Luz, Câmera, Emoção

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Desdobrei-o para notar que tinha escrita em ambos os lados e comecei a ler:

"Boa tarde, Malu!

Tudo bem com você? Espero que sim!
Antes que você pense que isto é uma ameaça ou algo do tipo, eu te vi ontem na palestra e fiquei com vontade de te conhecer, mas sou tímido demais para falar com você pessoalmente ou sequer me apresentar.

Acho que esse método de contato é meio retrô né? Pra muitos, as cartas ficaram no século passado, mas eu tava cansado do método normal, achar instagram e mandar direct é um negócio tão indiferente, sem emoção…

Apesar da escrita no papel parecer um tanto rústica, é muito foda! Sério, mandar uma mensagem não tem a mesma emoção que uma carta! E a espera pra ver a resposta? Sério, garanto que é emocionante!

Indo ao ponto, eu tava muito afim de conversar contigo, você parece muito legal, além de eu ter adorado seu estilo! Sério, você é linda! 

Ainda assim, não quero me intrometer onde não sou bem-vindo, então tive uma ideia para me certificar de que estaria tudo bem. Junto no envelope mandei uma das minhas pulseiras. Caso você se sinta confortável em receber outra carta, apareça amanhã na escola usando minha pulseira, e eu vou entender que posso prosseguir. Nesse caso, também vou dar um jeito de você poder mandar cartas pra mim sem que eu tenha que aparecer pessoalmente, só por enquanto. Caso contrário, só se livra da minha pulseira que vou entender o recado e nunca mais te perturbar.

Mais uma coisa: sinta o cheiro da pulseira!

Abraços do seu admirador secreto, se cuida!

Ass: Anônimo"

Minhas bochechas ficaram coradas, coloquei minha mão direita no peito e senti que meu coração acelerou. Ao mesmo tempo que me sentia feliz, a ansiedade fluía no meu sangue. Olhei ao redor à procura de quem pudesse ter mandado, mas ninguém parecia interessado. Eu mesma não me achava tão bonita, e me entusiasmava saber que alguém tinha gostado de mim.

Entreguei para Mari ler, enquanto procurei pela suposta pulseira no envelope. Era uma pulseira de cor azul-marinho, feita de tecido. Aproximei-a do rosto. O cheiro era levemente doce, com um fundo amargo.

Não sei até que ponto seria saudável para mim trocar cartas com alguém desconhecido, mas aquela sensação era viciante. Eu precisava de mais. Imediatamente coloquei a pulseira em torno do meu pulso esquerdo e amarrei-a, dando minha resposta visual a quem quer que fosse meu admirador.

— Você tem alguma ideia de quem possa ter mandado? — Mari questionou me devolvendo a carta

— Nenhuma. — Respondi observando as amigas de Mari, que cochichavam entre si

Guardei a carta com cuidado de volta no envelope, Observando os detalhes no selo negro. Parecia algo improvisado, mas feito com dedicação. Seria o símbolo uma dica para descobrir a identidade do remetente?

♡♤♡

Achei que seria arriscado demais assistir a cena ao vivo, então fui pra uma sala de aula qualquer, pois todas estavam vazias, decidido a conseguir um jeito de assistir. Liguei o notebook destinado a ser usado pelo professor. Já tinha descoberto no ano anterior que todos os aparelhos da escola eram em rede, então era fácil assistir às câmeras ao vivo. Infelizmente eu não teria acesso às gravações, pois elas ficavam gravadas num servidor protegido, mas nesse caso assistir ao vivo seria suficiente.

Isto nem poderia ser considerado "hackear", pois eu apenas estava acessando o sinal de uma rede que o computador já estava conectado.

Abri a conexão com a rede de câmeras e comecei a procurar qual delas cobria a área em frente à cozinha. Depois de pressionar a seta do teclado algumas vezes, encontrei a área. O envelope seguia intocado, ainda encostado na bolsa de Malu.

Passei um tempo mexendo no celular enquanto esperava algo acontecer. A fome começava a me afetar, pois com toda a adrenalina eu me esquecera de comer. Ainda assim, não queria sair para me alimentar agora, pois isso significaria não ver a reação de Malu.

Meus pensamentos giravam completamente em torno de uma única coisa: se ela usaria a pulseira. Ela tinha que usar. Não sei se eu seria capaz de aceitar uma negação por parte dela, talvez se isso acontecesse, eu apenas me ocultaria ainda mais, mas não conseguiria parar de observá-la. Eu estava, de fato, obcecado.

Minha grande nuvem de pensamentos foi encerrada por um movimento na tela do computador. Era Malu! Senti o êxtase percorrer meu corpo e a ansiedade vibrava por cada pedacinho do meu crânio.

Ela saia da cozinha e ia em direção à sua bolsa. Quando ela viu o envelope, senti que eu ia desmaiar. A garota guardou algumas coisas em sua mochila e pegou o envelope, mas não abriu.

Eu a vi indo para a porta da cozinha com o envelope na mão, mas lá não tinha câmeras. Todo meu corpo só dizia uma coisa em silêncio: "Volte. Pra frente. Das câmeras". Um ódio surgia no fundo da minha mente. Não dela, mas do medo de não poder ver essa cena.

De repente alguém saiu da cozinha. Era… Mariana?! Eu não era próximo dela, mas no ano anterior tinha feito serviço de cupido pra ela com uma outra garota. Ela também era do primeiro três, então até fazia algum sentido a amizade das duas.

Outra visão me deixou ainda mais confuso: Malu entregara a carta à Mari! Por que? Ela olhou ambos os lados do envelope e devolveu-a para Malu, que abriu e começou a ler. Esse pequeno movimento foi suficiente para que eu enxergasse três pares de pés atrás de Mariana. Isso significava que havia ainda mais gente vendo. E mais um sentimento negativo me batia: depois do ódio e do medo, agora vinha o ciúmes. Quanto menos gente visse isso, melhor seria pra mim.

Ignorei as outras pessoas na cena e foquei em quem interessava pra mim. Suas bochechas avermelharam, seu corpo tremia. Sua mão tocava seu peito revelando emoções fortes. Era fofo. Pois é, vê-la desse jeito, toda derretida me dava uma única conclusão: ela era muito fofa!

Agora era o momento: me restava torcer. Em poucos segundos vi-a entregar a carta mais uma vez para Mari, pegar a pulseira no envelope - meu coração disparou - cheirá-la delicadamente, e finalmente - meus olhos se arregalaram - colocá-la no pulso e amarrar. Ela aceitara.

Finalmente meus batimentos voltaram ao normal. Tomei um grande gole de água para compensar o nervoso e abri um sorriso. Amanhã mesmo, ela receberia outra carta.

Ass: AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora