-choque
- Vai se ferrar - eu reforcei minha indignação uma última vez, antes de sentar no lugar imediatamente à frente dela.
Segundos depois, Fernando se acomodou logo à minha frente apenas para ter que se levantar novamente, pois nosso coordenador surgiu na porta para avisar que teríamos uma palestra ou algo assim, com todos os alunos do ensino médio no salão nobre, pra falar sobre alguma coisa à qual não me atentei.
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Desci do ônibus no ponto mais próximo da minha nova escola, mas ainda assim tive que andar alguns quarteirões para chegar. Vi de longe uma multidão de alunos uniformizados entrando pelo portão principal. A grande maioria pareciam ricos, mas isso eu já esperava, visto que era um colégio bem elitista. Não achava que eu iria me misturar, pois além de ser extremamente tímida, era bolsista e não tinha um décimo do dinheiro desse bando de riquinhos.
Entrei pelo portão principal sendo cumprimentada pelo porteiro, um simpático homem de meia idade com cabelos levemente grisalhos, e apenas acenando com a cabeça em resposta.
Fui direto para o corredor do ensino médio no primeiro andar. Encontrei diversas portas, todas com placas de madeira indicando a turma que estudaria lá. Finalmente encontrei a sala emplacada como "Primeiro ano 3". Quando fiz minha matrícula, disseram pra mim que essa seria minha sala.
A sala era enorme e parecia recém reformada, tudo parecia muito novo. Não conhecia ninguém, então me sentei em um lugar qualquer. As carteiras eram bem confortáveis de sentar, mas a mesa era presa diretamente no braço da cadeira, não gostava de usar carteiras deste tipo. Quem entrou na sala não era um professor, mas sim o mesmo coordenador que me apresentou a escola quando fui selecionada no programa de bolsistas. Ele pediu para irmos até um lugar chamado "Salão nobre" onde iriam explicar para todos do ensino médio como funcionariam as coisas durante o ano. Não sabia onde esse lugar ficava, então apenas segui a multidão. Tivemos que descer para o térreo e subir novamente por outra escada, para só então finalmente chegarmos.
Parecia um grande anfiteatro com umas quinhentas cadeiras bem chiques, de estofado verde. Na frente havia um palco com uma tela retrátil estendida e um projetor ligado apontava para ela. Um homem próximo ao palco segurava um microfone, e pediu que a primeira fileira fosse deixada apenas para os alunos novos, enquanto os demais deveriam se sentar da segunda fileira em diante.
Não gostei muito da ideia de sentar na frente, preferiria me camuflar na multidão, mas decidi que seria melhor seguir o pedido do homem. Diversos alunos se acomodaram atrás de mim, enquanto alguns poucos se sentaram na mesma fileira que eu. Depois que todos estavam sentados, o homem começou a falar.
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Ass: Anônimo
RomanceDois adolescentes de origem humilde frequentam uma escola elitista, onde enfrentam a dificuldade de se enturmar. A principal diferença entre eles? Ela é uma estudante comum; ele, por outro lado, sofre de uma obsessão doentia. Desde o primeiro contat...