𝒸𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 25

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Dylan me levou até o andar de cima, tapando minha boca e me segurando por trás, eu estava em pânico mas precisei me controlar, seguimos pelo corredor e eu pensei muito em lutar pra me soltar e chutar a porta da suíte para acordar John, mas o medo foi maior e me deixei ser levada até o quarto de hóspedes, aonde Dylan me soltou e fechou a porta, passou a chave e guardou no bolso de trás.

Ele tirou o capuz do moletom preto, e sob a baixa luminosidade eu vi John em seu semblante, os dois não eram tão parecidos, mas as vezes, pareciam o mesmo.

-O que faz aqui, Dylan?! - perguntei, abraçando meu próprio corpo, acuada no canto.

-Como assim? - ele deu um passo na minha direção - Essa casa também é minha, e o meu pai ainda é meu pai, eu não tinha pra onde ir e sabia que ele estaria aqui.

Tentei me afastar um pouco mais, mas já estava encostada na parede, e ao meu lado uma janela entreaberta, senti um calafrio na espinha:
-Tem razão - suspirei, tentando ficar calma e conversar normalmente - Dylan, você sabe que a nossa relação é especial, sempre tive muito carinho por você... Então seja sincero comigo, não vou te julgar, foi você? - engoli em seco - Que empurrou Annelise?!

Dylan hesitou por alguns segundos, usou a mão pra colocar o cabelo bagunçado pra trás e negou com a cabeça:
-Ele insiste em me culpar né?! - havia frustração em seu rosto - Fico triste que você tenha dúvidas Lana, pensei que me conhecesse melhor, eu sou um idiota, não mataria uma mosca... E qual seria o meu motivo? Não era eu quem traia ela toda semana, que gritava com ela, que a humilhava sempre que tinha a chance.

Tapei os olhos com a mão e esfreguei, estava exausta de me sentir confusa e perdida:
-Já não sei mais no que acreditar, é muita pressão...

Quase soltei um gritinho ao sentir ele me abraçar, meu corpo todo enrijeceu, mas ao sentir seu cheiro e o conforto de seu abraço, me lembrei daquele Dylan sensível e gentil que eu tinha conhecido meses atrás, um garoto cheio de sonhos e extremamente romântico, então relaxei e soltei o ar, me apoiando em seu ombro.

-Senti tanto a sua falta - lamentou Dylan - Foram dias horríveis na prisão, e mesmo quando fui solto, tive medo de nunca mais te ver, pensei que meu pai fosse acabar com tudo.

-Está tudo bem agora - respondi, dando um beijo lento no pescoço dele - Não precisa ter medo.

Mas o destino tinha outros planos, pois com a chave mestra da casa John abriu a porta do quarto de hóspedes e flagrou aquela cena.

-Você não é bem-vindo aqui! - disse, de braços cruzados no corredor.

Dylan olhou pra trás por cima do ombro, ainda me segurando firme em seus braços:
-Somos do mesmo sangue, como tem coragem de dizer isso?!

John continuou:
-Solta a Lana, e vai embora daqui, antes que eu te expulse à força!

Dylan riu, mas de um jeito triste, como se forçasse a ironia pra disfarçar a profunda tristeza que sentia:
-Na sua cabeça doente eu ainda sou um garotinho assustado né? - ele me soltou e se virou para o pai, apontando o dedo - Aquele garotinho que tinha medo de você, que sempre chorava depois uma surra, que aguentou todo tipo de abuso e humilhação do pai que deveria protegê-lo do mundo, que deveria cuidar dele... Mas esse garotinho que cresceu, e toda a dor que você me causou me fortaleceu, já não tenho mais medo de nada, muito menos de você, seu velho babaca!

John deu um grito de fúria, algo que soou como um animal, e partiu pra cima do filho, eu me encolhi na parede e cobri a boca pra não gritar.

O impacto fez Dylan ser arremessado na parede, mas ele foi rápido o suficiente pra desviar do soco que John lhe desferiu, que acertou a parede abrindo um buraco em formato de punho.

Se aproveitando do erro, Dylan deu uma chave de braço em John, que agarrou o antebraço dele e começou a puxar pra baixo, os dois lutavam dando o máximo de suas forças, John se debatia e tentava jogar Dylan pra frente, mas ele era um rapaz alto e parecia estar mais pesado e forte.

-Parem com isso! - gritei, desesperada - Por favor parem!

Dylan me olhou com tristeza, grandes olhos marejados:
-Ele nunca vai deixar a gente viver nossa história de amor, eu preciso acabar com isso!

John, que lutava pra respirar, disse com a voz engasgada:
-Ela não te ama seu moleque burro! - ele cuspia enquanto falava - Ela só te usou pra ficar próxima de mim!

Arregalei os olhos, pois não sabia que ele tinha consciência disso, eu nunca havia falado nada sobre isso com John, sempre achei que minha manipulação tinha passado despercebida, mas eu devia imaginar, ele era um homem muito inteligente.

Dylan, agora assustado, voltando a parecer um adolescente, perguntou:
-É verdade isso, Lana?!

Desviei o olhar pra parede e comecei a chorar, sem lhe dar uma resposta, pois eu não conseguiria dizer nada sem morrer de vergonha, sem me sentir um lixo de pessoa.

Foi então que ele soltou o pai, John saiu arfando e cambaleando até a parede, recuperando o fôlego, já Dylan veio até mim e caiu de joelhos, segurando a minha mão:
-Me diz que é mentira, me diz que você também me ama, eu imploro!

Apertando os olhos que escorriam lágrimas de profundo arrependimento, eu respondi com a voz falhando:
-Eu... Eu... Amo o John... Sinto muito, mas sempre foi ele, tudo que eu fiz nos últimos meses foi pra ficar com ele, me perdoa Dylan mas eu amo o seu pai.

Dylan chorou, um choro alto e doloroso, caindo com os cotovelos no chão e cobrindo o rosto, foi o momento mais triste da minha vida, ver o que eu tinha causado mais uma vez.

E pra minha supresa, John se aproximou do garoto, se ajoelhou ao lado e o abraçou, foi um momento estranho, pois ele as vezes parecia quase um ser desumano, mas ali eu vi que existia um pai, cheio de falhas e problemas, mas que ainda amava o próprio filho, e não queria vê-lo sofrendo.

𝐌𝐢𝐬𝐬 𝐕𝐢𝐜𝐢𝐨𝐮𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora