𝒸𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 18

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-Estou te machucando? - perguntou o cliente, deitado nas minhas costas - Quer que eu pare?!

-Não - respondi, entre lágrimas - Continua...

Ele deitou o rosto no meu ombro e estocou mais algumas vezes, enquanto eu tentava segurar o choro, mas em determinado momento dei um grito abafado com o rosto no travesseiro, estava à beira de uma crise de ansiedade, as represas estouraram e uma crise de choro me afligiu.

-Isso tá muito estranho - o cliente tirou o pau de dentro de mim, e se levantou da cama - O que eu fiz de errado?! Não quero problemas Lana!

-Não é você! - abracei meus próprios joelhos encostada no canto da cama, nua e tremendo, com o rosto molhado de lágrimas - O problema sou eu, sempre fui eu...

Ele, que já estava colocando as calças e passando o cinto, franziu o cenho:
-Do que você tá falando?!

Escondi o rosto entre as pernas e murmurei:
-Vai embora... Não precisa me pagar dessa vez, só me deixa sozinha.

Assim que ele saiu, me debrucei na cama e deixei fluir toda a tristeza que se espalhava por meu corpo e transbordava ao atingir seu limite, eu tinha fodido com tudo que eu mais queria, John nunca me perdoaria por ter ficado com seu filho e se aproximado de sua esposa, já Annelise pareceu extremamente decepcionada comigo apesar de eu não entender bem seus motivos, talvez ela pensasse que eu estivesse me aproveitando da inocência de Dylan, ou então que a usei para chegar em Dylan...

Tudo era muito confuso e eu não sabia mais o que fazer, era como se a única opção possível fosse me afastar, mas só de imaginar nunca mais ver John meu coração se desfazia em mil pedaços, eu preferia morrer do que deixar o amor da minha vida partir sem lutar até o fim.

Chorei até cair no sono, e só fui despertar com o som do interfone tocando, considerei deixar tocar até desistirem, mas podia ser o John, então me forcei a levantar e ir até lá:
-Alô.
-Boa tarde Lana - disse o porteiro - Annelise Copolla está aqui, posso deixar subir?

Senti um calafrio ao ouvir aquele nome, hesitei alguns segundos, com medo, depois falei:
-Sim, deixa subir.

Encostei a testa na porta e aguardei, com o coração acelerado e suando frio, até que a campainha tocou, e abri a porta.

-Oi - disse ela, com dois copos do Starbucks na mão - Posso entrar?

Sentamos no sofá, me sentei o mais distante possível, estava acuada com medo de ser ainda mais humilhada do que já me sentia, e me sentindo feia por estar com o rosto inchado e o cabelo todo bagunçado, ela nunca tinha me visto assim antes:
-Eu devia ter pelo menos penteado o cabelo - falei - Se soubesse que viria.

-Relaxa - ela esboçou um sorriso, e me ofereceu meu café - Desculpa aparecer sem avisar, mas é que estou me sentindo mal com os últimos acontecimentos, e queria esclarecer tudo direto com você, se não for um problema pra você, é claro.

Dei um gole, era um frappuccino de morango, depois assenti:
-Antes que você diga qualquer coisa, quero me desculpar por ter desrespeitado sua casa, aquilo que aconteceu foi um erro, me culpo muito por isso - respirei fundo e tirei o cabelo da frente do rosto - Agora, pode falar.

Annelise pensou um pouco, sua linguagem corporal revelava certo nervosismo, ela estava um pouco trêmula e evitando contato visual:
-Você e o Dylan são adultos, por mais difícil que seja para John admitir isso, o filho dele cresceu e está se tornando um homem, eu não os julgaria por aquilo que aconteceu de forma alguma, pelo contrário, eu entendo muito bem ele - ela puxou o ar, e soprou devagar, como se buscasse se acalmar - Só fiquei muito pensativa na forma com que ver aquela cena me deixou, foi algo inesperado como eu reagi, pois me deixou mal por dias e não é tão grave assim, ainda estou tentando processar meus sentimentos, mas por mais bizarro que pareça, é como se eu tivesse sentido ciúmes, me sentido traída e decepcionada, é estranho, não é?!

