♧◇♧
Fui delicadamente acordada pelas mãos de Mari, que olhava pra mim com ar animado.
— Já são dez para às quatro — minha amiga me alertou
— Nem percebi que eu tinha dormido — eu disse, esfregando os olhos
— Você vai lá?
— Acho que sim… — eu ainda estava insegura.
Me levantei lentamente, e fui até o banheiro. Abri a torneira e joguei água no rosto, me sentindo um pouco mais acordada. O espelho refletia uma cara acabada de quem teve uma semana extremamente cansativa e com noites mal-dormidas. Arrumei meu cabelo cuidadosamente, penteando-o com as mãos.
A hora de subir o elevador chegava, e eu suava frio. Saí do banheiro e fui até minha mochila, que ainda estava no mesmo lugar de quando recebi a carta. Guardei meu celular e peguei novamente o envelope. Abri-o com cuidado e tirei a venda de dentro, guardando-a no bolso da blusa. Coloquei novamente o envelope dentro da minha bolsa, fechei o zíper e fui até perto do elevador.
Dei uma boa olhada ao redor, garantindo que ninguém estava por perto. Respirei fundo e entrei. Pressionei com meu dedo indicador trêmulo o botão do segundo andar. Assisti no que pareceu uma eternidade, os dois segundos que a porta demorou pra fechar. Não tinha mais volta.
Tirei a venda do bolso, encarei-a com rigor. Coloquei-a nos olhos, vendo tudo ficar preto. Minha visão foi completamente inutilizada. Arrumei o elástico atrás da minha cabeça e recoloquei ambas as mãos nos bolsos, a mercê de quem quer que fosse o maluco que me mandava cartas.
Me arrepiei ao sentir o elevador parar, e a porta se abriu.
— Boa tarde, Malu — Uma voz masculina cativante me chamou. Não era muito grave, como a de muitos homens. Eu imaginava-o como um menino do ensino médio, mais alto que eu, de pele clara como a imensa maioria das pessoas daquele colégio. Não tinha nenhuma base pra pensar nisso, mas na minha mente ele tinha cabelos castanhos claros. Ele tinha o exato mesmo cheiro da pulseira.
— Boa tarde… — não sabia o que dizer nem como reagir
— Não seja tímida, pode vir — Senti uma mão calorenta, suave, um pouco maior que a minha segurar meu pulso levemente e me puxar devagar para fora do elevador.
— Em qual parte do salão estamos? — perguntei, tentando recriar a visão na minha cabeça.
— Bem na frente. À sua esquerda estão as centenas de cadeiras. À sua direita, o palco. À sua frente, eu. — ele descrevia a toda a cena para mim
— Posso me sentar? — perguntei, com as pernas já bambas de nervosismo.
— Claro! — a mão que me segurava levou meu braço cuidadosamente até uma das cadeiras, para que eu pudesse senti-la
Segurei no braço da cadeira e me sentei, sentindo o estofado. Meu pulso foi finalmente solto.
— Quer algo pra beber? Eu não sabia do que você gosta, então trouxe suco de laranja, Coca-Cola e vinho — me surpreendi com o que ouvi. Achei que isso fosse simplesmente um momento para que ele esclarecesse as coisas, mas aparentemente, era um encontro.
— Vou ficar com a coca… Você pode me falar um pouco sobre você?
— O que você quer saber? É só perguntar, e o que eu puder responder eu respondo. — ouvi-o enchendo um copo com refrigerante.
— De que ano da escola você é? — ele entregou-me uma caneca de plástico cheia de Coca-Cola.
— Lhe digo no máximo que estou no ensino médio. — não era o que eu havia perguntado, mas era melhor que nada. Ele dizia tudo com ar despretensioso, como se situações como aquela fossem parte do seu cotidiano.
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Ass: Anônimo
RomanceDois adolescentes de origem humilde frequentam uma escola elitista, onde enfrentam a dificuldade de se enturmar. A principal diferença entre eles? Ela é uma estudante comum; ele, por outro lado, sofre de uma obsessão doentia. Desde o primeiro contat...