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Acordei subitamente, assustado, com Malu dormindo por cima de mim. Estendi o braço e peguei meu celular. Como ela estava dormindo, não haveria problema acender a tela brevemente para ver o horário. Duas da manhã. Eu precisava levá-la para casa.
— Malu, acorda! — Tateei suas costas, mas nada aconteceu. — Malu! — Mexi em seu cabelo na tentativa de acordá-la. — Malu, acorda!
Seus olhos se abriram lentamente, sua cara amassada, e a expressão de quem não queria acordar.
— Levanta Malu, você precisa ir pra casa! — Alertei
— Não… A gente dorme aqui mesmo… Me deixa dormir…
— Não Malu! Você precisa ir pra sua casa! — Sua única reação foi resmungar para mim
Vendo que não adiantaria tentar acordá-la, levantei-a suavemente com as mãos e também fiquei de pé. Antes de sair, eu precisava checar se estava tudo dentro dos conformes na casa, mas sem ser identificado por ela. Derrubada do jeito que estava, segurei-a de pé e levei-a até o sofá, deitando-a com a cara virada para o encosto, e ela não se mexeu mais. Acendi a lanterna do celular e dei de cara com a razão de ela estar assim: A garrafa de vinho estava completamente vazia. Eu havia tomado apenas um copo, o que significa que ela bebeu todo o resto. A coitada não era tão resistente ao álcool.
Arrumei as coisas brevemente, também um pouco derrubado pelo sono. Abracei Malu por trás e levantei-a novamente, segurando-a à minha frente de modo que ela não conseguisse olhar pra trás e me ver. Não que ela tivesse tentado, de fato, ela mal conseguia andar para frente, quem dirá tentar me ver. Saímos da casa abandonada e eu levei ela lentamente, segurando-a por debaixo dos braços até sua casa.
— Cadê a sua chave? — Perguntei
— Chave? — Ela estava completamente confusa e provavelmente nem sabia onde estava.
Delicadamente coloquei a mão no bolso de trás de sua calça, evitando deixá-la desconfortável e peguei a chave de sua casa. Abri o portão e entrei, ainda a segurando. Abri a porta da casa e vi pela primeira vez o interior de onde ela morava. Deitei-a no sofá pois não queria ir até o quarto e fazer mais barulho do que já havia feito. Ela não disse nada, apenas dormiu. Peguei meu celular no bolso e tirei uma foto dela dormindo ali, sem flash, claro, para não acordá-la. Minha única intenção era poder provar para ela que tudo isso aconteceu, visto que, bêbada como estava, não se lembraria de nada no dia seguinte. Saí da casa dela, tranquei o portão e joguei a chave para dentro.
Pensei em voltar para minha casa, mas eu claramente não estava em condições de fazê-lo, então acabei dormindo na casa abandonada mesmo. Gostaria que ela pudesse dormir ali comigo, mas o que os pais dela pensariam se acordassem e ela não estivesse em casa? Com meus pais eu dava um jeito, falava que dormi na casa de Fernando ou algo assim. Acabei pegando no sono e ali passei a noite.
♧◇♧
Fui acordada pelo sol esbofeteando sua luz na minha cara sem delicadeza. A última coisa que eu me lembrava era de beijar freneticamente o pescoço de Luke, e depois daí, mais nada. Agora eu estava na sala da minha casa, deitada no sofá, com dor de cabeça intensa e sem fazer a menor ideia do que acontecera. Me levantei com pressa, a fim de checar se estava tudo bem. Meus pais ainda dormiam, e aparentemente não faziam ideia de nada.
Arrumei minhas coisas me preparando para ir para a escola. Ainda morria de sono, sem vontade alguma de continuar, mas precisava. Estava prestes a sair de casa, quando me dei conta de que não fazia a menor ideia de onde estava minha chave. Revirei tudo sem a encontrar e, quando estava quase desistindo, a infeliz chave jazia logo à frente da porta, no chão, provavelmente derrubada por mim quando voltei pra casa. Ao lado dela, o jornal do dia me chamou atenção:
"Aluno de colégio particular atacado no caminho para casa
O aluno João Fernando de Souza foi atacado por um agressor não identificado no caminho para sua casa, depois de sair da escola. Segue depoimento:
'Eu já estava na metade do caminho até em casa, a pé, quando alguém me agarrou por trás e colocou uma faca no meu pescoço. Imediatamente disse que poderia pegar o que quisesse implorando para que não me machucasse, mas ele não pegou nada de valor. Pegou apenas um pedaço de papel que eu tinha encontrado na escola e guardado na mochila. Era tipo uma cartinha romântica. Depois disso, disse algo sobre não mexer com a sua garota, eu nem sabia de quem ele estava falando. Aí do nada pegou minha mão direita e abriu um corte enorme, tive inclusive que fazer um curativo no pronto-socorro. Depois mandou que eu virasse na esquina sem olhar pra trás, e eu, com medo de que ele me matasse, obedeci. Aí acabei nem vendo o rosto dele. Ainda assim, se ele sabia que a carta estava comigo, com certeza ele é aluno do colégio.'
Ainda aguardamos um pronunciamento do colégio a respeito do ataque, pais de alunos ficaram preocupados com a suspeita de que haja alguém armado dentro da escola."
Embaixo tinha uma foto do mesmo aluno que roubou minha carta no dia anterior, com a mão direita toda enfaixada. Com certeza era obra de Luke. Nunca imaginei que ele fosse tão doente a ponto de machucar alguém por causa de uma carta.
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Quando cheguei na escola, todos pareciam me estranhar. De fato, não tive como me arrumar muito, já que sai da casa abandonada direto para lá, ainda com a cabeça nas nuvens e claro, em Malu, sem me importar em nada com a minha aparência.
Seja com tom de raiva, curiosidade, ou graça, todos na escola pareciam me dar atenção. Não que eu me importasse muito, não gostava de quase ninguém ali.
Entrei na minha sala e dei de cara com um jornal no mural que atraiu minha atenção. O mesmo desgraçado do dia anterior aparecia na capa com a mão enfaixada, e um longo depoimento vitimizado me tratando como agressor de alunos. Por sorte, ele não tinha descoberto minha identidade, mas isso combinado ao fato de todos olharem para mim me dava calafrios.
Tentei ignorar e sentei no meu lugar, quando Marcela instantaneamente me provocou:
— Ontem foi bom, hein? — Ela parecia zombar da minha cara
— Como assim, do que você tá falando? — Perguntei, confuso
— Não se faça de desentendido, Caio! — Ela ria
— Eu realmente não sei do que você ta falando! — Eu estava prestes a surtar imaginando que alguém tivesse descoberto que eu era o agressor do jornal
— Seu pescoço diz outra coisa — Ela caçoava cada vez mais
Abri a câmera frontal do meu celular para me ver, e tomei um susto. Meu pescoço estava coberto de marcas de chupões, imagino eu que deixados por Malu na noite anterior. Por um lado, senti alívio, pois isso significava que não tinha nada a ver com o jornal. Por outro, entrei em pânico: se ela me visse assim, reconheceria instantaneamente as marcas deixadas por ela.
Tirei minha blusa e enrolei-a em volta do pescoço, como um cachecol. Minha aparência ficou bem esquisita, mas antes isso do que ser descoberto. Além disso, passei todo aquele dia evitando sair da sala, assim, o mínimo possível de pessoas me veriam.
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Ass: Anônimo
RomanceDois adolescentes de origem humilde frequentam uma escola elitista, onde enfrentam a dificuldade de se enturmar. A principal diferença entre eles? Ela é uma estudante comum; ele, por outro lado, sofre de uma obsessão doentia. Desde o primeiro contat...