Paixão nas Sombras | Capitão Nascimento

Capítulo 24 - Feitiço

Toda aquela graça, todo aquele corpo

All that grace, all that body

Todo aquele rosto me faz querer festejar

All that face makes me wanna party

Ele é meu Sol, ele me faz brilhar como diamantes

He's my Sun, he makes me shine like diamonds

Young and Beautiful - Lana Del Rey

O barulho da festa crescia ao redor, fazendo o ar parecer pesado e abafado. Meus sentidos estavam em alerta e um familiar incômodo se instalou dentro de mim. Ao meu lado, Eduardo, com seu sorriso exibido, me conduzia como se eu fosse uma extensão de seu ego inflado. Vestia um longo vestido vermelho naquela noite, algo que ele escolheu por mim — algo que sempre que podia fazia questão de controlar, como tudo na nossa vida.

Sabia que estava bonita, mas essa beleza vinha com um preço. A maquiagem não escondia a inquietação que me corroía por dentro. Ao entrarmos, senti todos os olhares sobre nós, o que só aumentou meu desconforto. Eduardo adorava isso. Gostava de ser o centro das atenções, de ser admirado, e me usava como um troféu para alimentar seu próprio orgulho.

Nos aproximamos de Neto e sua esposa, Giovana, que se apresentou simpaticamente. Tentei sorrir, mas meu desconforto era evidente. Eduardo, ignorando a tensão, propôs um brinde, como sempre fazendo seu papel de centro das atenções.

Neto ofereceu um copo para mim, o que me fez relaxar, ainda que brevemente. — Aqui, um brinde ao nosso encontro! — disse ele, sorrindo com uma tentativa de me fazer sentir acolhida. Aceitei o copo voltando meu olhar para Giovana tentando desviar minha tensão em outra coisa. Porém, o desconforto em meu peito se recusava a diminuir.

— Você precisa experimentar o drink da festa, é maravilhoso! Vamos juntas? — Giovana sugeriu para ser gentil. Sem pensar muito, aceitei a oferta, ansiosa por qualquer distração que pudesse me tirar daquele turbilhão de tensão.

Enquanto nos dirigíamos ao bar, percebi alguém se aproximando, e para minha surpresa, era ele: Capitão Nascimento. Ele sempre tinha aquela aura de controle absoluto, como se o ambiente ao seu redor se moldasse naturalmente à sua presença, respondendo a cada um de seus passos.

Virei-me de imediato, sentindo-o tão próximo que o ar ao meu redor parecia mais denso. Seus olhos fixaram-se nos meus com uma intensidade que me desestabilizou por completo.

— Boa noite, Manuela... Giovana — sua voz grave cortou o silêncio à medida que ele se aproximava, carregada de uma autoridade inabalável.

Fiz o possível para disfarçar o desconforto que seu olhar me provocava, mas as memórias daquela maldita noite, sempre prontas para me assombrar, voltaram com força, me puxando para o abismo de onde eu tentava fugir.

— Boa noite... — sussurrei, tentando parecer indiferente, mas a sensação de incômodo me atravessava como uma corrente elétrica.

Ele me observava de uma forma que me deixava nervosa, como se pudesse enxergar além do que eu permitia mostrar.

— Posso me juntar a vocês? — perguntou, dirigindo-se a Giovana, mas seus olhos estavam fixos em mim. Giovana assentiu com um sorriso, e eu me senti presa em uma armadilha invisível. Será que essa sensação de sufoco sempre me acompanharia quando se tratava dele?

— O que você vai querer? — Giovana perguntou, quebrando o silêncio que parecia insuportável.

— Um uísque, por favor — Nascimento respondeu, sem desviar o olhar. Eu tentava me manter firme, mas cada palavra que ele dizia parecia mexer comigo de maneiras que eu não queria admitir.