𝒸𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 15

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Quentin abriu a porta do Jaguar, me deu a mão pra me ajudar a descer, eu usava um Louboutin raríssimo e um vestido Versace 00s, pra esse cliente eu precisava estar sempre impecável.

Entrei no restaurante com o braço ao redor do dele, com o nariz em pé pra me misturar à aquele ambiente de burguesia e daquelas mulheres esnobes e fúteis, tinha aprendido que quanto mais me misturasse menos percebiam que eu era prostituta.

Meu cliente era Quentin Palladino, um magnata italiano que sempre me procurava quando vinha para Nova York, ele era charmoso e cheiroso, mas raramente queria sexo, eu desconfiava que ele era gay e me usava apenas como fachada para jantares e aparições em público, e eu adorava isso, muito dinheiro pra nenhum sexo.

Além de ser um gentleman, que puxou a cadeira para que eu me sentasse e depois se sentou ao meu lado, exibindo um relógio absurdamente caro que tinha comprado e rindo daquele jeito rouco dele, pedimos a entrada e um champanhe para acompanhar, ele sempre me fazia rir e garantia que a noite fosse agradável... Pensando bem, talvez ele não fosse gay, apenas brocha.

Em determinado momento, virei para o lado para pegar meu espelho na bolsa pendurada no encosto da cadeira, quando meu olhar cruzou diretamente com John Copolla, duas mesas de distância, ele já me encarava com a taça de vinho encostada no lábio, fiquei sem reação e paralisada... Então notei que na mesa também estavam Annelise e Dylan, jantando e conversando.

Nova York era gigante, mas se tornava minúscula quando se tratava da elite, os lugares para se frequentar eram sempre os mesmos.

Pedi licença para Quentin para fumar, ele que não era fumante apenas assentiu e fez uma ligação para um de seus sócios enquanto isso.

Fui para o fumódromo, que era uma parte externa com visão para a rua, acendi meu cigarro e encostei na mureta, não demorou nada até que John subitamente aparecesse para fumar também.

-Ora ora - disse ele, sério - Não esperava te encontrar aqui essa noite.

-São muitos encontros inesperados ultimamente, não acha? - ajeitei o decote.

John encostou com os cotovelos na mureta e admirou as luzes cintilantes da noite:
-Concordo, é uma cidade grande, com ciclos tão pequenos... Então você é amiga do Quentin Palladino... Interessante.

Dei de ombros, colocando minha franja loira de lado e enrolando as pontas do cabelo com o dedo:
-Estamos nos conhecendo, pra ser sincera.

-Conhecendo?! - ele riu, com deboche - Esse cara é um pilantra, ficou rico passando os outros pra trás, se eu fosse você tomava cuidado.

-Fica tranquilo - soltei a fumaça no rosto dele, e ri - Sei como me cuidar.

John coçou o nariz, depois cerrou o maxilar ao dar um trago:
-Deve saber mesmo... Agora o que eu não sabia, era que você tinha esse mal gosto, estou decepcionado Lana, esperava mais...

Uma risada irônica me escapou, semicerrei os olhos e me aproximei dele:
-Isso é ciúmes? - desviei o olhar para os lábios dele - Se for, eu quero saber.

John encarou meus lábios de volta, com desejo:
-Não seja ridícula Lana - ele respirou fundo e ajeitou o cabelo - Tenho uma bela esposa me esperando lá dentro, é dela que eu gosto e pra quem sempre vou voltar.

Foi como uma lâmina fria açoitando meu coração escutar aquilo, precisei disfarçar as lágrimas que encharcaram meus olhos, o cigarro tremia em meus dedos:
-Eu sou apenas diversão né? - minha voz embargou - Não sei se vou ter outra chance de te perguntar isso, então vou aproveitar, não significo realmente nada para você John? É apenas sexo e mais nada? Você não enxerga o que eu carrego aqui dentro? - apontei para o meu peito, meu coração - Eu realmente gosto de você, desde a primeira vez que te vi, algo dentro de mim despertou e eu fiquei perdidamente apaixonada, e não tenho vergonha de dizer... Mas me diz, eu não importo pra você?!

John me escutou atentamente, deixou o cigarro cair e apagou com a sola do sapato, depois segurou meu rosto com as duas grandes mãos, afagando meu cabelo e me olhando nos olhos:
-Você é jovem, minha princesa - ele sorriu de um jeito estranho - Eu já tenho quarenta anos, o dobro da sua idade, já vivi e vi coisas que você ainda sequer imagina em passar, e entendo muito mais sobre o amor e o tempo do que você, é por isso que te digo que eu gosto de você, te acho intrigante e excitante, estar ao seu lado me faz sentir selvagem e me lembra tempos em que eu era muito feliz, você é uma fantasia - ele beijou minha testa e suspirou - Mas a vida real é dura e cruel, Annelise é o tipo de mulher que eu preciso ao meu lado para suportar a rotina, você duas são mulheres mas não estão no mesmo universo, e apesar de gostar de você é dela que eu preciso! - John deu um tapinha em minhas costas, enquanto saia - Talvez eu pudesse te amar, em outro contexto, em outra realidade, mas nessa aqui, você não é a mulher que estou procurando, sinto muito.

Solucei com o choro copioso que se apossou de mim, segurei na mão dele pra impedi-lo de sair:
-Eu realizo seu fetiches, sei do que você gosta, eu posso ser sua submissa, fazer tudo que você mandar, me deixa ficar com você John, eu prometo que te farei feliz.

Ele, com delicadeza, se soltou, e negou com a cabeça:
-A felicidade é o que acontece após o orgasmo, Lana.

-E o que é que acontece? - chorei, tapando a boca.

-A gente volta pro lar, assiste filme juntos em uma sexta-feira, prepara o jantar ouvindo jazz e conversa sobre as chatices do dia a dia.

Me faltou o ar com a dor do vazio em meu peito, fui tateando a parede enquanto caía de joelhos, sem forças e destruída por dentro:
-Eu não tenho pra onde voltar quando o orgasmo acaba, John... Não tenho.

-É uma pena, Lana - ele ajeitou as mangas da camisa - Mas enquanto existir o prazer, o desejo, eu te procurarei.

𝐌𝐢𝐬𝐬 𝐕𝐢𝐜𝐢𝐨𝐮𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora