A um passo de descobrir

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Tudo estava pronto. O controle remoto das lâmpadas ficaria no meu bolso durante todo o tempo, por precaução. Ainda assim, eu não acreditava que teria que usá-lo. Esperava poder confiar em Malu. 

O notebook da sala de controle estava aberto em meu colo, me mostrando o elevador. As bebidas já estavam geladas, pois eu descobri que convenientemente haviam colocado uma geladeira pro técnico de som.

Surpreendentemente, eu não estava nervoso. Pelo contrário, estava extremamente calmo, muito mais do que deveria. Não sei se isso era bom. Tudo parecia normal, indiferente. A ficha ainda não havia caído. Eu estava prestes a cometer um dos meus atos mais obsessivos em toda minha vida, e nem um pingo de ansiedade ou adrenalina me afetava. 

Depois de algum tempo tedioso, eu finalmente a vi entrando no elevador pela câmera. Ela, sim, estava trêmula, extremamente nervosa. Era visível. 

Ela apertou o botão e colocou a venda, subindo até mim. Poucos segundos depois, o elevador se abria na mesma altura que eu.

— Boa tarde, Malu.

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Mais de uma hora havia se passado em nossa conversa, e tudo parecia tranquilo. A mesma sensação de indiferença prevalecia sobre mim, até que algo que eu não esperava aconteceu.

— Você pode por mais vinho pra mim, por favor? — Malu pediu, prestes a me trair.

O isolamento acústico do salão era muito bem feito, e eu deveria poder escutar apenas o barulho do líquido enquanto enchia o copo. Mas a realidade era traiçoeira e, além da bebida, escutei também o barulho de tecido raspando na pele. Nesse momento agradeci por estar calmo. Normalmente, minha reação mais óbvia seria me virar instantaneamente e ver o que estava acontecendo, mas graças à minha tranquilidade, tive a decência de preferir apagar as luzes. Num movimento rápido, levei a mão ao meu bolso e apertei o botão do controle. Como mágica, o salão se apagou em uma escuridão que me invisibilizava.

A raiva queimou minhas veias por completo. Corri para longe, deixando o copo de vinho que eu deveria entregar para Malu cair no chão. Entrei na sala de controle e tranquei a porta. Minha cabeça parecia pegar fogo. Apesar da quebra de confiança e da minha fúria, não queria que Malu tropeçasse ou se machucasse no caminho pro elevador, então acendi novamente as luzes do salão, me mantendo seguro naquela sala. Eu estava, sim, com muito ódio, mas apesar de tudo, eu me preocupava demais com ela. Na posição dela, provavelmente eu faria o mesmo. Ela não tinha culpa por ser curiosa.

— Droga! — apertei as bordas da mesa de madeira que jazia no canto da sala. Meu sangue fervia. Soquei a parede revestida pelo papel de parede macio, tendo o tecido como meu companheiro ao impedir os nós de meus dedos de se machucarem e a parede de se rachar. Ao contrário da comum tristeza, o que eu sentia muito mais naquele momento era raiva.

Severos minutos se passaram enquanto eu tentava me acalmar. Se Malu ainda estivesse ali e eu desse de cara com ela, provavelmente surtaria no mesmo momento, e não queria brigar. Além de que isso revelaria minha identidade.

Finalmente saí da sala para encontrar o salão vazio. Entrei na coxia do palco à procura de um pano. Encontrei um bem velho e empoeirado, e usei-o para limpar o vinho do chão. Com sorte, ninguém perceberia que algo havia sido derramado ali. 

Enquanto limpava, uma lágrima escorreu de meu olho. Como podia uma pessoa que não me fez absolutamente nada mexer tanto comigo? Felicidade, Tristeza, Raiva, Apego, Ódio. Como podia, alguém com quem eu estava conversando tão calmamente, em segundos me levar ao ódio, à raiva. E minutos depois, à tristeza, e ao choro. Não me contive, e mais lágrimas escorreram em sequência.

Ass: AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora