Capítulo 6 - O Pesadelo do Ontem

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Aviso de Conteúdo:

Este capítulo contém cenas de violência doméstica e outras situações sensíveis que podem ser perturbadoras para alguns leitores. Se você se sentir desconfortável ou se essas questões forem particularmente sensíveis para você, recomendamos que não prossiga com a leitura. Se precisar de apoio, procure ajuda profissional ou entre em contato com uma linha de apoio.

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As primeiras luzes do dia filtravam-se através das cortinas do quarto de Eduardo, criando um padrão suave e pálido sobre o chão do hospital. A sensação de estar aqui, neste ambiente clínico e frio, contrastava com a familiaridade desconfortável da minha própria casa. Eu odiava hospitais, o cheiro de desinfetante, o zumbido constante das máquinas, e o murmúrio das conversas ao fundo sempre me deram calafrios. Estar aqui é como um gatilho que desencadeia memórias das quais eu odeio lembrar.

O quarto de Eduardo se tornava uma máquina do tempo cruel, me transportando de volta a um dos dias mais aterrorizantes da minha vida. Era um dia comum, aparentemente tranquilo. Eu estava em casa, preparando a comida para o nosso almoço, enquanto Eduardo havia saído para um compromisso rápido, levando nosso filho com ele. Confiava plenamente em Eduardo para cuidar de Miguel, achando que tudo estava sob controle, mas eu não fazia ideia do pesadelo que estava prestes a se desenrolar.

Quando Eduardo finalmente chegou em casa, eu estava absorta na tarefa de preparar o almoço. No momento em que ele entrou na cozinha, percebi de imediato que Miguel não estava com ele. Um frio cortante percorreu minha espinha. "Cadê o Miguel, Eduardo?" A minha voz soava como um grito desesperado. Eduardo empalideceu instantaneamente, e foi naquele instante que eu soube que algo estava terrivelmente errado. Meu coração começou a bater descontroladamente, e eu estava prestes a desmoronar quando meu celular vibrou com uma intensidade quase cruel.

Era uma vizinha, sua voz desesperada e tremendo de pânico, me informou, quase aos berros, que havia visto Miguel trancado dentro do nosso carro. O calor lá dentro era insuportável e, por sorte, ela havia conseguido retirá-lo antes que algo pior acontecesse. As palavras dela eram como facadas no meu peito, e eu senti um desespero paralisante. O horror absoluto que me dominou era indescritível. Meu mundo girava em torno daquela notícia terrível, e eu mal conseguia processar o que estava acontecendo.

Sem pensar, eu corri, ignorando se Eduardo estava me acompanhando ou não. A única coisa que importava era chegar ao local onde a vizinha tinha levado Miguel. A corrida até lá foi um borrão de pânico e angústia. Quando finalmente cheguei, a visão do meu filho pálido e suado, mas ainda consciente, foi um alívio agonizante e uma confirmação brutal do quanto aquela situação era grave. Eu o peguei em meus braços com uma urgência quase frenética, tentando acalmá-lo enquanto a culpa e a raiva me consumiam.

Aquele sentimento de terror e impotência foi esmagador. A raiva que eu sentia por Eduardo era uma chama insaciável. Como ele pôde esquecer nosso filho, como ele poderia ter sido tão descuidado? Enquanto levava Miguel para casa, a mistura de alívio por tê-lo salvo e a fúria pelo perigo que ele havia enfrentado criava uma tempestade interna que parecia se intensificar a cada passo que eu dava.

Depois de me certificar de que Miguel estava bem e calmo em seu quarto, coloquei-o na cama com um suspiro de alívio, me sentindo exausta e emocionalmente esgotada. Quando fui em direção ao meu quarto, encontrei Eduardo lá, com uma expressão de arrependimento que parecia patética e insuficiente diante da gravidade do que acontecera. Eu não conseguia nem ao menos olhá-lo. A raiva e o nojo que sentia dele eram avassaladores, e a única coisa que consegui fazer foi gritar, como nunca tinha feito antes: "Como você pôde fazer isso, porra?!" O grito ecoou pela casa, uma expressão crua da dor e da frustração que estava sufocando minha capacidade de pensar com clareza. Eduardo, com o rosto pálido e um olhar de culpa, não conseguiu dizer uma palavra. A sua falta de reação só alimentava ainda mais a minha fúria. O caos interno que eu sentia transbordou em meu grito seguinte. "Você não tem noção do que você fez! Como pôde ser tão irresponsável, tão... inconsequente?"

Paixão nas Sombras | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora