𝒸𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 13

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Meus olhos se inundaram das mais dolorosas lágrimas, Mazzy Star tocava na vitrola enquanto eu escovava meus cabelos sentada de frente ao espelho da penteadeira, como de costume.

E se eu pintasse meu cabelo de preto? Deixasse ele mais curto e liso? Talvez se diminuísse a maquiagem e usasse roupas mais comuns, quem sabe assim John me levaria mais a sério e me acharia mais bonita, talvez até largasse de Annelise e pedisse minha mão em noivado, eu só precisava ficar um pouco mais bonita, pois interessante eu sabia que era, e sexualmente éramos quimicamente ligados, nossos corpos se atraiam como magnetismo... Então o que faltava?! O que eu tinha que fazer pra ser dele?!

Fui fumar um cigarro na varanda, enquanto fazia uma trança no cabelo pra deixá-lo ondulado, quando recebi uma ligação, era Annelise... Antes de atender olhei pra varanda da frente e lá estava ela acenando com o celular na orelha.

-Oi amiga - atendi.
-Oi Lana, tudo bem?
-Tudo sim, e com você?
-Estou ótima - ela sorria do lado de lá, com um avental sujo de tinta e o cabelo preso no alto - Estou ligando pra te fazer um convite, essa noite é meu aniversário e vou fazer um coquetel aqui em casa, só para pessoas íntimas e tal, nada grandioso, e queria muito que viesse.

Meu coração acelerou no peito, senti um nó na garganta ao assimilar o convite, pois isso significava que eu iria entrar no apartamento de John pela primeira vez, então assim que voltei a mim, respondi:
-Será um prazer, vou agora mesmo comprar uma lembrancinha pra você.

-Imagina, não precisa - ela fez uma pausa, e continuou - Enfim, será as oito da noite, te espero, beijos.

-Beijos, conte comigo - desliguei a ligação, segurando um grito ansioso que escalava na minha garganta, e entrei apressada pra me trocar pra sair as compras.
...

Faltava apenas meia hora, eu estava deslumbrante em um vestido preto com uma fenda lateral, decote quase exagerado e um colar de esmeralda, fiz uma maquiagem felina, com o olhar preto e esfumado puxando para os lados, os lábios cor nude bem desenhados.

De presente tinha comprado uma pulseira de trezentos dólares, não podia gastar mais do que isso e a pulseira era charmosa apesar de sem graça, combinava com a aniversariante.

Borrifei meu perfume francês no corpo inteiro, depois passei creme e iluminador no colo e nos braços pra deixar como de boneca, vesti meu salto agulha e deixei o apartamento.
...

Precisei conter a emoção ao andar por aquele corredor, e respirei fundo antes de apertar a campainha... Ouvi passos pesados se aproximando e quando a porta se abriu, nossos olhares se cruzaram com espanto, era John.

-Lana?! - ele franziu o cenho, confuso - O que faz aqui?!

-Annelise me convidou - respondi com um sorriso sínico - Para o coquetel.

Ele remexeu o copo de whisky e ajeitou a gola da camisa, encostado no batente:
-Aonde você quer chegar com isso?!

Fuzilei ele com o olhar, sem me intimidar:
-Não entendi, isso o que?!

De sobressalto ele agarrou meu braço e apertou, puxando pra perto de si com raiva no tom de voz:
-De alguma forma você conheceu a minha esposa, está agora querendo entrar na minha casa, fica me vigiando pela varanda - ele inflou as narinas, bufando de ódio - Meu conselho é você dar meia volta daqui e nunca mais falar com a Annelise, ou essa história vai acabar muito mal!

Interrompendo a conversa, Annelise surgiu do fundo da sala, com os braços abertos e um sorrisão:
-Lana! - ela exclamou - Que bom que chegou amiga, fiquei com medo que não viesse!

John então abriu espaço e nós duas nos abraçamos, lhe entreguei a sacola com o presente e ela afagou o braço dele:
-Esse é John, meu noivo, e essa é Lana, nossa vizinha de janela.

Trocamos um sorriso sem graça e ela me guiou pra dentro da sala, me apresentou a algumas de suas amigas da alta sociedade e me mostrou alguns dos quadros que ela tinha pintado, depois me ofereceu alguns drinks e ficamos todas sentadas no sofá conversando com um som ambiente de MPB.

John estava na cozinha, conversando na roda dos maridos, ele vez ou outra me olhava de canto de olho e depois disfarçava, eu estava com a adrenalina no máximo, me sentia correndo risco e isso me excitava.

Até que pedi licença pra ir para a sacada fumar um cigarro, encostei no parapeito e dei um longo trago de olhos fechados, sentindo a fumaça ir pro pulmão e me preencher e acalmar... Até que senti um toque no meu ombro e uma voz conhecida perguntou:
-Oi, me empresta o isqueiro?!

Fiquei boquiaberta ao ver Dylan na minha frente, usando uma camisa polo e o cabelo loiro bagunçado na testa, ele também ficou sem palavras com a minha presença:
-Lana?!

-Aqui - tentei disfarçar, acendendo o cigarro na boca dele - E oi, sou eu.

Ele segurou o cigarro entre os dedos e esboçou um sorriso trêmulo, estava nervoso e desconfortável:
-Você conhece a Annelise?
-Sim, você também?

Dylan tirou o cabelo da testa e riu, balançando a cabeça:
-Ela é minha madrasta, eu moro aqui.

Engoli em seco, meus pensamentos vieram todos a milhão e me tontearam, não acredito no que estava prestes a dizer:
-Então... Você é filho do John Copolla?!

-Sou - ele soprou a fumaça pelo canto da boca, olhando pro pai lá dentro - Infelizmente sou.

-Ai meu Deus - deixei escapar, com um suspiro e sentindo o mundo girar abaixo dos meus pés - Quer dizer, que legal, eu conheço seus pais.

Dylan assentiu, e depois de um tempo em silêncio, pediu:
-Pode guardar segredo?! - ele baixou o olhar para o chão - Eles não sabem que eu uso minha mesada com garotas de programa, na verdade não uso, usei com você, mas queria usar mais vezes, se você for discreta.

-Claro - coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e respirei fundo - Prometa guardar o meu segredo também então, sua mãe não faz idéia sobre nada disso...

Ele concordou, e antes de dar o próximo trago, perguntou:
-E meu pai?!

𝐌𝐢𝐬𝐬 𝐕𝐢𝐜𝐢𝐨𝐮𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora