Por um triz

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♧◇♧

Não consegui dormir durante a noite. Eu precisava, e muito saber quem mandara a carta. Nem sequer conseguia fechar os olhos. A pulseira ainda estava no meu pulso, e recorrentemente eu a cheirava. O aroma era mais viciante do que agradável.

Depois de passar várias horas na cama virando para os lados sem conseguir dormir, meu despertador sinalizou que era hora de ir pra aula. Minhas olheiras entregavam completamente a qualquer um que olhasse que minha noite fora péssima.

Assim como nos dias anteriores, meu trajeto foi o mesmo: ir a pé até o ponto de ônibus, parar no ponto mais próximo da escola e ir a pé até lá. Dessa vez Mari já estava na classe, e eu mesma tomei a decisão de sentar na frente dela. Até o momento ela era a melhor amiga que eu tinha ali.

Meu corpo lutava com o sono, a vontade de dormir tentava me dominar enquanto a necessidade de prestar atenção nas aulas tentava me manter de pé. Sendo sincera, acho que o que realmente me mantinha de acordada era a ansiedade de saber se eu receberia mais uma carta hoje ou não.

As aulas de quarta feira eram extremamente monótonas e chatas e eventualmente peguei no sono. Fui acordada na hora do recreio por Mari:

— Ei, você precisa comer alguma coisa… — ela disse me entregando um croissant de presunto e queijo

— Ah, obrigado… Depois te pago — agradeci ainda acordando

— Não precisa, fica tranquila. Esse é por minha conta. — a garota estava sendo super gentil comigo

— Tem certeza?

— Absoluta. Mudando de assunto, por que todo esse sono? Não dormiu a noite?

— Não. E olhe que eu tentei.

— Sabe por que não conseguiu? — ela realmente se preocupava comigo. Senti meu coração se aquecer

— Provavelmente ansiedade… Você sabe o que rolou ontem.

— Quer falar sobre ou prefere ficar em paz? — não sei se eu merecia toda essa atenção

— Prefiro não falar sobre, mas obrigado mesmo assim

Comi meu recém-obtido lanche e esperei pela próxima aula, tentando não dormir.

Com dificuldade, passei o resto da aula acordada e assim que o sinal indicando o almoço soou, fui até a cozinha esquentar meu almoço. Assim como ontem, pouco depois que eu me sentei, Mari, Clara, Duda e Sofia apareceram com seus almoços comprados da cantina da escola. Dessa vez elas não perguntaram, apenas se sentaram, mas pelo menos eu já estava um pouco mais habituada à toda elas.

A incerteza me obrigou a passar todo o tempo olhando pela janela, esperando que alguem passasse perto da minha bolsa. Até que meu pensamento se realizou exatamente desse jeito.

Alguém de blusa preta se cobrindo completamente passou correndo e deixou um envelope na minha bolsa. Imediatamente me levantei e tentei ir atrás dela, mas era tarde demais, pois esta já sumira no corredor e eu não sabia pra que lado ela tinha ido.

Meu coração disparou mais uma vez, peguei o envelope e me sentei novamente à mesa, todas olhavam pra mim curiosas. O selo era exatamente igual, mas o dizer na capa era diferente:

"Para: Malu"

Meu apelido fora usado, ao contrário da anterior que continha meu nome completo.

Abri o selo tremendo e mais uma vez, a carta tinha frente e verso. Comecei a ler…

♡♤♡

Cheguei na escola e logo depois de travar a bicicleta, fui para a saída B, esperando até que minha paixão chegasse. Conforme o horário de início das aulas se aproximava, meu coração gelava cada vez mais. A ideia de que ela fosse faltar hoje me abalava bastante. 

Em cima da hora ela chegou às pressas indo rápido em direção a sala. A pulseira azul ainda estava no braço dela e ela usava fones de ouvido, que despertaram minha curiosidade. Passei o mais perto que pude dela, não consegui reconhecer a música, mas percebi que definitivamente era metal. Eu também adorava metal e rock. Achando que fosse impossível, mais uma vez me apaixonei ainda mais.

Fui pra aula rapidamente, entreguei o necessário para Fernando pedindo mais um envelope, este apenas me olhou confuso e concordou.

Comecei a escrever uma segunda carta. Como prometido, eu precisava de um método pra ela me responder. A solução mais óbvia surgiu na minha mente: falar para que ela escreva cartas de volta e deixe-as apoiadas na mochila dela, assim como fiz com a minha.

Tendo isso em mente, comecei a escrever. Fiz questão de dedicar uma música pra ela, um dos meus metais favoritos.

Diferentemente da carta anterior, dessa vez minha primeira tentativa deu certo, e nenhuma folha foi desperdiçada. Dobrei a folha ao meio e, até esse momento, Fernando já tinha acabado o envelope. Guardei a carta dentro dele, dessa vez nenhum objeto a acompanhava. Assim que o intervalo chegou, peguei meu isqueiro e selei a nova carta repetindo o procedimento da anterior.

Meu tênis e blusa reservas continuavam em minha bolsa, assim eu só precisava esperar a hora. 

Não dormi durante o resto da aula por algum motivo, invés disso fiquei conversando com Fernando. Não sei dizer por que, mas era incrivelmente agradável conversar com ele. Podemos conversar sobre literalmente qualquer tópico possível e mesmo assim a conversa se desenrola ao infinito.

Quando a aula finalmente acabou, continuei com meu plano. Esperei até que ela fosse pra cozinha e fui ao mesmo banheiro do dia anterior. Troquei de blusa e sapatos. A calça era a genérica do uniforme, então não teria de me preocupar com ela.

Me certifiquei de que ninguém estava de olho na mochila dela, e corri. Deixei minha segunda carta apaixonada junto aos pertences da destinatária, mas fui visto. Não por qualquer um, mas por ela própria. Corri como nunca em direção ao banheiro. Ouvi ela saindo pra fora da cozinha e minha maior tentação foi olhar para trás, mas isso significaria que ela veria meu rosto. Resisti à tentação. Entrei no banheiro e me tranquei na cabine. Silêncio. Aparentemente eu não tinha sido seguido.

Troquei de roupa e sai. Outra decepção. Malu estava lendo a carta dentro da cozinha, onde não tinha câmeras. Exitando, decidi que não teria problema espiar pela janela da cozinha como alguém normal, afinal, eu era um aluno como qualquer outro.

Ela lia mais uma vez com as bochechas coradas, e seus lindos olhos brilhavam como nunca. Sua pupila estava super dilatada apesar do ambiente claro. Foi só quando ela acabou de ler e entregou a carta para Mari que eu me dei conta que ela não estava sozinha. Além de Malu e Mari, também estavam lá Clara, Duda e Sofia, provavelmente estas eram os três pés que eu vira pelas câmeras no dia anterior. Todas olhavam para a carta que agora estava na mão de Mari. Assisti Malu cheirar a pulseira impregnada com meu perfume mais uma vez. Achei fofo.

Ass: AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora