capítulo nove

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Abro a porta para atender a tal da ex-cunhada de caráter duvidoso. Aline era uma morena de pele bronzeada e cabelos lisos até as costelas. Tinhas os olhos de um caramelo surpreendente, lábios grossos... parecia uma modelo mesmo, era muito bonita. Estava de vestido vermelho até o meio das coxas enormes, um belo batom do mesmo tom, e seu decote era bem... bem...

— Boa noite. — ela me cumprimenta e ganha um resquício de um sorriso Monalisa sem graça porque acho que não percebi a tempo, que a estava medindo de um modo mal educado.

Ela veio preparada para encontrar com o seu ex-cunhado sozinho, naquele mini-vestido, sem ter para onde ir, e precisando de um carinho, com certeza.

— Boa noite. Oi, bebê, como você é bonito. A cara do seu tio!

— Obrigado! — como era educado e esperto, o bebê já grande e de cabelo cacheadinho. Tinha a pele mais retinta que a sua mãe, e os olhos de jabuticaba.

— Oi. — ela o cumprimenta quando ele adentra a sala limpando as mãos em um pano de prato, mas o seu cunhado não lhe oferece nenhum sorriso. Só agarra o bebê que parecia radiante por ver o tio.

Pela primeira vez eu via o policial de cara amarrada, despojado em seu conjunto de moletom preto. Ele era mais bonito do que eu havia notado anteriormente. E eu sempre soube que ele era um gato, óbvio, mas... quando ele pesca meu olhar, sinto minha face esquentar.

— O que aconteceu? — ele questiona quando termina de tirar de seu sobrinho, as novidades sobre sua 'vida de brincar e de escolinha', e a mulher ficar sem graça quando gagueja pra responder.

— O Bem está com fome? Enquanto o tio não termina a nossa torta, posso fazer companhia pra ele, lá na cozinha...

— Obrigado, Au, tem pão de forma no armário, biscoito, tudo o que ele ama comer na vovó... — sorri pra mim me agradecendo, mas não consigo sorrir de volta. Por que eu estava um pouco... incomodada com a presença dela??? Não. Talvez estivesse ainda brava pelo:

"O que foi? Vai marcar território?"

Por que? Ele não queria que eu marcasse???

Me retiro de mãos dadas com o rapazinho, mas com tempo para ouvi-la perguntando quem eu era, como se de alguma maneira, ele devesse real uma satisfação.

Me sinto esquisita com aquilo, me sinto diferente quando ele diz 'uma amiga', e não sei. Por que quando era pra me livrar de um sequestro amador, ele disse 'minha mulher', e agora, para a morena gostosona no mini-vestido, eu era a 'amiga'?

O que eu estava sentindo realmente? Era essa a questão? Eu estava com aquela síndrome da vítima vulnerável para com o herói? Óbvio que sim. Eu não havia parado para chorar, para deixar a ficha do que aconteceu cair, eu não tinha falado com meus amigos, eu estava... confusa demais e ali dentro, na casa dele, com ele, de uma hora pra outra. Talvez fosse aquelas de 'uma mulher que nunca teve um cuidado e ou uma preocupação daquelas' e agora havia experimentado uma montanha de novos sentimentos... eu estava apavorada lá dentro daquele quarto, mesmo não querendo assumir, e ele... me tirou de lá depois de... como ele fez aquilo??? Por que eu estava triste com aquela mulher ali?

Me apresso em sair daquele labirinto de dúvidas e preparo um lanche para a criança que era boazinha demais a ponto de não gritar perguntando-me pelo seu lanche. Só me encarava pacientemente, sentadinho na mesa, todo comportado.

— Desculpe, Bem. Vou fazer seu lanche em um minuto.

— 'Desculpe', por quê? — seu tio adentra a cozinha na frente da sua cunhadinha e penso nisso com raiva (?).

— A tia deu uma viajada na maionese!!! — ele nos faz rir.

— Filho, se comporte.

— Deu é? A tia estava pensando em quê, posso saber? — o não-sem vergonha questiona.

I N C Ó G N I T A - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora