Fingi andar olhando para o celular quando entrei na frente de Annelise, que estava correndo na trilha do parque botânico, o impacto derrubou todo o meu café na minha camisa branca e me fez cair de joelho no chão.
-Oh meu Deus - Annelise se assustou, tirando o fone de ouvido e colocando a mão no coração, o peito ofegante - Você se machucou?!
-Está tudo bem - respondi, com um sorriso sem graça, me apoiando na mão dela pra me levantar - É só a camisa, ficou toda molhada de café.
-Sinto muito, me perdoa - ela estava genuinamente preocupada - Eu pago outro café pra você - Annelise tirou a blusa que estava amarrada na cintura - Veste essa por cima, pelo menos até eu te pagar um uber pra casa.
-Você está sendo muito gentil - falei, colocando a blusa dela, havia um perfume caro impregnado no tecido - Foi minha culpa também, eu não devia atravessar aqui olhando pro celular, mas é que estou preocupada com a minha mãe, ela está doente - era mentira - Muito doente.
Ela fez uma carinha de preocupação e colocou a mão no meu ombro, dava pra ver que era uma pessoa boa, mas isso não me impediria de tentar manipular uma amizade pra chegar em John...
-Conheço um café ótimo por aqui - começamos a andar juntas, em direção a saída do parque - Eu também estou precisando tomar um suco, estava no fim da corrida.
..Pegamos uma mesa do lado de fora, era um café estilo bistrô francês, e foi surreal o quanto a conversa fluiu, Annelise tinha uma voz calma e baixa, um olhar generoso e ela realmente prestava a atenção quando eu dizia algo, e pra minha supresa não precisei me esforçar pra me dar bem com ela... Falamos sobre pintura, sobre vinhos e sobre o bairro, pois contei que já morava ali há algum tempo e ela me contou que tinha se mudado recentemente com o noivo, coisa que eu já sabia, mas que se sentia solitária por ter deixado as amigas pra trás em sua antiga cidade...
-Bom, talvez o destino tenha me colocado no seu caminho ali no parque - falei, rindo - Mesmo o pequeno acidente deve ter sido uma desculpa da vida pra unir duas mulheres solitárias que precisam de companhia pra um vinho num domingo à noite, não acha?!
-Concordo cem por cento - ela riu, bebericando o suco verde - Estou feliz que lidamos bem com a situação, quando derrubei o café fiquei morrendo de medo de você me mandar tomar naquele lugar.
Passamos mais algum tempo conversando, até que ela olhou para o relógio e disse:
-Preciso ir agora - depois pegou o celular e desbloqueou - Me diz seu endereço? Vou te pedir um uber.Ali eu soube que o plano se concretizaria, pois quando respondi, ela ficou boquiaberta e depois deu uma risada sincera:
-Poxa, é muita coincidência!-O que? - me fiz de sonsa.
-Somos literalmente vizinhas, você mora no prédio ao lado do meu!
Fingi supresa, colocando a mão na frente da boca:
-Ou a gente vira amigas, ou um raio vai cair nas nossas cabeças, porque não é possível! - rimos juntas, enquanto ela pedia o mesmo uber pra nós duas.
...Quando chegamos na rua em que morávamos, ela se despediu com um abraço e pediu meu número:
-Vou te mandar mensagem qualquer dia, pra tomar o vinho que combinamos.-Ok, já estou ansiosa - respondi, dando um tchauzinho e indo pro meu prédio, observando por cima do ombro ela entrar no dela...
...Já era madrugada, quando eu estava fumando um baseado sentada no chão da sala lendo o livro Lolita, de Vladmir Nabokov, quando um número desconhecido me mandou mensagem perguntando sobre o preço do meu programa.
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𝐌𝐢𝐬𝐬 𝐕𝐢𝐜𝐢𝐨𝐮𝐬
Roman d'amourApós uma troca de olhares, Lana se torna obcecada por seu vizinho do prédio em frente, alimentando essa fantasia ela vai aos poucos cometendo atos duvidosos para se aproximar do homem que acredita ser o amor de sua vida, e aos poucos, vai perceber q...