Realmente era estranho, mas eu estava tão perdida em meus pensamentos que mal conseguia processar as informações:
-Sinto muito que isso tenha te feito mal, nunca foi a minha intenção me aproximar pra causar problemas - eu precisava mentir, tentar limpar o máximo possível a minha imagem - Tenho muito carinho e respeito por você Annelise, é a minha única amiga nessa cidade, quer dizer, te considero uma amiga apesar do pouco tempo que te conheço.

-Sei de tudo isso - ela colocou a mão na minha coxa - Fui eu quem te coloquei na minha casa, depois daquele dia no parque muita coisa mudou pra melhor, eu acordava ansiosa pra te ver, ficava pensando em mandar mensagem, ou combinar algo, talvez eu esteja carente por estar longe das minhas amigas e família, mas a sua aura é tão boa Lana, eu não quero te perder, mesmo que isso vá me causar dor de cabeça.

-Obrigada - a abracei, de súbito - Também não quero te perder.

Annelise suspirou em meu pescoço, afagando minha cintura com a mão, e lentamente foi encostando os lábios em meu rosto, deslizando suavemente até encontrar os meus para consumar em uma beijo lento e romântico, enquanto ela tocava meu peito por debaixo da camiseta, massageando o formato e depois o mamilo.

-Quero transar com você - implorou ela, sussurrando em meu ouvido - Quero tanto...

Levei ela segurando em sua mão até o meu quarto, e antes de fechar a porta olhando pro corredor, algo como um espasmo de um sorriso se fez repuxando meu lábio, e então, eu a fechei.

O sexo foi muito bom, Annelise me fez gozar cinco vezes, três com a boca e duas com os dedos, ela era muito experiente pra uma mulher que se dizia hétero, haviam muitos segredos escondidos naquela fachada de moça culta e tímida.

Deitadas na cama, ela começou a falar enquanto eu acendia um cigarro e me apoiava no cotovelo:
-Sou uma pessoa ruim?

-Não - respondi prontamente - Por que?

Ela sorriu com certo pesar:
-Acabei de trair meu marido, e não me sinto mal por isso, me sinto livre - ela tapou o rosto com as duas mãos - Estou tão feliz que quero gritar, mas não vou é claro, é só que parece que estou começando a viver agora depois dos trinta anos, antes tudo me soa como uma mentira bem contada.

Soltei a fumaça pro lado, pra não ir no rosto dela:
-A vida é uma eterna jornada de autoconhecimento, e não existe um fim nesse caminho, porque você muda todos os dias, e no dia seguinte, você precisa conhecer essa nova versão sua, a cada olhada no espelho refletimos alguém diferente da anterior, é como um rio.

Ela me olhou no fundo dos olhos:
-Acho que a correnteza está me puxando pra longe de John - lágrimas se formaram nos cantos - Pois ele também me trai, eu sei disso faz muito tempo, ele tem as fantasias dele que eu nunca me prestaria a realizar, eu odeio a forma com que ele enxerga as mulheres, sempre objetificando e fazendo comentários maldosos, odeio como ele se sente superior mesmo eu sendo melhor que ele em tantas coisas, odeio quando ele falta alto comigo, meu Deus, eu apenas o odeio.

Nesse momento, me deitei em seus peitos pequenos e abracei sua barriga magra, Annelise beijou o topo da minha cabeça, fiquei em silêncio tentando pensar em uma forma de lidar com aquilo, pois se ela se apaixonasse por mim, o problema estaria escalando e aumentando como uma bola de neve.

𝐌𝐢𝐬𝐬 𝐕𝐢𝐜𝐢𝐨𝐮𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora