O café estava quase vazio, o que me deu algum alívio. A ideia de encontrar o Capitão Nascimento me deixava nervosa, e o silêncio do lugar pelo menos me ajudava a me concentrar. Escolhi uma mesa ao fundo, longe das poucas pessoas que estavam ali, e pedi um café para tentar me acalmar.
Eu mal havia tomado um gole quando a porta se abriu e ele entrou. Meu coração disparou de imediato. Ele parecia tão imponente quanto eu me lembrava, talvez até mais. O uniforme, os passos firmes, a expressão séria... Tudo nele exalava controle. Eu sabia que ele não estava ali para me fazer sentir melhor, mas mesmo assim, uma parte de mim ansiava por algum conforto, mesmo que fosse improvável.
Ele se aproximou da mesa e se sentou sem cerimônia, me cumprimentando com um aceno breve. Seu rosto era uma máscara de neutralidade, como se cada palavra fosse um esforço calculado.
— Manuela — ele disse, e eu notei o peso de minha escolha de estar ali. Não era uma conversa fácil, para nenhum de nós.
Eu tentei sorrir, mas a tensão em meu corpo era quase insuportável.
— Capitão — respondi, a voz mais trêmula do que eu queria. — Obrigada por ter vindo.
Ele assentiu, mas não disse nada. O silêncio entre nós era sufocante, e eu sabia que ele estava esperando que eu começasse. Fui direto ao ponto, sentindo que ele não tinha paciência para rodeios.
— É sobre o Eduardo... e o BOPE. Ele não está bem, Capitão. Depois do acidente, ele ficou ainda mais obcecado com a ideia de entrar para a corporação. Eu... eu estou preocupada. Acho que ele está se perdendo.
A expressão dele não mudou, mas eu sabia que minhas palavras tinham causado algum impacto. Ele me olhava de uma maneira que me fazia sentir exposta, como se pudesse ver além das minhas palavras e penetrar no caos que eu estava tentando esconder.
— E o que você quer que eu faça? — a voz dele era fria, direta, sem qualquer tentativa de suavizar a situação. Era como se estivesse testando meus limites, vendo até onde eu aguentava antes de desmoronar.
Eu me esforcei para manter a calma, tomando um gole do café que já estava quase frio.
— Eu... eu não sei — minha voz falhou levemente. — Eu só sei que ele não é mais o mesmo. Ele está se afastando cada vez mais de mim, do Miguel, de tudo que importava para ele. E eu não sei até onde isso vai.
Quando mencionei Miguel, percebi um leve movimento nos olhos de Nascimento, como se algo nele tivesse cedido por um momento. Talvez fosse só minha imaginação, mas eu senti que havia algo mais ali.
— Como está o Miguel? — ele perguntou, surpreendendo-me. A pergunta parecia fora de lugar, mas, ao mesmo tempo, era como se ele quisesse saber mais do que estava disposto a admitir.
— Ele sente falta do pai — respondi, tentando manter a voz firme. — Mas é uma criança forte. Ele me ajuda a manter as coisas em ordem, mesmo que não entenda o que está acontecendo.
Ele assentiu, e por um momento, parecia mais humano, menos impenetrável. Era quase como se, por uma fração de segundo, ele estivesse realmente interessado em nós, na nossa vida. Mas logo sua postura voltou a ser a de um soldado em missão.
— Ele é sortudo por ter você — ele comentou, mas havia algo vazio em suas palavras. Ainda assim, esse simples reconhecimento me fez sentir um pouco mais leve, como se ele soubesse o peso que eu estava carregando.
— Obrigada, Capitão — murmurei, sentindo que essa era a coisa certa a dizer, mesmo que não fosse suficiente para expressar a confusão dentro de mim. — Mas... é difícil. Às vezes, eu sinto que estou perdendo tudo, e que não tenho forças para continuar lutando.
As palavras saíram antes que eu pudesse controlá-las, uma confissão inesperada. Eu não esperava que ele respondesse, mas algo em sua expressão me dizia que ele entendia mais do que deixava transparecer. O que ele disse a seguir foi um golpe de realidade.
— Você nunca pensou em... começar de novo?
A pergunta veio com uma frieza que me atingiu profundamente. Ele estava me testando, tentando ver até onde eu estava disposta a ir.
Eu pensei por um momento, tentando entender o que ele realmente queria saber.
— Às vezes, sim — admiti, minha voz baixa. — Mas é difícil imaginar deixar tudo para trás. O Miguel... ele ainda precisa do pai. Eu... ainda preciso de respostas.
O olhar de Nascimento se intensificou, e eu soube que tinha capturado sua atenção de uma forma que não esperava. Ele estava tão preso em sua mente quanto eu estava em minha dor. Mas, mesmo assim, sentia que havia algo mais que ele queria de mim.
— Respostas sobre o quê? — ele perguntou, e sua voz estava cheia de uma curiosidade controlada.
Eu respirei fundo, sentindo que estava prestes a atravessar uma linha invisível, uma fronteira que eu não havia planejado cruzar. As palavras estavam na ponta da língua, prontas para escapar, e eu não podia me impedir. Havia algo na presença dele que me fazia sentir que precisava compartilhar, mesmo que ele fosse um completo estranho.
— Sobre quem Eduardo se tornou. Sobre por que ele mudou tanto — respondi, tentando não deixar que minha voz falhasse. — Eu só quero entender o que aconteceu com o homem com quem me casei.
Ele ficou em silêncio por um momento, e eu pude ver a tensão em sua postura. Ele estava travando sua própria batalha, e eu não sabia se queria vencer ou perder. Quando ele finalmente falou, seu tom foi um pouco mais suave, quase compassivo.
— Eu vou cuidar disso — disse ele, mas havia uma advertência implícita. — Mas você precisa estar preparada para o que pode vir. Às vezes, as respostas que procuramos são piores do que imaginamos.
As palavras dele me deram um certo alívio, mas também me encheram de um medo novo. Eu queria que tudo voltasse ao normal, mas agora começava a entender que talvez isso não fosse possível.
— Eu só quero que isso acabe — sussurrei, sentindo as lágrimas ameaçarem. — Que tudo volte ao normal.
Ele ficou em silêncio, e eu sabia que ele estava pensando a mesma coisa que eu. Que "normal" era uma ilusão. Quando saímos do café, a noite estava fria, e a realidade do que eu havia começado a desmoronar me atingiu com força.
Ele me acompanhou até o carro, e eu podia sentir o peso do silêncio entre nós. Ele era o Capitão Nascimento, implacável e duro, mas havia algo em seus olhos que me dizia que ele não era tão invulnerável quanto queria parecer. Quando nos aproximamos do carro, ele parou e, pela primeira vez naquela noite, sua expressão suavizou levemente.
— Você pode me chamar de Roberto — disse ele, interrompendo o fluxo de meus pensamentos. — Não precisa de formalidades.
Eu o olhei surpresa, sem saber como responder. Aquilo era inesperado, mas de alguma forma, trouxe um pouco de humanidade àquele momento tenso. Assenti, um pequeno sorriso tentando surgir em meus lábios.
— Boa noite, Roberto — murmurei, sentindo que algo tinha mudado entre nós.
— Boa noite, Manuela — respondeu ele, sua voz voltando a ser firme, mas não tão distante quanto antes.
Um silêncio carregado de significado nos envolveu, e eu entendi que havia algo mais entre nós, uma conexão que ia além das palavras. O desejo e a dor se entrelaçaram novamente em um emaranhado complicado, e a tensão estava sempre ali.
____________________________________________________________
Oi, pessoal! Curtiram o capítulo? Os dois ainda estão só no começo da jornada de se conhecerem melhor. Mais tarde eu volto com o próximo capítulo. Beijinhos e até já! 😘👋
![](https://img.wattpad.com/cover/375716675-288-k769993.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paixão nas Sombras | Capitão Nascimento
FanficManuela está presa em um casamento sombrio, onde as promessas de amor se tornaram ecos distantes diante dos abusos que enfrenta diariamente. Seu marido, Eduardo, um policial corrupto e manipulador, é um homem brutal, cujas ações dentro e fora de cas...