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Já faziam dois dias desde o encontro com meu admirador, que agora eu chamava pelo pseudônimo de Luke. Não tive contato com ele desde então, mas gostaria de encontrá-lo novamente assim que possível. Na verdade, por mim, viveria com ele. Todas as sensações que ele me causava eram ótimas, e nosso último encontro revelara emoções que eu nunca havia sentido antes. A única coisa que me deixava receosa sobre ele era o fato de ter cortado sadicamente a mão do garoto que roubou a carta, mas eu podia deixar isso passar.
Eu havia acabado de começar a almoçar e ainda aguardava por Mari, quando o mesmo garoto que eu conheci na biblioteca entrou com sua marmita na mão. O cachecol em seu pescoço chamou minha atenção. Por mais que estivesse frio, não achava que fosse pra tanto, mas não julguei.
— Olá! — Comprimentei ele
— Ah, olá! — Ele disse, ainda bem rouco
— Nossa, você ainda está com gripe? — Me preocupei com meu colega
— Pois é. Essa merda não passa nunca — Sua voz estava quase morta
O menino esquentou sua marmita no micro-ondas e sentou-se de frente para mim. Não esperava que ele fosse almoçar comigo, mas sua presença não me incomodou
— Como está a leitura? — Perguntei, me referindo ao livro que emprestei a ele, na tentativa de puxar assunto
— Tranquila. A história é muito interessante. E a sua?
— Ah, confesso que ainda não comecei. — Me senti mal por não ter dado atenção ao livro que ele pegou para mim, então senti a necessidade de me justificar. — Segunda acabei arrumando outras coisas, terça tive um compromisso e quarta passei o dia todo de ressaca. Mas juro que hoje eu começo.
— Fica tranquila — Ele me olhou rindo espontaneamente. — Aliás, acho que esqueci de perguntar seu nome…
— Ah, é Maria Luisa. Mas pode me chamar de Malu! E o seu?
— É Caio…
— E o que te motiva a comer aqui na cozinha hoje? Você nunca faz isso…
— Normalmente eu almoço na casa de um amigo meu, mas hoje ele vai sair com a família, e o almoço da cantina daqui é muito caro. Sou bolsista, não tenho condições de comer na cantina daqui.
— Eu também sou, a cantina daqui realmente é muito cara!
Nesse momento Mari entrou na cozinha e estranhou a cena:
— Caio?! — Mari se surpreendeu com a presença de meu colega, mas já sabia seu nome.
— Ah, oi Mari… — Caio replicou.
A forma como eles se cumprimentavam deixava a impressão de que eles se conheciam há bastante tempo, mas conversavam pouco.
— Vocês se conhecem? — Perguntei
— Faz tempo. — Caio afirmou
— Caio me ajudou com umas coisas ano passado — Mari acrescentou.
— Que coisas? — Questionei
Caio parecia prestes a responder, mas foi interrompido por Mari:
— Nada demais — Mari interviu
— Poxa, eu te conto tudo! Me conta, vai! — Insisti
— Ai, conta pra ela então Caio. Eu odeio falar sobre esse assunto. — Mari finalmente cedeu
— Bem, ela queria muito ficar com uma amiga minha na época. Na verdade, acho que ela estava apaixonada. Enfim, a gente já se conhecia e tal, mas não se falava muito. Aí ela pediu minha ajuda, e digamos que eu… Fiz tudo dar certo. Elas chegaram a namorar, mas minha colega acabou sendo super babaca, e hoje nem Mari nem eu falamos com ela.
— Nossa, quanta coisa — Ri, mas logo depois me senti mal por achar a situação engraçada.
Alguns minutos de silêncio se sucederam. Mari não parecia tão confortável com a presença de Caio, mas ele parecia indiferente.
Quando acabei de comer, fui até minha mochila para encontrar uma surpresa: mais uma carta. Junto dela, um elaborado buquê de rosas de papel, feitas com dobradura. Meu coração se aqueceu com o gesto fofo de Luke. Peguei ambas as coisas e voltei até a cozinha, deixando os dois surpresos.
— Ele fez um buquê de rosas de origami? Que fofura! — Mari exclamou.
— Quem te deu isso? — Caio estava extremamente confuso
— Ah… É complicado. Mas meio que eu tenho um admirador secreto. — Eu não queria dar detalhes demais, pois Luke pedira que eu não contasse nada para ninguém além da Mari.
Depois de observar a fundo o buquê, que tinha seis rosas de papel dobrado de forma complexa e encantadora, decidi abrir a carta:
"Nosso último encontro foi ótimo. Amei cada segundo que passei ao seu lado, e espero que você tenha aproveitado tanto quanto eu.
Me preocupo, no entanto, com a quantidade de bebida que você ingeriu. Você ficou completamente bêbada e não conseguiu nem voltar para casa. Eu te carreguei até sua casa e ainda te coloquei pra dormir no sofá.
Tendo em vista que ambos nós gostaríamos de poder ficar mais tempo juntos, e que você fica bêbada fácil e não consegue voltar pra sua casa, acho que seria muito conveniente que pudéssemos passar a noite lá.
Nesta sexta feira, logo depois da escola. Leve pijama, travesseiro, toalha, e o que mais você for precisar. O chuveiro de lá funciona, então você pode tomar banho lá. Vou pedir pizza para comermos.
Dessa vez, pode levar o celular. Se tiver alguma emergência, pelo menos você tem como se comunicar.
Música de hoje: Own my mind - Maneskin
Ass: Alguém que se apaixonou pelo seu beijo."
Dentro do envelope encontrei também uma foto impressa em preto e branco de mim dormindo no meu sofá toda acabada. Ele de fato havia me levado até minha casa, e eu nem sequer me lembrava disso ou de ver o rosto dele. Apesar disso, fiquei muito entusiasmada com a ideia. Mari e Caio me encaravam esperando alguma declaração.
— Mari, posso falar pros meus pais que vou dormir na sua casa amanhã? — Perguntei animada
— Pode mas… Você vai? — Ela parecia confusa.
Invés de responder. Me contentei em entregar a carta à Mari para que visse com os próprios olhos. Caio continuava em silêncio, observando tudo com extrema atenção
— Você vai dormir junto com ele? — Mari questionou após acabar de ler.
— Vou! Quer dizer, não no sentido que você está pensando né, sua mente-poluída. A gente só vai dormir juntinhos, abraçadinhos. — Expliquei
— Posso ver? — Caio pediu
— Ah… — Gaguejei um pouco para responder. Eu gostaria de poder mostrar para Caio, considerava ele um amigo legal. Mas Luke mandou que eu não mostrasse nada para ninguém além de Mari, então me segurei. — Desculpa, é que ele não me deixa mostrar pra ninguém sem ser a Mari.
— Tudo bem… — Caio aparentava não entender nada, mas não queria me encher de perguntas. Na verdade, ele parecia muito ser o tipo de amigo que sempre está disposto a ouvir e ajudar no que precisa, mas não gosta de falar muito de si, e por isso, também não insiste quando os outros não querem falar.
De certo modo, a presença dele era reconfortante, e eu realmente sentia vontade de me aproximar dele. Mari, em contrapartida, parecia ter algum receio, mas não o manifestava.
Tudo pareceu passar rápido depois disso. Eu e Mari fomos para nossa sala, Caio foi para a dele. A aula me distraía muito bem dessa vez, eu gostava daquele tema. Mari, em contrapartida, escrevia mais uma vez em seu diário freneticamente. Era possível vê-la colocando emoção em cada palavra e, sinceramente, não pareciam emoções tão positivas. Decidi não perturbá-la.
Quando a aula acabou e eu fui pra casa, já comecei a arrumar minha mochila para o dia seguinte. Peguei minha calça de pijama e um blusão extremamente confortável que eu gostava de usar para dormir. Uma troca para a roupa debaixo e meu travesseiro, que tive que amassar inteiro para caber em minha bolsa. A ansiedade me consumia, e eu não podia esperar para o dia seguinte. Dormir abraçada em Luke. Por uma noite inteira. Essa ideia me encantava.
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Ass: Anônimo
RomanceDois adolescentes de origem humilde frequentam uma escola elitista, onde enfrentam a dificuldade de se enturmar. A principal diferença entre eles? Ela é uma estudante comum; ele, por outro lado, sofre de uma obsessão doentia. Desde o primeiro contat...