parte um
Anteriormente
— Como é mesmo, o nome desse exame?
— Ecocardiograma.
— Então... você viu que estava tudo ok, o doutor também disse que está dentro dos padrões... tipo... pode mudar? Posso mesmo parar de novo?
— Não... — respondo dando uma última olhada nos padrões. — Se tivessem em risco, mostraria no exame. Você vai ficar bem.
— Beleza. Anh... quando o sinal abrir, pode parar naquela esquina, antes de subirmos? Quero pegar um acarajé pra gente, você deve experimentar e ver o farol... talvez Pedro te traga, mais tarde, mas você precisa ver esse cenário á luz do dia. Pelo o tanto que bebeu, ele só acordará mais tarde.
— Eu agradeço, mas...
— Não. Me deixe fazer isso, uma forma de agradecer. Você salvou a minha vida! Deixa eu comprar um acarajé pra você! Só isso! — só porque sinto minha barriga roncar, eu aceito.
Na real não me sentia confortável em estar ali com ele, não me sentia confortável em deixá-lo simplesmente me pagar um lanche... eu estava totalmente desconfortável desde que insisti para que me acompanhasse até o hospital. Primeiro porque, tudo ficava pior justamente porque eu não sabia o motivo do desconforto, segundo porque João Pedro não estava junto, e ele era meu cunhado, terceiro que aquela viagem era pra ser bem romântica cheia da foda que a gente amava, as mais sacanas possíveis, e todo aquele clima entre os dois, aquelas novidades ruins sobre seu temperamento, estavam me aborrecendo, e sei lá... não me parecia certo eu estar ali sem ter avisado João Pedro, mas como eu poderia?
Na real eu saí praticamente correndo com ele, genuinamente preocupada, e quando fui me trocar, a criatura parecia estar no milésimo sono, totalmente desmaiado. Outra parte estranha daquilo tudo, era que apesar de ter excessos de latas de cerveja na mesa a qual se sentou, na laje, quando se levantou, e desceu as escadas, eu o encarei... João Pedro parecia mais sóbrio do que sempre foi; com aquela altura, e com aquele corpo pesado que eu tanto amava, a sua resistência a algumas latas pareciam mesmo muito boa, mas o que mais pesava em mim, era: se ele estava "bem" e não foi o álcool, de onde saiu o estímulo, e perversidade em atacar o próprio irmão?
Eu não era boba, João Pedro demonstrava ser um ser humano de puro amor e cuidado com aqueles que amam, e João Guilherme, parecia ser um cara super do bem, que só o que mais desejava, no fundo, era ser um "Caio" na vida do irmão. Só queria ser amado. Do mesmo jeitinho que eu sabia, que João Pedro era um cara cheio de feridas, traumas, e muito, mas muito rancor, tal qual tinha certeza, por algum motivo, que João Guilherme era totalmente dissimulado, não demonstrava quem dizia ser.
E eu sabia que... algo me dizia que aquelas brigas eram mesmo antigas e que eu não deveria tomar meu tempo com aquilo, até porque, João Pedro nunca se mostrou ou deu sinais de que me machucaria ou me desrespeitaria, mas... eu precisava mesmo tomar certo tempo pensando naquilo porque... alguma coisa não se encaixava, e... João Pedro rapidinho inventaria um casamento ou um noivado pra mim, eu sabia disso, e... bom, eu provavelmente aceitaria, só que não deveria, porque eu não saberia ao certo com quem estaria estreitando laços tão importantes como aquele.
João Pedro era do bem, mas João Pedro não me contava tudo. Nunca me conta tudo. Ora para me proteger, ora para não me afastar. Eu não sabia ao certo. Apesar de que muito, ele já havia mencionado, suspeitava eu que coisas bem particulares, principalmente relacionadas ao seu trabalho estranho.
Ele para em frente ao farol bonito, — e Deus, como eu amava aquela cidade; aquele ventinho, aquele calor, aquela gente bonita... menos a atendente do hospital que me mediu com nojo e com raiva pelo meu nervosismo com sua moleza e indiferença... — já me entrega um lanche pronto com uma coca-cola, e retorna para pegar o seu. Nesse momento me sento em uma das mesinhas espalhadas pela calçada, e admiro ainda mais a vista. Eu queria aquele doido aqui comigo, não seu irmão... como ficaríamos com aquele clima de bosta? Ou melhor... como ele se sentiria sabendo que o levei ao hospital, que aliás precisamos esperar horas para sermos atendidos. Espero que ele confie em mim, confie que nada demais aconteceu. Sei lá... na verdade quem poderia achar ruim algo assim sou eu, ele nunca demonstrou desconfiança em mim, de alguma maneira... ou demonstrou? Por que eu quase matei a cunhada dele numa boa, no primeiro oi, e o proibi de ficar perto dela sendo só sua amiga e mais nada.
![](https://img.wattpad.com/cover/362548789-288-k936760.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
I N C Ó G N I T A - Conto
Historia Cortasem sinopse de propósito. Por enquanto ♡ adicione o livro em sua biblioteca. Quanto mais interação, vocês já sabem, mais atualizações ;)