Capítulo 3 - Ondas de Conflito

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Se lembra quando a gente

Chegou um dia acreditar

Que tudo era pra sempre

Sem saber que o pra sempre, sempre acaba

Por enquanto - Cassia Eller

Eu estou completamente paralisada, esmagada pela culpa e pela raiva que me corroem por dentro. Mais uma vez, Eduardo deixou suas marcas em mim, e, apesar disso, eu me vejo abraçando a esperança e o perdão, como se fosse possível reverter o tempo e trazer de volta o Eduardo que eu conheci e amei. A cada explosão de fúria dele, eu me convenço de que algo pode mudar, que talvez, apenas talvez, o Eduardo do passado, o Dudu que eu amava tanto, aquele que me encantava, pode emergir das cinzas do que ele se tornou. Mas estou apenas me enganando, me torturando com uma ilusão cruel de um amor que já não existe, e me envergonho profundamente por isso.

A dor é um peso insuportável, e a raiva de mim mesma se transforma em um tormento constante. Eu sempre me esforço para ser forte pelo meu filho, mas o que eu sinto é uma impotência cruel. Eu deveria ter a força para quebrar esse ciclo destrutivo, mas, em vez disso, me vejo presa em uma teia de dor e desespero. A culpa por ainda amá-lo, por esperar por um milagre que nunca virá, me consome. Cada desculpa dele é uma facada na minha dignidade, e eu continuo caindo na mesma armadilha, como uma marionete de uma peça que nunca termina. É uma batalha constante entre o desejo de ser amada e o medo de ser completamente destruída.

Eu odeio o fato de que, apesar de tudo, eu ainda carrego essa esperança dolorosa, essa necessidade desesperada de ver o Eduardo que um dia me fez feliz. Esse ciclo de amor e dor é uma tortura interminável e autoimposta. Eu sinto raiva de mim mesma por ser tão fraca e por continuar a alimentar essa fantasia insustentável. A ambiguidade entre o amor e o sofrimento me sufoca, e a vergonha por permitir que isso continue é insuportável. Eu me sinto prisioneira de minhas próprias escolhas e do amor tóxico que me cega.

Saio dos meus devaneios e retorno ao meu ateliê. Após um breve bloqueio criativo, eu estava determinada a terminar este quadro ainda pela manhã. Prometi ao Miguel uma tarde na praia, e eu não queria que nada me impedisse de cumprir essa promessa. O quadro, uma aquarela delicada, capturava um momento do meu cotidiano: uma senhora encantadora arrumando um buquê de flores em sua pequena vendinha na feira. Eu sempre adorei retratar cenas do dia a dia; é uma paixão que virou um hobby maravilhoso e uma forma de escapismo. Recentemente comecei a compartilhar meu trabalho nas redes sociais, e é com imenso orgulho que vejo as pessoas se apaixonando por minhas obras.

Quando finalizo o quadro, um sorriso de satisfação se forma em meu rosto. Sinto-me momentaneamente dona de mim mesma, lembrando-me de quem eu sou quando estou no meu ateliê. Mas esse breve momento de alívio é interrompido por um barulho vindo da sala. Encolho os ombros, sabendo exatamente o que isso significa. Ouço a voz de Eduardo me chamando.

- Manu?

- Estou aqui no ateliê - respondo, tentando manter a calma.

Ele aparece na porta, com sua farda, e me encara com um sorriso que não consigo decifrar. Eu sorrio de volta, mas é um sorriso amargo, carregado de uma esperança dolorosa. O sentimento ambíguo entre o amor e a raiva ganha vida novamente, e a culpa por ainda amá-lo me atormenta.

- Você está linda, meu amor - diz ele, e eu queria não ser tão afetada, mas meu coração trai minhas intenções a cada vez.

- Gostou do quadro? - Pergunto, tentando esconder a dor.

- É... Ficou legal - responde ele, sem realmente prestar atenção. A indiferença dele é um golpe direto no meu coração, uma lembrança dolorosa de que, apesar de todo o apoio e amor que sempre dei, ele nunca demonstrou o mesmo interesse por mim. - Vai levar o pirralho para a praia mesmo? - pergunta, com um tom que tenta esconder seu desejo de se livrar de nós. Conheço bem seu temperamento e sei que ele está ansioso para o curso de iniciação ao BOPE que começa amanhã. Tento não pensar muito nisso, apesar de ter ouvido coisas horríveis sobre o treinamento. O BOPE é parte da Polícia Militar, mas na prática, eles são outra polícia. Balanço a cabeça, tentando afastar a imagem do meu marido estirado no chão sem vida.

Paixão nas Sombras | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora