Capítulo 23 - Segredos em Risco

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Roberto Nascimento:

A festa estava a pleno vapor quando cheguei. Luzes coloridas penduradas entre as palmeiras piscavam como estrelas em uma noite clara, e o som de risadas e músicas se misturava ao suave vai-e-vem das ondas. O cheiro do mar se fundia com o aroma de comidas típicas e bebidas exóticas, criando uma atmosfera vibrante que, em outras circunstâncias, eu poderia até considerar agradável, mas havia uma missão que me esperava.

A tenda central estava cheia de gente dançando despretensiosamente, enquanto em mesas ao redor, grupos de oficiais e seus familiares se reuniam, trocando histórias e brindes. A areia sob meus pés me lembrava da urgência que sempre carreguei dentro de mim, uma urgência que não me permitia relaxar, mesmo com o mar convidativo à vista. Fui direto ao bar, onde pedi um uísque. O líquido escuro descia queimando, me dando uma dose de coragem.

Olhei em volta e avistei Coronel Ricardo, que estava cercado por outros oficiais. Sempre houve uma tensão entre nós, um misto de respeito e rivalidade que permeava nossas interações. Me aproximei, e, assim que nossos olhares se cruzaram, um entendimento silencioso se formou.

— Capitão Nascimento — ele disse, erguendo o copo em um gesto de saudação. — Não pensei que você apareceria hoje à noite.

— Pra ser sincero Coronel, nem eu — respondi, um sorriso curto e contido nos lábios. — Apenas conferindo se tudo está sob controle.

— Aqui está tudo em ordem, como sempre — Ricardo respondeu, seu olhar vagando para o movimento da festa. — Apenas um momento de descontração. Aproveite.

Enquanto conversávamos, avistei meu filho, Rafael, sentado em uma mesa ao fundo, totalmente absorto em um joguinho de celular com Miguel. A aproximação deles era surpreendente. Rafael, que raramente se mostrava interessado em qualquer coisa além de suas obrigações, parecia relaxado e divertido, uma expressão de felicidade rara em seu rosto. Um pequeno sorriso brotou nos meus lábios; por um momento, pensei que talvez a vida estivesse me presenteando com algo inesperado.

O barulho da festa se intensificava e foi quando vi Eduardo chegar, acompanhado de Manuela. Ela estava deslumbrante em um vestido longo vermelho, que destacava sua figura de maneira hipnotizante. A maquiagem leve ressaltava seus traços e, por um instante, eu não consegui conter a inveja que brotou dentro de mim. Eduardo, com aquele ar de quem gostava de aparecer, a desfilava em seus braços, como se a festa fosse um palco e eles, os protagonistas.

— Olha quem chegou! — anunciou Eduardo, sua voz ressoando com um tom altivo que imediatamente atraiu a atenção de todos ao redor. Ele se aproximou de Neto, que estava conversando com sua esposa, Giovana.

— Fala meu amigo! Estava esperando vocês — Neto disse com um falso entusiasmo.

Giovana sorriu e seus olhos rapidamente se voltaram para Manuela, que estava claramente desconfortável. — Oi, eu sou a Giovana, esposa do Neto. Você deve ser a Manuela, certo? — disse ela, tentando suavizar o clima pesado e iniciar uma conversa amistosa. O sorriso de Giovana, embora acolhedor, não parecia aliviar o desconforto de Manuela, que hesitou antes de responder.

— Sim, sou eu... — disse Manuela, sua voz um pouco hesitante. Ela forçou um sorriso, mas havia uma sombra de inquietação em seus olhos, como se ela estivesse tentando encontrar um lugar confortável naquele cenário agitado.

Eduardo, percebendo o clima, interveio com um sorriso largo, como se estivesse prestes a garantir que tudo estava sob controle. — Eu acho que deveríamos brindar à essa ocasião! — ele ergueu um copo como se estivesse fazendo um anúncio, chamando a atenção de quem estava ao redor.

Neto, sempre habilidoso em lidar com situações, pegou um copo extra e ofereceu a Manuela. — Aqui, um brinde ao nosso encontro! — disse ele, seus olhos brilhando em uma tentativa de trazer algum conforto a ela.

Paixão nas Sombras | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora