Capítulo 14 - Roberto

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Narrado por Roberto Nascimento:

No dia seguinte à operação no Turano, voltei ao batalhão cedo, mas a noite mal dormida pesava sobre mim. O café que eu segurava não parecia o suficiente para afastar o cansaço que se infiltrava em cada músculo. Meus pensamentos ainda estavam divididos entre a operação, Manuela e, agora, Rafael. Cada problema parecia uma peça de um quebra-cabeça que eu não conseguia montar.

O telefone tocou, e o nome de Rosane piscou na tela mais uma vez. Atendi com um nó na garganta.

— Roberto, você precisa falar com ele hoje. Eu consegui que ele viesse almoçar aqui em casa. Sei que você está ocupado, mas... — a voz dela estava embargada, carregada de uma preocupação que só uma mãe sente.

— Eu vou, Rosane. Eu vou tentar resolver isso — prometi, sem saber se teria a força para cumprir.

Desliguei o telefone e fiquei ali, parado por um momento, tentando encontrar um motivo para não ir, mas sabia que precisava enfrentar essa situação. Rafael estava se perdendo, e eu não podia permitir que isso continuasse.

Quando cheguei à casa de Rosane, o ambiente me envolveu com uma onda de nostalgia que parecia distante. As paredes pintadas de um tom claro e os móveis que ainda conservavam o mesmo padrão me transportaram para uma época mais simples, quando eu ainda estava casado e a vida parecia menos complicada. Lembrava-me do tempo em que Rafael era apenas um menino cheio de vida e curiosidade, correndo pela casa e iluminando o ambiente com sua presença. Agora, ele havia se transformado em um jovem do qual eu desconhecia e distante, e aquele mesmo lar que um dia fora um refúgio de felicidade agora parecia uma lembrança melancólica do que eu havia perdido.

Rosane me recebeu com um abraço rápido, os olhos cheios de expectativa e medo. Ela sabia que a conversa seria difícil, mas também sabia que precisava acontecer.

— Ele está no quarto dele — disse, apontando para o corredor. — Mas, por favor, Roberto, tente não ser tão duro com ele.

Assenti, sem saber se poderia cumprir essa parte da promessa.

Caminhei pelo corredor e parei em frente à porta do quarto. Respirei fundo antes de bater.

— Rafael — comecei, tentando manter a voz baixa, mas firme. Eu não estava ali para ser o pai amigável, isso nunca foi meu estilo, e ele sabia disso.

Rafael ergueu os olhos por um breve momento, mas logo voltou a encarar o celular. — Fala pai — respondeu, seco, sem nenhum interesse.

O silêncio entre nós era denso, carregado de tudo o que não era dito. Eu me sentei ao lado dele, mas mantive distância, como se o espaço entre nós fosse o reflexo do abismo emocional que nos separava.

— Como estão as coisas na escola? — perguntei, tentando um ângulo mais seguro.

Ele deu de ombros.

— Normal.

Era só isso que eu ia conseguir? Respiro fundo buscando ter paciência. Precisava ir mais fundo.

— "Normal" como? Tá fazendo o que tem que fazer? Ou tá enrolando?

— Tô fazendo o que dá. — Rafael respondeu, o tom de voz ainda monótono, mas agora havia um leve desconforto em seu rosto.

Ele não ia facilitar, então resolvi ser mais direto.

— Escuta aqui, Rafael, tô te achando estranho. Parece que tá escondendo alguma coisa. Tem algo que eu deva saber?

Ele finalmente me olhou, mas só por um segundo. Tinha algo nos olhos dele, uma faísca de rebeldia misturada com... medo?

— Não tem nada, pai. Só tô cansado, só isso.

Paixão nas Sombras | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora