𝒸𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 6

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Um trovão estremeceu todo o meu quarto e me despertou do meu sono profundo, acordei assustada e com um nó na garganta.

Abraçada ao próprio corpo andei pelo corredor acinzentado pela penumbra da manhã chuvosa, lá fora uma tempestade assolava o centro de Nova York.

Peguei meu maço de Marlboro e o isqueiro, coloquei um disco do Mazzy Star pra rodar na vitrola e como de costume, fui para a varanda fumar o primeiro do dia.

A rajada de vento frio soprou meus cabelos pra trás, era como se o clima fosse uma premonição da escuridão que estava próxima de me envolver.

Do outro lado da varanda, naquela soturna manhã de domingo, estava John com uma mulher em seus braços, ele a segurava pela cintura em um beijo apaixonado, os braços dela ao redor do pescoço dele, e eles sorriram um para o outro quando os lábios se separaram, depois ela deixou duas malas no chão da sala... Foi até a varanda, olhou ao redor e para baixo, me olhou por um instante e sorriu, em seguida fechou as cortinas para voltar para o meu homem.

Senti o chão ser arrancado de meus pés, meu estômago embrulhou a dor foi física, a sensação de facadas frias me açoitando pelas costas, o gosto amargo na garganta, me apoiei no parapeito e comecei a tossir, deixei que o cigarro caísse dos dedos em rodopios para o abismo.

Levei algum tempo para começar a chorar, mas quando comecei, dei um grito silencioso com a boca arreganhada e as unhas arrancando a pele do meu rosto, cambaleei pra dentro do apartamento e me joguei no chão...

Arranquei tufos e tufos de cabelo, me arranhei, mordi meu próprio braço, eu queria sentir dor pior do que a que me assolava por dentro, eu estava exausta de sempre me iludir, as coisas nunca davam certo pra mim, eu era sempre a rejeitada e nunca a escolhida.

De frente pro espelho da penteadeira eu chorei, não fazia o mínimo de sentido, eu era perfeita, tinha sido a garota mais bonita da minha cidade natal, os homens sempre estiveram ao meu redor mas nunca escolheram permanecer, e eu era uma ótima garota, sempre atenciosa e carinhosa, deixava que eles fizessem comigo o que quisessem no sexo, eu era obediente e engraçada, o par perfeito pra qualquer homem inteligente... Mas eles sempre me trocavam por uma mulher básica, assim como aquela, era sempre a mulher simples e comum, e eu as odiava por serem como ervas daninhas no meu jardim do éden, aonde apenas eu deveria ser a Eva.

-Ele me iludiu - falei para o reflexo no espelho - Me levou para jantar, para o teatro, me apresentou aos amigos, e tudo isso pra que?!

A sensação de morte me arrastava para baixo, queria me fazer pular daquela varanda, pois eu tinha perdido a minha última motivação e obsessão, John era o que eu sempre tinha sonhado desde criança, ele era tão bonito e cheiroso, charmoso e elegante, eu seria um perfeito adorno a vida perfeita dele... Mas ele nunca tinha me convidado para ir ao seu apartamento, e lá estava aquela vadia, aquela maldita piranha desgraçada, ocupando o meu lugar e vivendo a porra do meu sonho.

Chorei as lágrimas mais dolorosas já derramadas antes no mundo, e enquanto meu pranto me acometia eu me maquiei, uma maquiagem pesada e escura assim como meu humor, pela primeira vez em anos alisei o cabelo, retirei as perfeitas ondas douradas e deixei que ficasse liso e apático.

Coloquei um vestido preto, uma jaqueta de couro, botas acima do joelho, luvas pretas, acendi meu cigarro e deixei meu apartamento.

Caminhei na chuva, fumando um cigarro apagado, com o cabelo molhado colado no rosto, as roupas encharcadas, deixei que a tristeza fosse se esvaindo do meu corpo enquanto chorava copiosamente em público andando sem rumo na chuva fria, até que avistei um letreiro vermelho cintilante e soube que lá haveria álcool.

Assim que entrei no club, todos os olhares se voltaram para mim, uma mulher bonita e toda molhada com a maquiagem derretida chamava a atenção de todos os tipos de homens.

Andei entre as pessoas na pista de dança e segui para o bar:
-Quero vodka pura com gelo.

Comecei a beber, ouvindo a música idiota é eletrizante ser tocada pelo DJ, virei goles fartos sentindo o álcool queimar minha garganta e estômago vazios, logo minha visão ficou turva e meus pensamentos confusos.

-Eu pago pra ela - disse um rapaz, em torno de dezenove anos, com cara de nerd - Pode pedir o que quiser gatinha.

-Paga é? - dei um sorriso de bêbada pra ele, e agarrei na camiseta dele - E o que você faz da vida? É universitário? Aposto que ganha menos que eu.

Ele respondeu algo que não entendi pois o som estava alto e eu não estava interessada, então apenas continuei pedindo na conta daquele idiota e fui ficando cada vez mais chapada, e depois de um tempo mais quatro amigos dele apareceram e começaram a falar comigo e ao meu redor, eu não entendia nada.

Eles passavam a mão em mim, nos meus peitos, entre as minhas pernas, eu tentava fugir mas estava muito alta pra isso, eu apenas xingava eles e dava risada, até que me levantei e cambaleei pra pista de dança, chamando eles:
-Venham, seus virgens!

Dancei no meio da roda que eles fizeram pra me ver, de olhos fechados e mexendo meu corpo do jeito mais vulgar possível, eu sorria enquanto chorava, me esfregava neles, estava embriagada na atenção que eles me ofereciam naquele instante, eu queria ser vista, ser tocada, ser amada e idolatrada.

Até que eles me puxaram pelo pulso e me levaram para o fundo da boate, eu não conseguia andar naquele salto, eles faziam piadas que eu não entendia e riam o tempo inteiro, e quando saímos na chuva entendi que estava do lado de fora, e lá uma van branca me esperava no estacionamento.

Fui colocada nos fundos da van, os rapazes, que eram todos universitários e provavelmente burgueses, mudaram o tratamento comigo assim que fecharam a porta.

-Agora tu vai chupar sua vadia - disse o magricelo de óculos - Eu paguei seus drinks e tu vai pagar o boquete.

Por algum motivo, eu sabia que não adiantava resistir, eles eram muitos e eu mal conseguia ficar com a cabeça em pé, então apenas obedeci, comecei a chupar o pau pálido e fino dele, enquanto os outros levantavam meu vestido e puxavam minha calcinha, até rasgarem.

Eu fui humilhada verbalmente, eles me trataram como uma puta burra e bêbada, enquanto eu chupava outro deles, ele disse:
-Gostosa e burra, olha esses peitões falsos - ele gargalhou - Eu disse pra vocês que essas putas só se fazem de difíceis no colégio, depois de adultas elas entendem pra que servem.

-Eu só tenho vinte anos, seu otário - respondi, tirando o pau dele da boca.

-Acho que ser depósito de porra envelhe então - ele e os outros riram feito idiotas.

O pesadelo acabou meia hora depois, quando abriram a porta da van e me empurraram pra fora, todos tinha gozado na minha boca pois não queriam correr o risco de pegar uma DST, segundo eles.

Caí na calçada, chorando com o rosto entre os braços no concreto, sentindo o gosto amargo de esperma e um profundo vazio, eu me sentia feia e desvalorizada, senti que talvez aqueles garotos estivessem certos, talvez eu não fosse o tipo de mulher que eles casam, eu parecia mais velha do que era, mais vulgar do que deveria... Eu tinha nascido pra ser a puta, e não a esposa troféu... Mas eu não aceitaria a porra da realidade, pois queria viver a minha fantasia, o meu conto de fadas.

𝐌𝐢𝐬𝐬 𝐕𝐢𝐜𝐢𝐨𝐮𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora