capítulo oito

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— Você está bem? — quando desligo o carro, me sinto exausto, e acho que na pausa que faço, ela fica assustada porque aproveito pra olhar pra ela. Ela estava em meu carro, ao meu lado, na minha casa, aquilo era tudo o que eu sempre quis.

Só porque demoro curtindo a vista, ela se incomoda.

— Tô só pensando que se minha mãe soubesse que está aqui, ela pegaria um voo hoje mesmo pra voltar pra casa. É doida pra conhecer você.

Abro a porta do carro para que saia, e é tão natural sua espera pela minha gentileza, que não me deixa surpreso. Eu sou dos que abrem a porta, ela era das que esperavam o ato por simplesmente saberem quem são.

Ela desce, e hesita quando dá de cara com um Dillan no modo leitura. Ele sempre dava uma medida na visita, pensava, me analisava, olhava bem direitinho de novo, e das duas uma: ou se aproximava abanando o longo rabo ou avançava na glote.

— O que ele está fazendo?

— Se decidindo.

— Ele vai me atacar?

— Provavelmente não. Mas aguardaremos pra ver. — quando digo, ela faz uma careta gostosa, ele começa com o lance do rabo, avançando em seu espaço pessoal, e ganha dela um carinho. Dou uma olhada em seu pote de ração e vejo que ainda tem um pouco, mas bem pouco. Uma abocanhada e já era, então reponho.

— Que amor, você é!

— Se der carinho demais, ele não te dará paz. E não se apegue muito, também não, viu Dillan, ela vai embora pro Canadá e não quer saber de amigos empacando sua vida!

— Por que seu humano é tão chato? Vocês o traumatizaram? — questiona e quando ganha uma latida cheia de baba na cara, se assusta. Todo mundo se assustava. — Está bem, não falarei mal dele perto de você, seu possessivo. Vocês são parecidos.

Se eu fosse/ estivesse, possessivo seus amigos do crime estariam mortos por chegarem perto de você. E se eu fosse mesmo como está dizendo, eu não tinha precisado me expor, expor meu trabalho secreto, para cuidar da sua segurança. Se eu fosse no momento, possessivo, estaria longe de encrenca na primeira vez que mandei ficar longe daquele paciente. Eu só tenho me segurado para não te assustar e estragar tudo, e na verdade, tenho tentado te conquistar de qualquer maneira e fazer as suas vontades. Pelo menos por enquanto.

— Fique à vontade. — ela adentra a sala de minha mãe, olha tudo, e acaba nas fotos da estante. Sinto que perco quando começa a "saber mais sobre mim" porque ainda não tinha entrado em sua casa. E sem convite eu jamais entraria, sendo assim permaneceria em desvantagem.

Me sento no sofá só um pouco, só por um momento, eu precisava muito descansar. Muito.

— Sua casa tem sua cara, é do jeito que eu imaginava, é bem acolhedora. É bonita, mas não é muito colorida.

— Não é minha, é da minha mãe, ela quem cuida de tudo. Teoricamente sou proibido de ir embora, ela não quer ficar sozinha e diz que só me libera quando eu me casar. Ela juntou a aposentadoria ao fato de que sempre amou cuidar de casa, e essas coisas... decoração, frufrus, flores, ela ama tudo isso. Só a sala e meu quarto que é mais neutro, mais porque ela diz que são os lugares que mais fico, mas se você entrar na cozinha e nos outros quartos, vai ver que são outros planetas. — explico de olhos fechados.

— Por que disse que ela é doida pra me conhecer?

— Porque é mais com ela que eu falo sobre você. Você é um assunto frequente. Era mais antigamente, na verdade, as coisas... se acalmaram, minha empolgação foi passando com o tempo.

I N C Ó G N I T A - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora