06. Lembranças

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Tentei seguir minha vida me esforçando para acreditar que a minha imaginação estava me pregando peças. Eu não podia aceitar que eu estava ouvindo uma voz que saia do espelho. E quem acreditaria em mim se eu contasse essa história? No mínimo me chamariam de louca.

Me arrumei para a festa, nada muito chamativo. Estava com um short jeans, que dava no meio das coxas e uma blusa leve de alças finas. Esperei dar o horário combinado para ir encontrar as meninas na casa da Antonella, e segui para lá, toda feliz, pois seria a primeira festa de verdade que eu iria.

Enquanto eu andava distraída pela calçada, um carro diminuiu a velocidade, quase parando ao meu lado. Era um carro preto, um modelo antigo, tipo aqueles carros de colecionador. A janela  do carona abaixou, e então eu vi  três pessoas no carro: um velho ao volante , uma mulher no banco de trás e um homem no banco do carona. Os olhos desse homem me deram arrepios, pois parecia que eu estava olhando para um bloco de gelo, então ele falou:

- olá mocinha! Pra onde vc vai andando, quer uma carona?

Eu continuei andando sem responder. O carro continuou andando vagarosamente ao meu lado. O homem insistiu:

- Venha...! Entre, te damos uma carona, te garanto que não faremos mal a você.

Eu olhei para o homem, e respondi:

- Eu agradeço, mas prefiro andar.

Ele estendeu o braço, como se quisesse segurar a minha mão. Mas, por instinto, recuei para dentro da calçada.
Quando ele fez esse movimento, pude notar uma tatuagem no braço dele. Era uma vibora negra com olhos vermelhos.
Aquilo me assustou, a tatuagem era sombria. E porque ele estava tentando me segurar?

O velho que dirigia, olhou pra mim e disse:

- Uma pena não aceitar a carona,  mas nos veremos por aí.

Olhei para ele, o velho era muito estranho. Tinha a pele acinzentada, e a boca em uma linha fina que se curvava em um sorriso que parecia saído de um filme de terror. A mulher no banco de atrás deu um sorriso pra mim, e disse para o velho :

- Ainda não é a hora.

Então, o homem com a tatuagem de vibora disse:

- Seria tão mais fácil se você viesse conosco, se comporte na festa Tália. Você não tem permissão para ser tocada por ninguém.

Olhei em desespero para o homem, como ele sabia meu nome e pra onde eu estava indo? Quem são essas pessoas? Fui tentando me afastar do carro,  tentando encontrar alguém para pedir socorro. Mas a rua estava deserta. Saí correndo e entrei na primeira porta aberta que achei. Estava quase sem ar, meus pensamentos  não se conectavam. O que estava acontecendo?

Então uma mulher apareceu e perguntou:

- Está tudo bem menina?

Foi entao que percebi que estava dentro de um pequeno antiquário, haviam alí livros, alguns objetos antigos e móveis que pareciam ser do século passado e coisas que pareciam bijuterias. 

- Si...simm...! Eu acho que estava sendo seguida por alguém,  eles queriam que eu entrasse no carro . Respondi meio gaguejando para a Senhora.

- Ohh minha filha, que bom que você conseguiu fugir, venha... sente-se aqui. Vou pegar uma água com açúcar pra você.

Eu olhei pra senhora, ela tinha os cabelos brancos e um rosto suave. Me senti segura perto dela.
Ela entrou em uma portinha que havia na lateral da loja para ir buscar a água.

- Ei guria..!

Chamou uma moça que estava atrás do balcão.
Olhei para ela. Ela parecia ter a minha idade, era alta, a pele morena clara e tinha  lindos cabelos pintados de roxo que caiam em tranças.

- Você tem uma energia diferente. Ela afirmou .

Continuei olhando para ela sem entender o que significava aquilo que ela disse. O sotaque dela também não parecia ser daqui da Bahia.

- Você é diferente guria , tem uma aura que não consigo entender direito. É como se faltasse um pedaço dela. A menina falou.

- Eu tenho o que?  Olha moça, eu não sei sobre o que você está falando. A única coisa que eu sei é que preciso ir, já estou atrasada pra um compromisso.

Ela se levantou, e se aproximou de mim. Pegou a minha mão, virou a palma para cima, olhou para os traços que viu. E disse:

- Eu me chamo Alexis. E você precisa achar o rio de prata.

Mais confusa ainda. Eu a encarei nos olhos. E tenho certeza que minha testa estava enrugada com uma expressão genuína de dúvida. O que essa moça tá falando? Que rio? O que está acontecendo hoje? Tá todo mundo louco? Só pode...!
Eu puxei a minha mão e quando eu ia responder para a Alexis a senhora entrou com um copo d'água.

- Aqui menina, beba. Me ofereceu a Senhora.

- Obrigada! Eu me chamo Tália, e agradeço muito a ajuda. Mas agora preciso ir. Já estou muito atrasada para encontrar algumas amigas.

Entreguei o copo vazio para a Senhora, e agradeci mais uma vez me despedindo. Mas quando eu estava perto da porta, a menina de cabelos roxos me impediu de sair, olhou pra mim e disse.

- Me procure quando quiser começar a buscar respostas.

Então ela se afastou, voltou para a parte de trás do balcão, colocou os fones de ouvido e pegou um livro para ler, como se nada tivesse acontecido.
Olhei para ela por alguns segundos pensando em perguntar sobre que respostas ela se referia. Mas desisti. Eu agradeci mais uma vez a Senhora , e então saí do antiquário, rumo a casa da Antonella.

Caminho dos Sonhos- A Terra SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora