Capítulo 20 - Tensão Oculta

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Narrado por Roberto Nascimento:

Enquanto eu deixava Manuela na casa da mãe dela, minha mente estava presa na lembrança do toque dela, no jeito que ela se entregou, como se o mundo ao redor tivesse parado, deixando apenas nós dois, mas agora, aqui no carro, sozinho, com o som do motor preenchendo o silêncio, a realidade me atinge. Eu me deixei levar, perdi o controle de mim mesmo.

Como fui cair nisso? Ela é tudo o que eu não sou. Delicada, livre, sonhadora... e eu? Eu sou um homem quebrado, endurecido pelas escolhas que fiz, por tudo o que vi. Manuela é o tipo de pessoa que deveria estar distante de alguém como eu. Ela merece muito mais. E Eduardo, bom, aquele desgraçado não merece nem o ar que respira, quanto mais ela.

Mesmo sabendo disso, aqui estou, atolado até o pescoço. Eu tinha problemas demais, e agora, mais um. Não sou idiota, eu sabia o que aquilo significava. Eu estava completamente fudido e eu não podia me dar ao luxo de deixar isso interferir na missão. Minha cabeça tinha que estar no lugar. Se eu me distraísse, eu sabia o que poderia acontecer, e não seria bonito.

E não era só Manuela que estava em jogo. O garoto, Miguel. Ele era inocente nisso tudo, e eu sabia que não podia deixar aquele moleque pagar pelos erros dos adultos à sua volta. Por mais que minha mente estivesse nublada pelo desejo, o instinto de protegê-los era mais forte. Eu estava determinado a manter ambos longe do caos que se aproximava. Manuela e Miguel eram minha responsabilidade agora, por mais que eu não gostasse de admitir.

Depois de deixá-la, segui seu motorista por um tempo. Fiquei na espreita, parado na sombra de uma árvore, observando a casa. Precisava me certificar de que estava tudo bem. O peso do que eu tinha feito não saía de mim. Fiquei um tempo lá, imóvel, o motor do carro ainda ligado, meus olhos fixos na casa. Tudo parecia calmo. A janela do quarto onde ela tinha entrado com Miguel estava iluminada por um abajur fraco. Meu corpo estava ali, mas minha mente estava a quilômetros de distância, revisando cada segundo do que tinha acontecido entre nós.

Foi quando o telefone tocou, me arrancando daquele transe. Olhei o visor. Neto.

— Nascimento, preciso te ver no batalhão mais tarde. Consegui algumas informações.

Minha atenção voltou na hora. Neto nunca me ligava sem motivo. Se ele tinha algo, então era importante. Eu respirei fundo, tentando sacudir aquela sensação de peso que ainda me dominava.

— Tá certo vou passar aí pela manhã. A gente precisa conversar com mais calma — minha voz saiu firme, mas carregada de impaciência.

Do outro lado da linha, a resposta veio breve e sem rodeios:

— Certo, Capitão. A gente conversa amanhã então.

Desliguei o telefone e, por um instante, senti o peso de tudo o que estava à minha volta. Meus problemas não eram poucos, e eu tinha plena consciência disso. A operação, Eduardo, Manuela... tudo estava se misturando em uma teia que eu não sabia se conseguiria controlar por muito mais tempo. No entanto, a informação que Neto era um começo. Eu precisava saber.

Olhei mais uma vez para a casa de Manuela, a luz da janela do quarto de Miguel apagada. Ela devia estar com ele agora, tentando acalmá-lo. Senti uma pontada de culpa e, ao mesmo tempo, algo mais sombrio, algo que me puxava para um lugar do qual eu tentava fugir.

Meu corpo reagiu de maneira automática, minha mente estava em outro lugar. A escuridão da noite parecia entrar dentro de mim, me arrastando para o passado que eu tanto tentava esquecer.

Eu sabia o que viria a seguir. Minhas mãos tremiam levemente no volante, e um frio conhecido percorreu minha espinha. Fechei os olhos por um momento, tentando bloquear as lembranças, mas era inútil. As imagens daquele dia maldito retornam, me perseguindo como sempre faziam, sem piedade.

Paixão nas Sombras | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora