Encontro marcado

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Peguei a carta e comecei a ler:

"Boa tarde!
Espero que esteja bem.

Como você deve imaginar, tenho várias perguntas:

Como você descobriu tanto sobre mim? Você está me seguindo?

Quem te contou que eu gostava de metal? Você gosta também?

Como você me viu no momento da primeira carta? Não tinha literalmente ninguém por perto!

O que você passou nessa pulseira?! Faz mal? O cheiro está me viciando cada vez mais.

Quem é você? Quantos anos você tem?

Além disso, tenho um grande pedido pra te fazer:

Desde a primeira carta eu tenho dormido mal, passado o dia todo ansiosa e,  além de tudo é extremamente assustador trocar cartas com um desconhecido… Será que a gente poderia se encontrar pessoalmente? Mesmo que a gente continuasse trocando cartas depois, eu só queria te conhecer pra me sentir mais segura.

Já que você deu a ideia de dedicar uma música, vou dedicar uma de volta pra você: Psychosocial - Slipknot

Abraços
Ass: Malu"

Meu sangue ferveu. Eu não teria problema em responder à maioria daquelas perguntas, mas não revelaria minha identidade. Ainda assim, isso não significava que não poderíamos nos encontrar pessoalmente. Com um pouco de planejamento, não seria difícil marcar um lugar e encontrá-la, sem me revelar.

Em relação à música que ela me dedicou, eu conhecia. Não estava dentre as minhas favoritas, mas eu gostava dela.

As ideias de como me encontraria com ela fervilhavam em minha mente, mas eu só cuidaria disso no dia seguinte, deixando tempo suficiente para que meu plano se aprimorasse em meu cérebro.

♡♤♡

Acordei inspirado, e já sabia exatamente como realizar nosso encontro. Passei uma boa quantidade do mesmo perfume que coloquei na pulseira. Peguei na minha gaveta a venda de dormir que eu havia comprado mas nunca usei e guardei em minha bolsa. Fui pra escola determinado. Era sexta-feira, e eu não queria ter que esperar pelo fim de semana, então faria tudo ainda naquele dia. 

Escrevi sem pressa, mais uma carta durante a aula. Dessa vez tudo já fluía de forma muito mais natural, e eu nem precisava mais pensar tanto pra escrever. 
Não foi rápido. Demorei mais de uma hora pra escrever uma carta que nem ficou tão grande, mas a sensação de contentamento ao finalizar me fez bem. Coloquei a venda junto da carta e selei o envelope da mesma forma de sempre.

Nada foi diferente, segui o exato mesmo procedimento de todos os outros dias para entregar a carta, inclusive me orgulhei de Malu ao ver que sua bolsa estava no mesmo lugar de ontem, o que facilitava meu trabalho. Aos poucos, ela parecia aceitar minha obsessão, e parava de tentar me descobrir.

Não a assisti ler a carta dessa vez, pois precisava preparar algumas coisas. Decidi também matar a aula da tarde de hoje para ter mais tempo, afinal, pouco me importava a aula de geografia. Eu tinha de ficar na escola à tarde de quinta e sexta, enquanto Malu ficava de terça, quarta e quinta.

Não sabia o que ela gostava de beber, mas mesmo assim fui a um mercado próximo da escola e comprei refrigerante e um suco de laranja, além de um vinho barato usando meu documento falso. Guardei tudo na mochila para poder entrar na escola despercebido. Esta já estava bem pesada.

Usei o elevador restrito para subir até o salão nobre, o mesmo lugar da palestra do primeiro dia. Tudo estava escuro. Fui para a sala de controle e acendi as luzes. Liguei o computador que comandava tudo naquele salão. Convenientemente, a senha era a mesma de todos os outros computadores da escola.

♧◇♧

O sinal que indicava o fim das minhas aulas de sexta tocou e eu fui pra cozinha almoçar, já esperando a carta de meu admirador. Deixei a mochila no lugar mais afastado, o mesmo de ontem, na intenção de contentá-lo. Tudo foi como sempre no almoço.

Como esperado, ao terminar de almoçar mais uma carta estava ao lado da minha mochila. Esta não parecia tão dedicada quanto as duas primeiras, além de reaproveitar o mesmo envelope que já havia sido reutilizado por mim anteriormente. Além disso, era bem mais volumosa que as outras, com certeza tinha alguma coisa além de papel. Fiquei ansiosa para saber se conheceria meu admirador anônimo, e não hesitei em abrir o envelope:

"Não vou lhe iludir dizendo que vou me apresentar. Por enquanto, não vou. Entretanto, isso não significa que não possamos nos encontrar pessoalmente, e prometo esclarecer a maioria das suas dúvidas. 

Sei que você não tem aula hoje à tarde, portanto às 16h em ponto você deve entrar no elevador (não seja vista, o acesso é restrito e caso te peguem, você provavelmente estará encrencada) e apertar o botão do segundo andar. Depois que a porta se fechar, coloque a venda que está no envelope, e o resto é comigo.

Algumas regras:

Não leve ninguém com você, vá completamente sozinha

Não leve nenhum aparelho eletrônico, nem seu celular

Eu tenho acesso às câmeras, incluindo a do elevador. Se você descumprir alguma regra, simplesmente não ficarei lá te esperando.

Imagino que você não se sinta segura em encontrar um desconhecido sem nenhuma forma de contato externo, então pode avisar a Mari sobre tudo isso, mas não avise mais ninguém, não quero chamar atenção.

O segundo andar do elevador leva ao salão nobre, o mesmo local da palestra. Achei que seria especial que nosso primeiro contato em pessoa fosse no lugar onde te vi pela primeira vez.

Aguardo você lá.

Dedicação de música de hoje:
Fade to Black - Metallica

Ass: Alguém obcecado por você"

Senti meu sangue esfriar e meu equilíbrio falhou brevemente. Definitivamente não seria nada racional fazer isso, além de que eu continuaria não sabendo quem ele é. Ainda assim, seria uma oportunidade de descobrir mais sobre ele.

Voltei para a cozinha com a carta na mão e chamei Mari:

— Mari, você pode vir aqui um pouquinho pra eu falar com você em particular?

Mari pediu licença para suas colegas e veio até mim. Me mantive calada e apenas entreguei a carta para ela, que leu num piscar de olhos e voltou a olhar pra mim

— Você vai? — ela perguntou

— Não sei. Você acha que seria imprudente ir?

— Podemos combinar um horário limite, e se você não descer até esse horário, eu subo pra te procurar. Isso te faria sentir mais segura?

— Com certeza. Que tal 18h? — sugeri imaginando que duas horas seriam tempo suficiente para conversarmos bastante.

— Pode ser. Boa sorte então.

Eu ainda estava insegura, mas o apoio de Mari me motivava um pouco. Não restava muito o que fazer por agora, então deitei no sofá na área de convívio que estava vazia, e esperei o tempo passar.

Ass: AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora