capítulo doze

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parte um

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— Não adiantará me encher de sermão, sabe disso. — declaro e o todo poderoso continua ali, sentado em seu sofá de couro preto.

— Por que não está de terno e gravata?

— Estava com visitas em casa as quais não poderia mentir sobre o motivo exato de estar de social. — assente. — Peço desculpas. Eu sei que numa audiência disciplinar eu devo me portar socialmente.

— Isso aqui não é uma audiência disciplinar, tenente. Eu só preciso saber, depois do que aconteceu com um... membro da sua família, se você continua apto a prestar seus serviços como anda prestando nos últimos anos, perfeitamente.

— Eu resolvi, então estou ótimo. — assente de novo me analisando profundamente.

— A família está sendo acompanhada?

— Está.

— É certo de que nenhum membro é parte de alguma cúpula ou quadrilha que te trará problemas póstumos?

— Póstumos, senhor? — me estende uma foto.

— Sua identidade esteve vulnerável. O incidente aconteceu ao lado do departamento de inteligência, você usou sua carteira para salvar sua mulher, mas isso... poderia ter te matado. Ali dentro você é só um agente da polícia civil. E precisa continuar assim. Sabe bem o que está fazendo, sabe o que fazemos.

— Eu precisei usar.

— Eu soube. E tudo bem. Mas mesmo assim colocou em risco o nosso trabalho.

— Que bom que não é uma AD isso aqui, então. — devolvo a foto dos irmãos de Dênis mortos para sua mesa, me sentindo nauseado. — A delegada do primeiro DP, nós vamos...!?

— Esses três só precisaram subir pro céu, porque na medida do possível, não gostamos da ideia de você, em algum momento em sua carreira profissional, fazendo inimizades, sabe das regras de conduta. Deixar viver qualquer merdinha que souber demais ou achar que pode saber demais. Não sei porque raios quem e como, os capturaram naquela rodovia e os deixaram fugir. — fui eu, para que Aurora se sentisse feliz sabendo que aqueles imbecis teriam mais uma chance na vida, e porque ouvi a sua esposa no telefone dizendo que sentia que alguém fosse ajudar, como uma benção divina. Penso. — Se a fuga deles chegasse a você de alguma maneira, eu não sei, se alguma merda desse errado, a corregedoria seria o último lugar para o qual você poderia ir, colocaria tudo a perder. Doutora Ava comanda um departamento lá no centro, está por fora, ela ficará bem, esses caras respeitam a Interpol, todo mundo respeita, não importa o departamento. Só quem não respeita são departamentos alvos, como o do seu amigo e superior, o que trabalha, e bandidos, como os que precisei mandar com Deus.

Aurora vai pensar que foi eu e vai me odiar.

— É. Vou precisar... dar uma atenção para os ânimos da família deles. O irmão continua sob os cuidados do hospital, vou até lá. Se eles tiverem mesmo contatos importantes, o que posso descobrir, talvez respingue algo na doutora que não tem nada a ver com isso.

— Como sabe que ela não tem nada a ver com isso?

— Eles não receberam ajuda de fardado, Matos, fardado mesmo queria era estourar os miolos daqueles malditos, eu sou um deles, só não consegui, a filha da puta encheu aquele hospital de agente, só o que eu queria era tirar minha mulher de lá. — suspiro. — Se me permitir, eu já vou.

— O trabalho dela lá... — não.

— Ela não vai mais lidar com paciente em detenção. Nós dois já conversamos. Não contei o que... ela não precisa saber, mas... eu sei que ela entendeu, principalmente porque está traumatizada, bastante aliás, mais do que pode perceber. Já deixei claro, já conversamos, e acertamos isso. Eu tinha avisado, alertado sobre esse tipo de paciente, e agora eu vejo que ela entendeu bem. Pela conversa, e por ter acontecido exatamente o que eu disse, por causa de sua teimosia. Eu cuido dela.

I N C Ó G N I T A - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora